A coluna Ciência Nordestina aborda o tema patente em três eixos: o conceito, o inventor e mercado
E a via crucis da patente chega na mais tensa das etapas: o mercado. A ideia que surgiu em laboratório e que sagazmente fugiu da publicação na revista de bom fator de impacto conseguiu ser adaptada às necessidades do planeta e precisa ser implementada em larga escala, para beneficiar as pessoas. No entanto, os laboratórios são as pessoas e seu jalecos, as bolsas e os prazos, bancada e seus reagentes. Não são, nem de perto, a linha de produção de uma fábrica. Para que um produto atraia o interesse do mercado ele precisa ter custo acessível, ter uma linha de produção factível e dar lucros a quem o produzir.
E pesquisador não tem dinheiro. Ele precisa dialogar com os empresários para que essa verdadeira odisseia chegue a um final feliz. E neste momento é que ele enfrenta o enorme vazio que separa a academia do mercado.
Ainda em 2010, desenvolvi no laboratório uma película que elevava o tempo de prateleira de uvas. Imaginei que estivesse próximo a um produto. Tentei contato com os empresários do ramo e o que consegui foram algumas horas em uma câmara fria de uma fazenda. Como eu poderia testar o produto com 100 caixas de uva? De onde vinha recurso para comprar tanto reagente? E o produto morreu ali. Percebi que entre o protótipo e o produto (pesquisador e empresário) deve existir um intermediário importantíssimo: o setor de pesquisa & desenvolvimento das empresas.
Sem este setor, é inviável fazer a conversão da ideia para o lucro que esta ideia irá gerar. As escalas de tempo entre pesquisador e empresário precisam ser ajustadas assim como o preconceito mútuo. O cientista não vive estirando língua a todo momento e nem tão pouco discute o sexo dos anjos com as paredes. Da mesma forma, os empresários precisam entender que se as soluções estivessem prontas, os bolsistas e pesquisadores criariam as suas próprias start ups que concorreriam pelo mercado com eles.
As Universidades são celeiros de ideias. E isso é muito mais importante do que a mão de obra gratuita dos estágios. A Universidade tem soluções, que muitas vezes seguem pela internet para outros países (nos artigos) quando poderiam estar gerando empregos ali na esquina.
A aproximação entre o empresariado e a universidade precisa acontecer na condição de respeito mútuo. Não há soluções para amanhã, assim como nem toda solução precisa ser comprada. Algumas podem esperar décadas (a teoria de Einstein que hoje está embarcada no GPS).
E o começo dessa aproximação se dá com os mestrados profissionais, com os workshops entre universidade e empresa, com o diálogo permanente sobre problemas reais, imediatos e de médio prazo. Se a possibilidade de levar uma solução para um problema de pouco interesse do mercado for menos efetiva, que os projetos de pesquisa possam ser construídos conjuntamente. E neste diálogo as diferenças podem ser aparadas, reduzidas.
Esta é uma das poucas formas de viabilizar o fechamento do ciclo do produto, evitando com que a patente seja mais uma linha no curriculum Lattes. Pelo diálogo constante entre pesquisador e empresário há de se estabelecer uma linha consensual que fortaleça a geração de divisas em compasso com a geração de conhecimento.
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Leia o texto anterior: Patente – parte II: o inventor
Helinando Oliveira
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