Na discussão do tema patente em três eixos, a coluna destaca hoje o inventor e seu papel na sociedade
Os estudantes são (desde a iniciação científica) fortemente induzidos a internalizar as métricas, qualis, fatores de impacto e a importância da produção científica para a vida acadêmica. Desde os primeiros anos eles já estão devidamente apresentados aos baremas dos processos seletivos para a iniciação científica. E muitos passam a entender que fazer ciência é publicar. No entanto, o conceito de produzir conhecimento segue para além das métricas produtivistas. O fruto desejado para uma iniciação científica é a apropriação do método científico e o entendimento dos problemas universais. Deste aprendizado surge o convencimento sobre a capacidade de mudança que cada um tem em si. E os inventores surgem, de fato, na iniciação científica. Se o processo for bem conduzido na graduação, os jovens entenderão que a conjunção de conhecimentos distintos é crucial para a concepção de um produto/ processo. E é importante que esta observação se dê antes da especialização. Um inventor especialista/ generalista vê mais longe do que um ultra-especialista.
O problema deste último é que ele geralmente não arrisca para além do conforto de sua formação, tendendo a permanecer no cômodo mecanismo da publicação acadêmica: submete, rebate, publica. E assim segue.
No entanto, os grandes desafios à disposição no planeta estão fora das caixinhas que inventamos. Eles não são da física, química ou matemática. Os desafios são desafios. Apenas isto!
O inventor precisa superar a disciplinaridade modulada que foi implantada em seu cérebro para entender que os problemas reais requerem inteligência, criatividade e inspiração. E em ciência, ao menos lá, criatividade não rima com comodidade. A zona de conforto não é criativa!
O inventor precisa estabelecer um elo claro entre a ciência de laboratório e o objetivo final, a correlação entre conceitos e aplicações. A importância de cada dissertação de mestrado e tese de doutorado no avançar em direção ao problema “macro”, ou seja, o processo ou o produto.
Entender a contribuição de cada passo e cada orientação é fundamental para o ato de fazer inovação tecnológica. E deste ponto compreender que a invenção pode resultar apenas em um pequeno passo na melhoria de um processo, e que isso empurra a fronteira de conhecimento par além daquele ponto.
Outro ponto crítico refere-se à humildade necessária para aceitar que os problemas no mundo real são muito simplificados em escala de laboratório. E que a solução para estes problemas pode vir de pessoas que não estudaram. Sim, existem ótimos inventores que não precisaram orientar ninguém e nem tão pouco ter doutorado para desenvolver sua capacidade criativa. Eles cursavam a Universidade da Vida, que oferece oportunidade de estágio desde o primeiro dia de atuação. Por isso, seus egressos são em sua essência os mais experientes.
Eis que surge neste ponto a primeira barreira a ser superada: a interação do inventor com a sociedade, as dificuldades da ergonomia, dos ensaios com o produto em condições reais de uso, daquilo que poucos conseguem atribuir ao verdadeiro conceito de engenharia do produto.
E é neste momento em que o cientista inventor se sente completamente nu e fora dos domínios do laboratório. Ele precisa testar o seu produto e oferecer ao todo poderoso e temido cidadão do mundo: o mercado.
Este é o tema da matéria da próxima semana, a última parte desta via crucis, a etapa que corresponde à chegada da ideia ao todo poderoso mercado, lugar onde cifras valem muito mais que conceitos e conhecimento.
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Leia o texto anterior: Patente – parte I: o conceito
Helinando Oliveira
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