Artigo de Ronaldo Angelini propõe que o fortalecimento das agências de fomento pode gerar mais resultados que a manutenção do Ministério
Algumas considerações sobre a extinção do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, que me permito fazer, na esperança que o movimento “volta MCTI” não vire um oba-a-oba apenas para dizer “fora Temer”.
1 – O governo brasileiro está inchado gastando mais do que arrecada;
2 – A extinção de ministérios é algo considerado necessário para diminuir o tamanho da máquina burocrática e reduzir o déficit do orçamento que é pago por todos nós e que se não for reduzido gerará inflação;
3 – O Governo Dilma extinguiu o Ministério da Pesca e Aquicultura e eu, e outros muitos cientistas da área da pesca, achamos que foi uma atitude correta, pois o MPA tinha quase 400 funcionários e não fazia o que ainda pleiteamos como nossa maior demanda: coletar dados de desembarque pesqueiro. A Secretaria da Pesca dentro do Ministério da Agricultura tem agora uns 40 funcionários e tenta se adequar às mudanças recentes. Certamente não consegue coletar ainda os dados que precisamos para apoiar cientificamente o manejo sustentável da pesca, mas ao menos não torra o dinheiro do contribuinte com apaniguados do governo;
4 – Em São Paulo, alguns chamam a Secretaria de C&T de “rainha da Inglaterra”, pois o que importa mesmo é a Fapesp, a melhor Fundação Estadual de Amparo à Pesquisa do Brasil e talvez da América Latina, que consegue resistir aos mais variados políticos e governadores;
Disto isto, vale refletir:
Não seria melhor:
1 – Fortalecer Capes e CNPq (independente do Ministério)?
2 – Colocar a antiga estrutura inchada do MCTI, de maneira otimizada, dentro do Ministério da Indústria, tentando forçar de uma vez por todas, a conexão entre Ciência e Indústria (empresas) para fortalecer a participação dos empresários na Ciência, algo raríssimo no Brasil de hoje?
3 – Novamente pleitear aos diversos governos estaduais para que façam a lição de casa e repassem recursos a suas Fundações de Apoio a Pesquisa? Me digam, por exemplo, quantos editais a Fapern lançou nos últimos 2 anos. No Rio de Janeiro os professores da UERJ estão tendo dificuldade de receberem os salários!
Sinceramente a volta de um Ministério não quer dizer nada…Vejam o exemplo do MinC: existiu durante os governos FHC e do PT e nosso patrimônio público histórico está à míngua (estive ano passado em Ouro Preto e tudo parece jogado às traças), nossos poucos museus são verdadeiros depósitos de antiguidades apodrecendo. Pra que MinC?
Desta forma, só a volta do Ministério (sem orçamento) não adianta nada. Os meandros burocráticos são confusos, mas talvez seja mais fácil o fortalecimento de um CNPq e uma Capes sem a existência do MCTI (este é um experimento a se tentar).
Ainda é preciso considerar:
a) A definição que Einstein dá para a loucura é algo como repetir continuamente os mesmos procedimentos e métodos, esperando obter resultados diferentes. Voltar o MCTI é mais do mesmo. Não voltar, é tentar algo novo. Quem sabe dá certo?
b) Quanto a pedir um cientista à frente do ministério tenho lembrar: depende do cientista.
Uma vez o Brasil colocou na presidência, um professor que também é cientista consagrado em sua área de conhecimento. O nome deste docente universitário é Fernando Henrique Cardoso. Particularmente, gostei do mandato dele, salvou a gente da inflação, por exemplo, mas parece que os outros professores universitários não concordam com esta opinião. Desta forma, novamente: vai pôr um cientista no MCTI? Depende do cientista.
Por exemplo, durante o governo Dilma, Aloísio Mercadante foi ministro da Educação (e acho que do MCTI também). É sabido como ele doutorou-se: quando cogitado para o Ministério, correu na UNICAMP, matriculou-se novamente num doutorado que tinha iniciado há 10 anos, montou uma banca amiga (Delfim, Maria da Conceição, etc..) e saiu de lá com o título. Que belo exemplo pra pós graduação brasileira, né não? Mercadante é doutor, tem diploma de cientista, mas acho que prefiro aquele último ministro de C&T da Dilma que é dono de restaurante, pois me parece um exemplo mais digno para os alunos.
Esclarecendo: não sou dono da verdade, mas gosto de fazer as pessoas refletirem um pouco mais, além das manjadas palavras de ordem.
Ronaldo Angelini é professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), coordenador do curso de graduação em Engenharia Ambiental.
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