Professor Gláucio Brandão dá dicas para tornar as pessoas mais criativas e os empreendedores mais inventivos
Muitas vezes as pessoas me procuram e verbalizam que não são ou não serão empreendedores por não possuírem criatividade, ou por não saberem como transformar suas ideias em algo vivo, viável ou sustentável, ou por terem medo do ridículo ao se exporem, como se errar com metodologia consolidada fosse bonito. Bom, eu prefiro os acertos risíveis do que os erros intencionados! Continuando ainda nessa linha, a pergunta permanece e, claro, os erros de conceito: ter ideias, ser criativo não é sinônimo de ser empreendedor, embora as coisas se conectem profundamente. As mentes criativas podem ser não empreendedoras. Os grandes empreendedores, podem não ser criativos. Mas, se juntarmos as duas coisas, bum: ninguém segura. Quem pode contra uma mente criativa-empreendedora, aquela que engenha e ainda executa a la Tony Stark (vocês devem conhecê-lo pelo ultra-ego, Homem de Ferro)? Mas e se eu disser que podemos criar coisas novas o tempo todo, criar criatividade, trabalhar nossos próprios métodos, e que tudo isso pode ser aprendido? Não, não é papo furado, nem PNL (Programação Neurolinguística), nem conversa de coach: é metodologia para rompimento da inércia psicológica, ou simplesmente IP, aquela que nos mantém em trilhos, que mata nossa genialidade à medida que o trem avança na educação ultrapassada. Vamos então mostrar algumas ferramentas que descobri e utilizo nestes últimos 10 anos, procurando formas pragmáticas para estimular a criatividade e tornar os mortais comuns, como eu, pessoas que aparentam ter criatividade excepcional. Como assim professor, você vai nos revelar seu segredo de modo a tornar as pessoas mais criativas e os empreendedores mais inventivos de graça? Bom, se isso acontecesse, ficaria muito feliz, mas só vou demonstrar algumas dicas, há muito desenvolvidas por outros iluminados, de como quebrar nossa IP. O estrago deixo por conta de vocês.
Dica número um: Anomalia. Muito esclarecedor, professor (tom irônico, claro). Mas, o que tem isso a ver com empreendedorismo, inovação, criatividade, startup etc. etc. etc.? E eu diria, tudo! Vejam bem: qualquer sistema onde a inércia reina, tudo permanece igual, diria Isaac Newton. Sistemas onde existem imperfeições nos são mais interessantes, diriam os artistas. Vamos então a um experimento. Imaginem um lago parado, superfície perfeita; um espelho! Deu tempo né, e um pouquinho de monotonia? Imaginem agora essa mesma superfície com uma protuberância disforme boiando ao longe, parada ou em movimento. E então, descobriram o que é? Nem eu, mas garanto que nas mentes à borda do lago estariam pululando inúmeras conexões cognitivas, tentando responder o porquê daquela anomalia que não era pra estar ali! Pronto dei a dica de como criar coisas! Como assim, professor: você nos mostrou apenas a anomalia. Nossa resposta seria apenas uma reação! Observe: criei o lago perfeito. Depois criei a anomalia, e coloquei a mente de vocês para resolvê-la. Onde eu quero chegar? Nosso mindset está acostumado a reagir apenas para resolver broncas, o que eu chamarei aqui de pensamento reativo. E se eu começar a pensar em criar “as anomalias” em lagos perfeitos, agindo como um criador de perturbações, criador de problemas, em coisas que ainda nem foram criadas, ou foram e funcionam bem? Pois bem, chamarei isto de pensamento proativo. Estas duas formas de pensar podem favorecer a quebra de nossa IP, a qual pode nos levar a pensamentos não lineares, fontes de criatividade. Ou seja: comecemos a pensar em colocar nossos alunos em lagos perfeitos e conduzi-los a criar perturbações nos lagos, a sabotar o lago. Perceberemos que as respostas são consequências. O difícil é criar perguntas.
Dica número 2: Problemas Inventivos. Mas, e como resolver os problemas que se mostrarem impossíveis? Coisas do tipo: quero uma coisa que esquente esfrie e que suba e desça ao mesmo tempo; que tenha maior potência e menor peso, que seja mais forte e mais barata, que eu consiga aumentar a produção com uma menor mão de obra? Exemplos não nos faltam, mas está claro que são provenientes de ideias contraditórias, aquelas em que a solução levam à invenções, ou inovações. Para coisas assim descobri, há uns 10 anos atrás, uma ferramenta que aponta soluções: a TRIZ, Teoria para Resolução de Problemas inventivos. Os problemas inventivos são aqueles cuja resolução aponta para novidades. Excelente: tenho uma contradição – técnica, física ou administrativa – e possa resolvê-la utilizando a TRIZ, criando coisas novas. Certo. Mas de onde vem o estímulo à criatividade, professor? É aí que vem a ‘forçada’ na criatividade: desenvolvi uma técnica para levar os pupilos a entrarem em situações de contradição, de modo que a única forma de sair vivo desse labirinto é criando inovações. Bacana, né não? Mas uma vez, conseguimos quebrar a IP. Exemplo de exercícios aplicados em sala: crie uma forma de gerar em alta escala coisas personalizadas? Utilize o próprio problema para resolver a si mesmo? E para não deixar o leitor no limbo, dou aqui as respostas: a campanha da Coca-Cola com nomes próprios no rótulo e o princípio das vacinas, respectivamente! Vejam quantas startups pode-se criar assim!
Dica número 3: Conexão de Improváveis. Por último, se você ainda acha que a criatividade não pode ser criada (parece redundância), existe uma técnica simples, desenvolvida na década de 1960, capaz de esticar seus neurônios de modo a causar desconforto na IP: o Teste de Remotos Associados, ou RAT. O RAT baseia-se em, dado três substantivos quaisquer, solicitar a você que os conecte utilizando uma única palavra. Ao fazer isso, cria-se um quarto elemento que pode ser a chave para uma ideia, uma inovação. Exemplo: o que conecta as palavras azul-profundo-sal? A solução é óbvia. Mas o que conecta as palavras pato-dobrável-real? Ok, eu digo: a conta! Alguém vai pagar o pato que vem em forma de papel dobrado! Ou seja: quem acha que é difícil de inventar, pode correr o dedo em um dicionário, achar três palavras quaisquer e tentar ligá-las. Aumente a aventura: tente conectar quatro palavras ao acaso. Ou cinco!!! Sim mestre, e o que isso tem a ver com inovação, startups, vida etc.?. Respondo novamente: tudo! Exemplo: conecte Carro-GPS-Cartão de Crédito! Ouvi Uber? Novamente: conecte Quarto-Plataforma-Turismo! Duvido que alguém tenha pensado Airbnb! Pois bem, no mundo das startups, aquelas empresas que se caracterizam pelo alto grau de incerteza, inovação, baixo capital inicial, um pretenso crescimento exponencial e a vontade de resolver todos os problemas do mundo com um punhado de guris, e gurus, as questões também giram em torno da criatividade, de como criar coisas conexão à sociedade. Podemos partir via pensamento reativo, resolvendo as broncas que nos são mostradas, ou podemos agir como gênios, utilizando o pensamento proativo através das anomalias, dos problemas inventivos ou das associações altamente improváveis. Garanto que com o que foi mostrado aqui, os brainstormings de vocês ficarão mais divertidos. Deixo aqui meu conselho, inspirado em um comercial de TV antigo: existem 1001 maneiras de criar criatividade. Crie a sua!
Teoria para Resolução de Problemas inventivos – TRIZ
Teste de Remotos Associados (RAT)
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Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Gláucio Brandão
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