Pernambuco aposta na inovação inclusiva entre empresas e academia Políticas de C&T

quarta-feira, 14 outubro 2015

Para a secretária Lúcia Melo, empresas de diferentes portes têm diferentes necessidades de inovação, citando os polos industriais de laticínios, moda e confecções, gesso e uvas e vinhos, presentes na economia pernambucana.

Na continuação da matéria sobre as ações da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Sectec) de Pernambuco, a secretária Lúcia Carvalho Pinto de Melo fala da importância do estado oferecer condições de acesso à inovação a empresas de diferentes portes. Ela cita os polos industriais de laticínios, moda e confecções, gesso e uvas e vinhos, presentes na economia pernambucana. Para ler a primeira parte da entrevista, acesse aqui .

Nossa Ciência: Como é a ação do estado nesses setores?

Lúcia Melo: Com as universidades formando gente, bons engenheiros, outro laboratório que pode trabalhar em cooperação ou ainda ajudando o fornecedor, aquele que tem pouca tecnologia, que ainda não tem qualidade, mas do qual essa grande empresa demanda. Então, eu (estado) tenho que ter uma política que ajude esse fornecedor a atender essa grande empresa. E o que o governo está fazendo? Estamos trabalhando para que surjam empresas e queremos as empresas da faixa intermediária daí para cima, porque essas são empresas que geram mais valor. É nessa faixa que estão as empresas do Porto Digital, por exemplo. Na faixa mais baixa quem fomenta as empresas é a secretaria de Desenvolvimento Econômico, que faz com que tenha mais atividade produtiva. Já a Sectec vai fomentar para que elas tenham apoio tecnológico, para torna-las mais competitivas. Então, a política que a secretaria está desenhando engloba essas categorias, na base estamos chamando de inovação inclusiva, pegar a base da pirâmide as empresas mais simples, comunidades solidárias e envolver as universidades, os centros de pesquisa.

NC: O que é inovação inclusiva?

LM: Em parceria com a secretaria de Micro e Pequena Empresa, Trabalho e Qualificação estamos buscando chegar nesses produtores de baixa renda e colocá-los em contato com a pesquisa da universidade, levar o pesquisador para junto desse produtor e fazer que essa linguagem seja cada vez mais compartilhada. Não é uma tarefa fácil, muita gente já quis fazer isso, uns deram certo outros não, mas a gente acredita que essa é uma agenda positiva. Então, devemos lançar um edital em breve exatamente para, selecionando alguns tópicos, que já foram identificados, chamar a comunidade científica para se envolver com eles. Isso vai ser uma característica do nosso tipo de fomento, vamos trabalhar muito com a identificação e atendimento de demandas, não só no caso da baixa renda, a gente está trabalhando com todas as faixas da pirâmide produtiva olhando qual é a demanda e a partir disso induzir a comunidade científica e tecnológica pernambucana a se envolver com esses problemas. Se a gente conseguir fazer uma agenda que mobilize a comunidade local, com parceiras nacionais e internacionais, a gente terá criado condições de transformação. E isso vai andando pari passu com a agenda de ampliar as nossas competências, temos que continuar investindo no pesquisador, aquele que tem a ideia e está formando gente e por vezes não está interessado em se envolver com nada, mas que é importante. O ponto forte será fazer com que haja uma integração maior com os problemas que a gente tem que enfrentar.

NC: Quais os próximos passos?

LM: Estamos formulando uma política de ciência, tecnologia e inovação para o estado que, primeiro, amplie a base científica e tecnológica do estado como um todo – ainda somos pequenos, embora tenhamos crescido muito. Temos os melhores indicadores do nordeste na maioria dos casos, mas ainda somos insuficientes quando comparados ao restante do Brasil. Então, ampliar a base e criar mais competências é sempre uma agenda.

Aproximar a base, universidades e institutos, das empresas, com diversos instrumentos, mecanismos. E a gente vai criar algumas iniciativas que já vão atender a esses aspectos aqui de inovação. Por exemplo, para entrarmos e atuarmos nessa agenda de cima, precisamos ter engenharia de excelência. Então, estamos desenhando um programa de excelência na engenharia para Pernambuco. O que queremos é acoplar e garantir que a gente dê saltos expressivos na disponibilidade de engenheiros preparados para a nova manufatura.

As empresas da base produtiva precisam de maior envolvimento das universidades, dos pesquisadores na solução de seus problemas pontuais. Temos que dar suporte a essas empresas de baixa intensidade tecnológica, mas que são importantes. Queremos estabelecer mecanismos através dos centros tecnológicos orientados a dar apoio aos nossos produtores locais. Já temos investimento do BID para isso, vamos avançar e fazer com que isso ganhe robustez. Temos quatro setores selecionados: gesso, confecções, uva/vinhos e laticínios. Esses quatro vão ser objetos de transição, pois estão distribuídos em todo o estado, a gente quer atuar no estado como um todo, onde já há aglomerados produtivos e onde se pode criar coisas novas. Além disso, queremos fazer uma infraestrutura muito moderna de comunicação que viabilize internet banda larga para usos e aplicações estratégicas em ciência, tecnologia e inovação como um todo. Então, nós estamos fazendo a revisão da rede metropolitana, a interiorização da rede e de outras conectividades para o exterior para que possamos ter, de fato, condições, capilaridade e maior densidade de infraestrutura de telecomunicações e aplicações de internet e com isso dar um salto. Essas empresas precisam entrar no negócio eletrônico, business digital, e elas só vão entrar se tiverem capacitadas e com infraestrutura. A questão da infraestrutura, hoje, passa a ser também um problema que a secretaria quer atacar.

NC: Os centros tecnológicos para apoiar as empresas de gesso, uva/vinho, confecções e laticínios já existem?

LM: Existe o centro tecnológico de laticínios, por exemplo, em função de um programa que já existia aqui, ele tinha muito foco em capacitação, em recursos humanos etc, vamos dar um foco maior na questão da inovação. Esse centro fica em Garanhuns. Para o setor de moda e confecções temos em Caruaru, onde nós vamos trabalhar de forma integrada com o Armazém da Criatividade, que o Porto Digital está implantando lá. Gesso tem um centro já pronto em Araripina, muito bem estruturado, que agora precisa só ter uma dinâmica maior, uns laboratórios de serviços tecnológicos para atender as necessidades da indústria, daquela indústria mais tradicional. E na parte de uvas e vinhos é em Petrolina, não temos um centro construído, mas temos a articulação com algumas instituições que vão funcionar como se fosse um centro tecnológico, uma lógica um pouco diferente dos demais.

NC: O diálogo entre universidade-empresa é possível? Qual a estratégia da secretaria para isso?

LM: Na nossa agenda temos não só algumas ações de parques tecnológicos, que estão em curso, uma reformulação do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP) nessa direção, e em cada uma dessas agendas estamos trabalhando inicialmente grupos de trabalho que estão formatando ações envolvendo empresas, universidades e governo. Estamos utilizando essa tríplice hélice em todas as direções, pois é preciso ter isso mais próximo. Estamos trabalhando de uma forma muito articulada com as demais secretarias que envolvem as atividades econômica e social. A gente tem uma parceria muito intensa com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social, inclusive já há uma primeira proposta de um desenho, conjuntamente com a Federação das Indústrias (Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco), de uma política industrial e tecnológica para o estado, que está em discussão. Nossa agenda com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social também passa pelos novos investimentos, por exemplo, a discussão de atração de investimentos para Pernambuco, hoje, passa pelo componente tecnológico.

NC: Quais as metas da secretaria nesse cenário?

LM: A nossa ideia é que tenhamos ações que possam se propagar, como uma onda que se propaga, pelas diversas entidades. Por exemplo, estamos trabalhando muito perto da discussão da Fiat, da implantação do centro de pesquisa, da engenharia automotiva etc, mas a gente já visualiza o encadeamento da agenda da engenharia para outros segmentos que tenham uma relação próxima com o setor automotivo como engenharia da computação, metal, mecânica, setor aeronáutico, que aqui em Pernambuco ainda é muito incipiente. Temos uma pequena fábrica aqui em Recife e estamos olhando com bastante carinho. Tem uma agenda importante na área de fármacos que a gente está construindo, começando a estruturar uma possível Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) com o Ministério da Saúde e com alguns investidores privados, a partir de uma competência existente na universidade, no Instituto Nacional de Inovação Farmacêutica. Então, estamos trabalhando com alguns projetos de maior porte e a nossa meta é que isso de fato aconteça.

NC: Como vocês esperam viabilizar isso?

LM: Para isso temos a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (FACEPE), que tem um conjunto de instrumentos muito amplo, muito diversificado como quase todas as Fundações de Apoio à Pesquisa (FAPs), trabalhando também em parceria com a Finep e com o MCTI. Temos clareza que essa agenda tem que estar articulada com a agenda federal, os estados trabalham e continuarão trabalhando muito fortemente em parceria e para alavancar mais investimentos. No momento, com a crise financeira pela qual passam os estados, muito severa, isso evidentemente tem afetado nossa capacidade de planejar, porque o planejamento está sempre sendo confrontado com a realidade. Esse cenário de incerteza para a área de C&T é muito grave, pois não se pode atrair pesquisadores, criar centros novos sem ter certeza que esses projetos tenham um tempo de vida razoável. Então, nós estamos fazendo o que é possível. Há uma prioridade grande, por parte do governo, o governador preservou bastante a FACEPE, por exemplo, dos cortes que foram impostos por necessidade, mas ainda assim a gente teve que se ajustar ao momento e esse é um período que eu espero seja não muito longo.

NC: Como pretendem atravessar esse período de contingenciamento?

LM: Estamos aproveitando esse momento para revisar planos, para reconfigurar propostas esperando que daqui para frente, 2016 seja um ano com mais possibilidades de fato para botar algumas coisas na rua. Estamos lançando no meio desse contingenciamento um edital na área de inovação inclusiva, por exemplo, estamos procurando parceiros para a PDP na área de fármacos e medicamentos, estamos também procurando parceiros para infraestrutura de comunicação. Vamos buscar parcerias para poder viabilizar a nossa agenda e seguir em frente. 

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