O solo representa a pele viva da Terra, já a desertificação é o melanoma que precisa ser extirpado
Esta semana, aos 17 do mês de junho, o mundo divulgou o Dia Mundial de Combate à Desertificação. Atualmente, a desertificação, juntamente com a mudança climática e a perda da biodiversidade são tidos como grandes gargalos ecológicos a serem superados, com vistas a garantir a sustentabilidade das gerações vindouras. Assim, com o intuito de combater a desertificação, e como desdobramento da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, em 1992, criou-se a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), da qual o Brasil é signatário, juntamente com outras 192 nações. Essa convenção de natureza multilateral e de abrangência global, cuja entrada em vigor ocorrera em 1995, é definida, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), como “um instrumento fundamental para erradicar a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável nas áreas rurais das terras secas”. De acordo com a UNCCD, a desertificação é definida como “a degradação do solo em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, como resultado de diversos fatores, incluindo variações climáticas e atividades humanas”
De acordo com os dados disponíveis no Portal do MMA, o Brasil possui, ao menos, 1.480 municípios susceptíveis ao processo de desertificação, os quais representam 27% do total e 16% de extensão do território brasileiro. Essa situação torna-se ainda mais alarmante haja vista que a população inserida nesse contexto de vulnerabilidade social representa quase 32 milhões de brasileiros, os quais por sua vez, concentram 85% da pobreza do país. O uso inadequado dos recursos florestais, em especial dos biomas Caatinga e Cerrado, o emprego de práticas agropecuárias e de manejo do solo de forma predatória e os desmatamentos são algumas das causas desse processo. Já o aspecto climático, como a severa estiagem que assola a região Nordeste nos últimos anos – uma das piores da história – tem potencializado esse processo.
A Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, e tão peculiar da região Nordeste sucumbe, a cada ano, diante das enormes áreas que são removidas da sua cobertura vegetal. Na região da bacia hidrográfica do açude Castanhão, por exemplo, a qual ocupa, praticamente, metade do território cearense, a supressão da vegetação ocorre devido à extração da mata nativa, que é convertida em lenha e carvão, e para fins de uso agropecuários. De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), as áreas degradadas e em processo de desertificação, representam 11,45% do território do Estado. Os municípios de Irauçuba, Madalena, Salitre e Tauá, por exemplo, são bons modelos desse processo nas terras cearenses. Ainda de acordo com a Funceme, o uso inadequado do solo tem contribuído sobremaneira para esse cenário desolador. Daí a importância de minimizar a erosão do solo, ao impedir não apenas a supressão da vegetação, como garantir a adoção de práticas adequadas de manejo e conservação. A prova disso é que a Funceme vem colhendo bons frutos por meio da implementação de um projeto piloto de recuperação de uma área degradada, a qual está localizada no município de Jaguaribe. Os resultados que estão sendo apresentados na II Conferência da Caatinga, que ocorre nessa semana, no Auditório Murilo Aguiar, na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, entre os dias 19 e 21, mostram que é possível recuperar áreas degradadas, fazendo voltar a crescer as espécies nativas que outrora ocupavam cadeira cativa na região.
Quem não tem na memória aquela imagem do chão seco, rachado e estéril, em especial, em épocas de estiagem severa? De maneira geral, essa é a etapa final do processo de desertificação. Em um solo desgastado, quase sem nutrientes, ou mesmo exaurido, as plantas não crescem. O solo não retém água. E aí acontece o inevitável: chão seco e estéril. Resumo da ópera: a desertificação não traz consigo exclusivamente a destruição de um ecossistema, mas também a escassez de água, fome, pobreza e muita vulnerabilidade social.
Certamente, é premente a necessidade de reduzir a quantidade de solos áridos e barrar a expansão dos desertos. Ou melhor, é um dos grandes desafios do nosso tempo. A ciência tem cumprido o seu papel, mas infelizmente não é o suficiente. É preciso vontade política. A UNCCD, por exemplo, nasceu desse tipo de vontade. Quem sabe unindo a ciência e a vontade política, não conseguiremos reverter tal processo. O progresso real e a batalha contra a pobreza se iniciam no campo. Ou para ser mais preciso, no solo. Enquanto esse progresso tarda em chegar, viva as festas juninas!
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Thiago Jucá
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