As possibilidades de um projeto eleitoral unificado parecem remotas, pelo menos em relação ao primeiro turno das eleições de outubro de 2018.
Em agosto de 2015, Guilherme Boulos publicou um artigo no Le Monde Diplomatique (ano 9, n. 97) intitulado “Uma frente para disputar as ruas”, no qual afirma que com o avanço das pautas conservadoras – nas instituições e nas ruas – e a crise do governo petista, unir forças tornou-se uma questão de sobrevivência para a esquerda brasileira. E se refere às diversas iniciativas de “frentes de esquerda”. Num artigo que publicou no jornal “Folha de S.Paulo” no dia 8 de abril de 2018, com Manuela D’Ávila, do PCdoB e ambos já pré-candidatos à presidência da República (ele pelo Psol) retoma a ideia de se construir uma unidade entre os partidos de esquerda “Como pré-candidatos à Presidência, temos clareza de que as diferenças programáticas para as eleições não impedem nossa unidade como reação ao momento sombrio atual”.
O fato é que pelo menos desde 2014 houve várias tentativas, dentro e fora do Congresso Nacional, de se formar Frentes de Esquerda. No dia 8 de outubro de 2015 foi formada a Frente Povo Sem Medo, com a presença entre outras organizações da UNE (União Nacional dos Estudantes), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), MLB (Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas), BP (Brigadas Populares), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), e os partidos, Psol, Partido Comunista Brasileiro e o Partido da Causa Operária. No dia 5 de setembro de 2015, num encontro em Belo Horizonte (MG), foi criada outra frente: a Frente Brasil Popular, com a presença da CUT (Central Única dos Trabalhadores), MST (Movimento dos Sem Terra), além de partidos, como o PT e PC do B.
A formação de duas frentes constituídas por partidos de esquerda, organizações da sociedade civil e sindicatos expressa suas divisões (embora alguns participem das duas). E embora juntas em alguns momentos, nas manifestações de ruas contra o impeachment de Dilma Rousseff, não tiveram força suficiente para barrar o golpe de agosto de 2016 e tampouco os retrocessos que se seguiram no Congresso Nacional.
As tentativas continuaram. No dia 20 de fevereiro de 2018, representantes de fundações ligadas a partidos políticos, a Lauro Campos (Psol), Leonel Brizola (PDT), Perseu Abramo (PT) e Maurício Grabois (PC do B) divulgaram um manifesto que, entre outros aspectos, faz uma “defesa da soberania nacional e do patrimônio do Brasil, contra as privatizações e concessões criminosas, em especial da Petrobras e da riqueza do pré-sal” e propõe um Projeto Nacional de Desenvolvimento “soberano, autônomo e próprio”. Um dos principais objetivos seria o de enfrentar a crise de representatividade política com uma efetiva reforma política democrática.
A iniciativa, louvável, era voltada para as eleições de outubro, com o objetivo de renovar o Congresso para que ele pudesse ser mais comprometido com o “resgate dos direitos perdidos nos últimos anos, além de impedirem ações que levem ao desmonte do Estado”.
Dentre as propostas, a construção de uma reforma tributária progressiva, retomada de políticas sociais para redução das desigualdades, inserção do país no mercado internacional, retomada da industrialização, combate às privatizações e às medidas de entrega do patrimônio nacional ao capital estrangeiro, a revogação da Emenda Constitucional que congelou os gastos públicos por 20 anos, as políticas de privatização já aprovadas e a reforma trabalhista.
No dia 3 de julho de 2018, mais uma tentativa: foi divulgado um manifesto de uma “Frente para o Parlamento compromissada com a reconstrução e o desenvolvimento do Brasil”, com o propósito de “iniciar uma discussão sobre um projeto comum de desenvolvimento nacional e poderia ser o caminho para um projeto eleitoral unificado”.
Poderia ser, mas as possibilidades de um projeto eleitoral unificado parecem remotas. Pelo menos em relação ao primeiro turno das eleições de outubro de 2018. A união do PT, Psol, PDT, PSB e PC do B nesta Frente não teve por objetivo formar uma coalizão para as eleições. Neste momento, tanto em relação às eleições presidenciais, como nos estados, os partidos estão divididos: Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’Ávila (PC do B) são pré-candidatos a presidente e embora Lula esteja preso, e provavelmente inelegível, o PT mantém a sua pré-candidatura e o PSB ainda não decidiu quem vai apoiar.
Se a esquerda não fechar uma chapa unificada para o primeiro turno, como tudo indica, especialmente nas eleições presidenciais, talvez não apenas seja possível como necessário que se unifique no segundo turno. Atualmente, não há consenso sequer dentro dos partidos em relação às alianças, tanto para presidente da República como nos estados, mas é preciso se unir, pois como disse Roberto Amaral “A unidade das forças de esquerda, não é, por si só, garantia de vitória ou de conquista do poder, mas é conditio sine qua non para nossa sobrevivência e avanço. Ou, no mínimo, para a resistência, que é a etapa atual da luta democrática (…) o outro lado do divisionismo será a consagração de um candidato de direita, o que significaria, não só a continuidade do regime de exceção, como seu aprofundamento, com as conseqüências que não precisam mais ser lembradas”.
Leia outro artigo sobre o mesmo tema: Frente de Esquerda e as lições de Portugal
Leia outro artigo do mesmo autor: Eleições de 2018 e o financiamento de campanha
Homero de Oliveira Costa é Professor Titular (Ciência Política) do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Homero de Oliveira Costa
Deixe um comentário