Colunista relembra sua visita ao Museu Nacional e lamenta a perda irreparável para a ciência, cultura e educação do país
Sei que o principal propósito do portal é disseminar a produção científica do Nordeste, mas é impossível calar-se diante da tragédia que atingiu o Museu Nacional no último domingo. Hoje peço licença ao público para desviar um pouco o tema da coluna. Não é apenas uma instituição importantíssima que o País perde, mas um dos principais acervos científicos e culturais da América Latina. Um patrimônio de 20 milhões de peças e dois séculos de história que as chamas apagaram em poucas horas.
Conheci o Museu Nacional em 2013, em durante um congresso no Rio, quando cursava o Mestrado em Divulgação Científica e Cultural na Universidade Estadual de Campinas (SP). Além de ter sido fundamental para o desenvolvimento da minha dissertação, tornou-se um dos meus roteiros preferidos no Rio, pelo fácil acesso, rico acervo, beleza do local, entre outros aspectos.
Em 2018, a instituição completou duzentos anos, mas sem grandes motivos para comemorar. O incêndio do último domingo era uma tragédia anunciada há muito por pesquisadores, como bem lembrou a matéria do Estadão publicada na última segunda.
Entre as peças que o museu abrigava estavam o meteorito de Bendegó, o crânio de Luzia, coleções de vasos gregos, múmias egípcias, entre outras de valor inestimável. Em uma atitude desesperada alguns pesquisadores invadiram o prédio em chamas, arrombaram portas de gabinetes tentando resgatar o que fosse possível, mas diante de anos de descaso e de falta de verbas do poder público, muito pouco se salvou.
De acordo com o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Roberto Bobadey, houve dificuldade para encontrar água em hidrantes da região, pois os dois mais próximos do local estavam sem carga e foi necessário utilizar água do lago da Quinta da Boa Vista, além de carros-pipa.
Não é a primeira vez que um museu brasileiro é atingido por um incêndio de grandes proporções: em 2015, o Museu da Língua Portuguesa (SP) foi tomado pelo fogo e ainda não foi reaberto para visitação. Em 2010, Instituto Butantan (SP) perdeu grande parte de uma coleção que havia sido iniciada 120 anos antes, com 85 mil exemplares de cobras – algumas ainda não haviam sido descritas pelos biólogos. Os três “incidentes” mostram o descaso com que a ciência é tratada em nosso País.
Vivemos um momento de tristeza e de indignação.
A coluna SCIARÁ de Giselle Soares é atualizada semanalmente. Leia, opine, compartilhe, curta. Use a hashtag #Sciará. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia).
Leia o texto anterior: Santo de casa faz milagre?
Giselle Soares é jornalista, graduada pela Universidade Federal do Ceará, com especialização em Jornalismo Científico pela mesma instituição e Mestrado em Divulgação Científica e Cultural pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp.
Giselle Soares
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