Programa de enfrentamento à tristeza na UFRN promove ações de pesquisa e extensão na busca por melhor eficácia na prevenção do tratamento contra a depressão
Tristeza constante, falta de estímulo para realizar atividades que mais lhe dão prazer, perda ou excesso de sono, concentração reduzida e desesperança são sensações compartilhadas atualmente por mais de 300 milhões de pessoas no mundo que lidam com uma doença, bastante falada, mas pouco compreendida: a depressão.
Motivado pela necessidade de tornar mais nítida a biologia dessa doença e aumentar a eficácia dos seus métodos de tratamento, o Programa de Pós Graduação em Psicobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) começou a desenvolver pesquisa com estudantes universitários com a criação do Programa de enfrentamento à tristeza.
O Programa é uma ação de pesquisa e extensão e conta com a contribuição de pesquisadores da UFRN das áreas de psiquiatria, psicologia, bioquímica e fisiologia. A proposta é formar grupos de voluntários com depressão, colher dados relativos aos seus marcadores biológicos, aplicar tratamentos diferentes para grupos distintos, e traçar um comparativo de eficácia entre eles.
“Nós estamos fazendo a seleção de pacientes com depressão leve e moderada, ou seja, que foram recentemente diagnosticadas e ainda não foram submetidos a nenhum tipo de tratamento. Quando nós iniciamos a divulgação do programa, em menos de três dias, tivemos mais de 200 pessoas entrando em contato conosco”, destaca Nicole Leite Galvão Coelho, bióloga e professora vinculada ao Departamento de Fisiologia da UFRN.
Com esses voluntários é realizada primeiramente uma triagem, para saber se eles podem participar de todos os processos da pesquisa. Quem tiver disponibilidade, é conduzido para uma consulta com a psiquiatra. Aqueles que forem diagnosticados com depressão são convidados para participar do programa.
O Programa
O primeiro procedimento a que os voluntários são submetidos é o teste memória, realizado com o acompanhamento do eletroencefalograma, aparelho utilizado para identificar as ondas cerebrais. Depois, a polissonografia, procedimento que vai captar a atividade elétrica do cérebro enquanto o voluntário dorme. Esses processos são feitos no Centro de Biociências da UFRN. O voluntário chega às oito horas da noite e dorme no local, para que sejam monitorados aproximadamente seis horas de sono.
“Quando o voluntário acorda, é feita uma coleta de saliva e sangue, para fazer análise de outros marcadores bioquímicos como colesterol, glicemia e fatores de crescimento neuronal. Realizamos toda essa análise cognitiva, de sono, e uma análise bioquímica antes da intervenção do tratamento”, explica Nicole Galvão.
O Programa trabalha com dois tipos de tratamento: a Terapia cognitivo-comportamental em grupo e os antidepressivos. Após a triagem e as indicações da psiquiatra, os voluntários serão divididos em dois grupos: os que serão tratados com a terapia e aqueles que serão tratados apenas com um antidepressivo.
Durante o ano, serão estudadas três demandas de grupos. A primeira tem início no dia 17 de abril e as demais durante o segundo semestre de 2018. Os tratamentos, com terapia e com o fármaco, serão conduzidos durante 16 semanas, tempo recomendado pela Sociedade Brasileira de Psicologia, para se ter uma resposta efetiva.
O objetivo da pesquisa, segundo a professora Nicole Galvão, é entender como esses tratamentos interferem nos níveis biológicos, psicológicos e emocionais, e traçar um comparativo sobre em que medida eles são efetivos.
“Tentamos entender o que está desestruturado na biologia da depressão, por isso a gente faz toda essa análise basal para comparar os métodos e outros dados de pessoas que possuem níveis de depressão mais severa. Podemos fazer essa comparação pois temos em torno de 40 análises de pacientes de outras pesquisas”, relata Nicole Galvão.
A Depressão
Quem tem depressão apresenta disfunção dos níveis de cortisol, hormônio que coordena toda a resposta ao estresse e, na medida em que ele está alterado, o funcionamento de diversos sistemas do corpo, como o sistema imunológico, é afetado.
“A depressão hoje é uma doença propriamente dita: ela tem fatores de risco e mecanismos fisiopatológicos. Ainda estamos estudando como a doença se desenvolve no organismo, mas sabemos que tem dados biológicos bem fundamentados sobre alterações no eixo corticoadrenal”, explica Ana Cecília Lopes de Lima, psiquiatra responsável pela triagem dos voluntários.
Além do cortisol, as monoaminas, que são neurotransmissores que participam de toda a atividade responsável pelas emoções, também estão desequilibradas. Os antidepressivos atuam nelas, restaurando os níveis de seus neurotransmissores: serotonina, dopamina e noradrenalina.
O desafio atual da psiquiatria é identificar biomarcadores de moléculas que vão auxiliar no diagnóstico e no acompanhamento do tratamento. Por exemplo, se o paciente está melhorando apenas nos sintomas, ou se também as alterações biológicas estão sendo corrigidas. São justamente esses dados que serão levantados pela pesquisa.
“É muito interessante ter essa pesquisa, porque podemos ter respostas mais efetivas sobre se a terapia cognitiva comportamental em grupo é tão eficaz nesses pacientes quanto o tratamento medicamentoso, e servir de modelo para que outras universidade desenvolvam outros estudos nesse modelo”, ressalta Ana Cecília Lopes de Lima.
Prevenção e combate
A solidão é uma das condições que pode levar uma pessoa ao estado depressivo, isso significa que as relações sociais possuem um papel fundamental no combate à depressão. Exercer a empatia é uma das formas de prevenção e combate à doença. Na medida em que uma pessoa se preocupa em adotar hábitos no dia a dia prezando pela qualidade da sua saúde mental, é essencial que ela propague esse estilo de vida para as pessoas com que ela convive.
A psiquiatra Ana Cecília Lopes de Lima explica que as pessoas não costumam dar atenção suficiente para as suas necessidades psíquicas e que a informação ajuda a quebrar esse estigma: “A pessoa que possui pouca relação social sofre um risco muito maior. Do mesmo jeito que a gente estuda anatomia e desde criança precisamos criar o hábito de discutir questões relativas à saúde mental. É necessário um movimento global de todos os níveis para diminuir esse efeitos deletérios que a depressão está causando”, pontua.
Os estudantes da UFRN, que se identificam com algum aspecto da depressão e desejam participar do programa, devem demonstrar interesse por meio do endereço eletrônico: enfrentamentoatristeza@gmail.com
Fonte: Agecom UFRN
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