Secretária de CT&I de Pernambuco elabora projetos de olho no amanhã Políticas de C&T

terça-feira, 13 outubro 2015

Lúcia Melo revela os planos do estado para o setor e aposta na inovação. Acompanhe a primeira parte da matéria

Fazer com que Pernambuco seja um estado ainda mais inovador está nos planos da secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação (Sectec), Lúcia Carvalho Pinto de Melo. Ela é graduada em Engenharia Química, tem mestrado em Física pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e tem outro mestrado em Energia e Meio Ambiente pela Universidade da Califórnia – Santa Bárbara, além do curso de pós-graduação no Technology and Policy Program do Massachusetts Institute of Technology (TPP/MIT). O currículo da secretária ainda inclui a atuação como presidente do Fórum Nacional de Secretários Estaduais de C&T e uma passagem pela presidência do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE).

Em seu gabinete, no Recife, Lúcia Melo, falou ao Nossa Ciência como pretende atravessar o período de contingenciamento pelo qual o país passa e se mostrou determinada a trabalhar em todas as direções para que o estado dê um salto de qualidade no desenvolvimento científico, tecnológico e na inovação. Para ler a segunda parte da entrevista, acesse aqui .

Nossa Ciência: Quais são seus principais projetos para a CT&I de Pernambuco?

Lúcia Melo: Vou explicar como estou trabalhando: primeiro esta secretaria passou a se chamar Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. Até o ano passado era somente C&T, mas quando ela inclui a inovação, você tem outro conjunto de atividades e atribuições que têm que estar associadas a isso, e por quê? O que é a inovação? Inovação é você assegurar que as empresas, as atividades produtivas tenham condições de uma maior geração de renda através do conhecimento.

NC: Como pretende impulsionar a inovação no estado?

LM: A gente tem que fomentar, desenvolver e fortalecer algo chamado sistema estadual de inovação. E o que é esse sistema? É um conjunto de instituições como universidades, centros de pesquisa, empresas, o marco regulatório, as leis, e mais a cultura para inovação, para o mercado. Precisamos aproximar do mercado a universidade, os institutos e os centros de pesquisa. E para promover o desenvolvimento, fazer com que o sistema de C&T opere, é preciso olhar o conjunto das instituições e como elas operam.

“Não tem inovação se tiver só a empresa, não tem inovação se tiver só a universidade.”

NC: Como esse sistema funciona?

LM: Quando a gente vai formular políticas, temos que olhar várias coisas: as atribuições, as organizações, olhar os componentes desse sistema que são os indivíduos, os grupos, as organizações. Temos que considerar o território, para ver como você olha essas organizações, esses indivíduos. Depois você tem que ver esses componentes e suas relações, ou seja, como você pode promover troca de informações, influenciar agenda, formar mercado. Como você considera o espaço socioeconômico, os padrões de comportamento, a infraestrutura, tudo isso são componentes de um sistema. E você só tem um sistema de relação se você tiver esses componentes interagindo. Não tem inovação se você tiver só a empresa, não tem inovação se você tiver só a universidade. Existe uma diferença entre invenção e inovação: invenção está na ideia, na concepção, na pesquisa. Agora, para virar inovação tem que ir para o mercado ou o mercado econômico das empresas ou o mercado de governo, uma aplicação, uma coisa nova que vá ser usada no sistema de saúde, por exemplo. Então, não precisa ser necessariamente um bem comercial, mas um bem que o estado disponibilize para a sociedade. Tem que ter alguém que vá usar e que pague por esse bem. Essa é a essência da inovação.

NC: E o que é necessário para que esse produto inovador chegue ao mercado?

LM: Para isso acontecer você precisa ter pessoas qualificadas, laboratórios, infraestrutura de comunicação, tem que ter regras para favorecer todo o sistema, ter uma cultura que favoreça isso. Então, quando você promove a relação entre universidade e empresa, tem que ter regras que permitam isso. A Lei de Inovação é uma delas, que permite que o pesquisador possa se beneficiar de uma patente que ele gerou, permite que o pesquisador possa cooperar com a empresa, sem ser considerado que ele está burlando o serviço público. Você tem que ter investidores que acreditem nas ideias, o investidor é aquela pessoa que tem dinheiro e quer botar numa ideia que vai dar mais dinheiro para ele, como nas startups.

NC: Qual seu plano para atrair investimentos para esse sistema inovador?

LM: Cada local (estado) tem sua estrutura produtiva. São Paulo tem grandes empresas, multinacionais sediadas lá, uma grande parcela delas tem atividades de pesquisa e desenvolvimento, tem setores tradicionais. A base paulista é nessa direção, o maior número de empresas com maior intensidade tecnológica está em São Paulo, Minas, Rio de Janeiro. Quando você vai para outros locais, essa base começa a ser diferente. Como é a estrutura produtiva desse local? É preciso olhar isso para se ter uma agenda de inovação, não existe uma regra geral. Medidas isoladas não funcionam, botar dinheiro nas empresas ou só nas universidades, isso não funciona. Antigamente se acreditava que colocar dinheiro nas universidades, que os pesquisadores iam ter boas ideias, que o mercado iria comprar e daí se geraria um monte de inovação. Ficou claro que não funciona. Você tem um bocado de gente tendo ideias, você tem um mercado articulado com isso, para que as boas ideias possam ir para o mercado e o mercado puxar das universidades as suas ideias. Então, o mercado e a comunidade científica e tecnológica tem que interagir muito se não isso não acontece. Uma das coisas que vamos trabalhar muito é promover esse tipo de interação. Ainda assim é diferente para cada setor econômico.

NC: Qual a vocação produtiva de Pernambuco?

LM: Não acredito nessa tese de vocação, algumas vocações existem outras são criadas. Se Pernambuco fosse repetir sua vocação eterna não teríamos Suape, não teríamos colocado uma refinaria de petróleo, uma empresa automotiva. O que você tem são as especificidades do local, você pode até valorizar aquela especificidade, por exemplo, o bioma é bem local, então você pode valorizar o bioma, criar conhecimento em cima disso que só você vai ter, e terá uma vantagem comparativa em relação a isso. Mas, a priori você não pode se limitar só a isso. Essa é minha visão. Tem gente que acha que temos que nos preocupar só com a caatinga e o semiárido, eu discordo. Temos que nos preocupar sim com a caatinga e o semiárido para trazer o melhor conhecimento que existe, para ter instalado aqui esse conhecimento para poder aproveitar a caatinga. Para aproveitar a caatinga é preciso muita ciência para conhecer, é muita biologia molecular, muita informação que não está disponível em outros lugares que não tem esse bioma. Então, isso sim é uma característica que você tem que valorizar, mas não só isso. Você vai ter uma agenda de pesquisa do nordeste que inclui o semiárido, mas não é só ele. Você tem toda a costa do nordeste que tem outras vocações, eu digo isso há 30 anos, isso também exige conhecimento, também exige que você tenha centros de pesquisa aqui, que tenha gente qualificada de todas as áreas.

“Levar o pesquisador para junto do produtor e fazer que essa linguagem seja cada vez mais compartilhada”

NC: E como é a estrutura produtiva do estado para a inovação?

LM: Temos aqui uma base muito grande que é da pequena e micro empresa. Inovação para eles é uma coisa mais simples, é uma inovação bem incremental, é ele ter uma orientação para melhorar um processo produtivo simples, para ter um layout melhor de um fábrica, para ele reciclar alguma coisa com simplicidade. Essas empresas empregam gente de baixa qualificação em geral, tem muita gente que é dona do próprio negócio, são negócios pequenos. Você tem outra faixa que é a intermediária, é o setor de economia tradicional, que engloba o setor de confecções, de gesso, produtos sem grande sofisticação tecnológica na sua produção, mas que tem demandas envolvendo alta capacidade de conhecimento. Esse é um tipo de atividade na qual o foco da inovação é diferente da anterior, porque no primeiro eu vou fazer uma extensão tecnológica, colocar um técnico/tecnólogo par visitar as empresas para saber qual é o problema. Nessa outra (faixa intermediária), eu já vou ter que colocar um centro de tecnologia para ajudar a dar uma certificação, por exemplo, para competir com o mercado internacional. Então, a demanda tecnológica é diferente, logo a política de inovação tem que ser diferente.

Em outra faixa encontramos a nova economia de Pernambuco, são setores recentes, como as refinarias de petróleo e gás, e a indústria automotiva. Qual a agenda de inovação para esses setores? Depende, pois esse pessoal se alimenta de inovação lá fora, no exterior. A fonte de conhecimento desse pessoal não está aqui em Recife. Mas, quando a Fiat instala seu centro de pesquisas aqui, ela começa a mudar esse jogo. Ao instalar sua fábrica, que é algo de complexidade tecnológica maior, sofisticação de alta tecnologia, e ao colocar um centro de pesquisa aqui, então passamos a participar mais desse negócio.

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