Pesquisadores do nordeste trabalham no combate ao Aedes Aegypti Saúde

terça-feira, 31 maio 2016

Bioinseticida e sistema de monitoramento de focos do mosquito são exemplos que vem do Ceará e de Campina Grande

A população brasileira vive uma verdadeira guerra contra o mosquito Aedes Aegypti que transmite a dengue, o vírus zika e a febre de chikungunya. A cada instante cresce o número de pessoas infectadas em todo o país. Em 2015, dados do Ministério da Saúde indicavam que o Nordeste ficou em segundo lugar entre as regiões com mais registros, com 311.519 casos.

Pensando em ajudar no combate ao mosquito Aedes aegypti, a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Selma Elaine Mazzetto, responsável pelo Laboratório de Produtos e Tecnologia em Processos, em parceria com o professor Diego Lomonaco, está desenvolvendo um novo produto a partir do Líquido da Casca da Castanha de Caju (LCC) e sementes de Olho de Pavão (Adenanthera pavonina). A pesquisa contou com o apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). “Dentre os diversos resultados obtidos neste estudo, conseguimos um novo larvicida a partir da combinação inédita de dois componentes da biomassa cearense, que poderá futuramente ser apresentado ao público como mais uma arma no controle da proliferação do mosquito Aedes aegypti”, afirma Selma Mazzetto.

A professora conta que a pesquisa foi iniciada em 2008, quando o professor Lomonaco era um aluno de mestrado que começou a avaliar o potencial biológico do LCC, seus constituintes, e de alguns derivados sintéticos. “Os resultados que ele obteve foram bastante promissores e a partir de então temos dedicado uma linha de pesquisa específica em nosso laboratório voltada para o estudo de novas moléculas que possam apresentar atividade larvicida e/ou inseticida, sintetizadas a partir de matérias primas renováveis, como é o caso do LCC”, explica.

As classes de compostos químicos presentes no LCC já são conhecidas na literatura científica por apresentarem diferentes atividades biológicas. Segundo a pesquisadora, diante da preocupação das autoridades e face ao aumento do número de casos de dengue relatados surgiu a ideia de testar o larvicida no mosquito Aedes Aegipty. “Como nosso grupo já possui um vasto histórico de trabalhos científicos com o LCC e seus constituintes, nos perguntamos se, conhecendo as características químicas do LCC, poderíamos de algum modo contribuir para a resolução do problema através do uso de uma matéria prima local”, conta Mazzetto.

Bioinseticida

Por ser um bioinseticida, esse novo produto se torna uma alternativa de combate, podendo ser candidato às medidas de controle pela baixa toxicidade aos mamíferos e sem impacto ambiental. “Estamos continuamente realizando diferentes testes para conhecer cada vez mais e melhor outras propriedades dos materiais sintetizados. Até o momento, felizmente, temos observado que se trata de um produto de toxicidade irrelevante para o ser humano, o que já era esperado, se tratando de um produto completamente natural e utilizado em baixíssima concentração”, relata a pesquisadora.

Para obter esse novo produto, a equipe extraiu o endosperma de sementes leguminosas da espécie Adenanthera pavonina e o Líquido da Casca de Castanha de Caju (LCC) e seus principais constituintes, o cardanol e o cardol, para a produção de um material encapsulante de polissacarídeos naturais denominados de Galoctomananas. Todos os elementos foram submetidos a processos químicos até chegarem ao ponto de encapsulamento.

Os testes foram executados com larvas de 3º estágio de ovos de Aedes Aegypti, realizados em triplicata e leitura de mortalidade após 24, 48 e 72 horas e foi utilizado o componente químico de larvicidas pyriproxyfen na formulação granulada, onde foi constatada uma mortalidade superior a 90% das larvas. Por questões de biossegurança, todos os ensaios são realizados em laboratórios. “O Núcleo de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará é nosso parceiro desde os primeiros passos deste projeto e lá são realizados todos os ensaios, com acompanhamento de profissionais na área”, informa a professora Mazzetto.

Longe do mercado

O projeto teve suas informações patenteadas recentemente e encontra-se em fase de novos experimentos para aprimorar as condições de produção em grande escala. Devido aos bons resultados, a equipe também está buscando ampliar a variedade de matérias-primas utilizadas no produto, assim como estudar novas técnicas de geração das microesferas, para que desta forma possam tornar esse produto cada vez mais inovador.

“Apesar de todos os produtos resultantes deste projeto terem sido completamente protegidos, ou seja, patenteados, encontramos uma grande distância entre a Universidade e as Empresas, o que acaba por dificultar a transformação da ciência em um produto tecnologicamente tangível”, lamenta a pesquisadora.

Monitoramento de focos

Na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) uma equipe de pesquisadores desenvolveu o sistema DeuZikaChico. O sistema faz uso de tecnologias de geoprocessamento, plataformas móveis, crowdsourcing, redes sociais e pode ser usado pela comunidade para denunciar a localização dos focos do mosquitos, cadastrar as visitas dos agentes de saúde em suas residências e, assim, contribuir para a ação dos agentes públicos.

O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Sistemas de Informação da Unidade Acadêmica de Sistemas e Computação da UFCG, contando com a coordenação do professor Cláudio de Souza Baptista e dos alunos de graduação, mestrado e doutorado – Maxwell Guimarães de Oliveira, André Luiz Firmino Alves, Daniel Farias Batista Leite, Júlio Henrique Rocha, Luiz Henrique de Andrade, Brunna de Sousa Pereira Amorim e José Nathaniel Lacerda de Abrante.

A pesquisa DeuZikaChico: o poder da AGI no monitoramento e combate de epidemias como a de Dengue, Zika e Chikungunya foi apresentada no Simpósio Brasileiro de Sistemas de Informação 2016, realizado de 17 a 20 de maio em Florianópolis, Santa Catarina, e ficou entre os seis melhores artigos apresentados no evento.

 O sistema pode ser visualizado em: deuzikachico.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Site desenvolvido pela Interativa Digital