Fórum em Natal aborda aspectos positivos do uso da cannabis
Sabe-se que há mais de 5 mil anos populações fazem uso medicinal ou recreativo da maconha (Cannabis sativa). Nos últimos 70 anos, porém, a planta tem sido demonizada, chegando inclusive a ter sua erradicação como meta da Organização das Nações Unidas, em 1961.
Reunido em Natal (RN) no sábado (26), o Fórum Maconha, Sociedade e Saúde discutiu maneiras de atuação para a regulamentação do uso da Cannabis e de seus derivados. As pesquisas sobre o uso medicinal foi o principal tema das discussões da manhã, quando Nossa Ciência esteve no Fórum.
Segurança
Todos os palestrantes apontaram a segurança da utilização da maconha pelo fato da substância ser completamente não tóxica. “Nunca houve relato de overdose por uso de maconha no mundo e esse é o único caso, todas as outras substâncias têm dose letal”, afirmou Joost Heeroma, diretor do GH Medical, da Holanda.
A instituição holandesa tem catalogados mais de 40 mil usos medicinais da planta em todo o mundo e é uma espécie de banco de sementes coletadas em diversas partes do planeta. Apresentando resultados de pesquisas desenvolvidas no seu instituto, Heeroma demonstrou a atuação bioquímica da maconha no corpo humano em diferentes formas de utilização. Ele apontou a inalação, comumente através do cigarro, a ingestão oral e pela pele, através de pomada ou creme.
O neurocientista Sidarta Ribeiro, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ressaltou a antiga convivência humana com a planta. Ele afirmou que a má fama da maconha decorre da demonização sofrida por ela nos últimos 70 anos. Em sua opinião, as indústrias do algodão, do nylon e do tabaco têm interesse na erradicação da maconha porque essa planta foi bastante utilizada para os fins atendidos por essas indústrias.
O pesquisador comparou os níveis de dependência provocados por várias substâncias muito consumidas na atualidade. Enquanto o tabaco (cigarros comuns) causa dependência em 30% dos usuários e o álcool (bebidas) em 15%, a cannabis causa dependência em 9%.
O médico e pesquisador do Ministério da Saúde, Paulo Fleury Teixeira afirmou que a maconha, na condição de fitoterápico pode tratar doenças como epilepsia, autismo, doenças neurodegenerativas em geral como Parkinson, possivelmente Alzheimer; doenças autoimunes e inflamatórias crônicas, que atingem o sistema nervoso e muscular, como fibromialgia, esclerose múltipla e dor neuropática ou neuropatia progressiva.
Ele defendeu a segurança do uso e afirmou que a maconha será sempre de domínio popular e que as mães têm ensinado aos médicos que a erva pode sim ser usada com bons resultados para essas doenças. Ouça a entrevista do pesquisador.
Psiquiátrico
O filho de Maria da Penha tem problemas psiquiátricos e o marido dela tem artrose. Os dois faziam uso da maconha e há dez meses foram presos sob acusação de formação de quadrilha. Enquanto o pai está no presídio de Alcaçuz, o filho está na cadeia Pública de Natal, distantes 20 quilômetros um do outro. Durante o Fórum, Maria fez um emocionante depoimento falando de sua situação. Ouça a entrevista.
Mônica Costa
Deixe um comentário