Pesquisadores de Antropologia e Comunicação da UFRN produzem documentário sobre a formação histórica da capital potiguar
Resgatar a história da cidade por meio da história de vida de seus moradores é a proposta do projeto Narrativas, Memórias e Itinerários. Formado por alunos, professores e pesquisadores de Antropologia Visual e de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o grupo produz documentários que contam a história de anônimos que contribuem na formação histórica de Natal.
A proposta surgiu em 2008 no Departamento de Comunicação Social da UFRN e em 2012 foi ampliada, com a participação do Núcleo de Antropologia Visual (NAVIS) da Universidade. “Nessa união houve trocas entre a Antropologia Visual e a Comunicação Social”, explica Maria Angela Pavan, professora do Departamento de Comunicação da UFRN e coordenadora do projeto.
Angela Pavan esclarece que a história oral e história de vida tem abrangência interdisciplinar, ou seja, é uma técnica que pode ser usada nas diversas áreas das Ciências Sociais. “Pode ser usada na construção de perfis, biografias e documentários e, em outros produtos da comunicação social, permite escapar aos apelos da objetividade assertiva tão frequentes nos livros didáticos sobre técnicas de entrevistas”, afirma.
Pavan relembra que desde 2008 o grupo começou a buscar histórias que estavam esquecidas e com urgência de serem ouvidas. “Quando uma pessoa conta sua história reconstrói sua memória, e percebe o sentido da história de um lugar. Nossa existência somada a história de todos compõem uma história coletiva. Este trabalho deveria ser feito em todos os lugares deste mundo, como estamos na UFRN e em Natal o que buscamos é um aprendizado diário, que nos qualifique para a tarefa de ensinar e ouvir em um mundo apressado que privilegia o silêncio das histórias de vida”, enfatiza.
No futuro, a equipe do projeto pretende criar um Museu Laboratório Estúdio de História da Vida de Natal, para dar continuidade aos trabalhos, que está desenvolvendo na cidade.
No Mato das Mangabas
Um dos trabalhos produzido pelo grupo foi o documentário No Mato das Mangabas, que conta a história dos coletores de mangaba que moram na Vila de Ponta Negra, em Natal.
A ideia de contar a história das coletoras de mangaba surgiu no ano de 2010, quando a documentarista Ana Ferreira participou de um projeto sobre a Vila de Ponta Negra. O radiodocumentário Vozes da Vila foi um dos 40 ganhadores do I Concurso de Fomento à Produção de Programas Radiofônicos / Prêmio Roquette-Pinto, sendo o único projeto selecionado do Rio Grande do Norte.
A documentarista Ana Ferreira, mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia diz que o filme mostra uma história de pessoas que colaboram com a construção do lugar onde vivem. “Os coletores de mangaba não têm voz na grande imprensa, então nós resolvemos registrar a história deles, para que esse legado não se perca”.
Durante a produção do vídeo, Ana conviveu de perto com o grupo e participou, inclusive, da coleta das frutas. Para a documentarista, os coletores de mangaba da Vila de Ponta Negra são heróis anônimos do cotidiano. “A história de um povo se dá no cotidiano e é um ato heroico o que eles fazem. É uma tradição que está se perdendo”, ressalta.
A coordenadora Angela Pavan explica a introdução da câmera no campo e o que ela provocou fez com que fosse percebido para além da coleta, uma prática tradicional sustentável, há um exercício da comunhão de todos os trabalhadores: “Eles tinham uma ligação forte com a tradição recebida de suas avós e mães”.
Outro ponto destacado pela coordenadora são as mudanças ambientais na capital potiguar. “Quem assiste ao documentário percebe que todas as coletoras de frutas nos oferecem uma aula de uma Natal que já não existe mais. Elas dizem que não há mais mangabas para serem coletadas, e que se preocupam com este fato”, enfatiza.
A mudança a que as coletoras se referem está ligada, principalmente, à especulação imobiliária na capital potiguar. Segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, o número de apartamentos construídos em Natal praticamente dobrou entre os anos de 2000 e 2010. Hoje as árvores deram lugar a construções.
Deixe um comentário