A água que está no planeta é a mesma que viu os dinossauros serem exterminados. Esta mesma água que jogamos nos esgotos retorna de alguma forma até nossa geladeira
O crescimento da população mundial e a escassez de combustíveis fósseis tem levado a ciência a investigar novas estratégias de geração de energia por fontes renováveis, como forma de evitar um colapso que se aproxima rapidamente. No entanto, bem antes de não termos energia nas tomadas estaremos doentes por outra razão óbvia: a água que bebemos está sendo contaminada por resíduos de esgoto. Com o crescimento da população e da atividade industrial, tem sido cada vez mais intenso o descarte de resíduos em mananciais, a água que todos consumimos. E os garrafões de água mineral passam a vir carregados não apenas de H2O mas também de metais pesados, hormônios sintéticos e materiais orgânicos altamente nocivos. Com a contaminação de mananciais, passa a ser cada vez mais comum o uso do esgoto tratado como fonte de água. Neste caso, o tratamento convencional contra bactérias será apenas uma etapa de um processo complexo cujo objetivo é tornar a água livre de todos os contaminantes modernos que a indústria criou.
A solução que antecede o uso do esgoto tratado como fonte de água ainda se refere ao monitoramento de descartes de resíduos na natureza. Se quisermos preservar o que há de água ainda não contaminada precisaremos ter normas rígidas para controle de esgotos.
E normas de controle exigem sistemas de monitoramento eficientes. Considerando que a água é muito mais importante que o petróleo, precisaremos levar os olhos da ciência para o desenvolvimento de tecnologias que monitorem aquilo que se jogamos pelo ralo todos os dias.
Sistemas de monitoramento de microrganismos, hormônios e metais pesados interligados à internet das coisas precisam ser desenvolvidos e integrados à arquitetura de casas e industrias, permitindo com que se tenha de forma “on-line” e em um portal de “transparência” biológica onde estão e o que estão fazendo as principais fontes de contaminação de nossas águas.
Da mesma forma que há regulamentação para as bandeiras verde, amarela e vermelha em nossas contas de luz, será necessário impor bandeiras equivalentes àqueles que contaminam as águas. E esta tarefa de regulamentação cabe aos políticos.
Aos cientistas cabe desenvolver sistemas eficientes de detecção de contaminantes. No Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos da Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco) foi desenvolvido um sistema de detecção de contaminantes da água. Com elementos filtrantes específicos à base de nanoteias de material orgânico (polímeros), usamos materiais que adsorvem metais pesados, bactérias e demais contaminantes orgânicos. Desta forma, tudo o que se faz necessário é fazer a água circular no interior de um tubo com cartuchos de filtros. Os contaminantes são seletivamente adsorvidos em seu cartucho específico, que informa da presença do material na água. No último mês de fevereiro foi realizado o primeiro teste nas águas do Rio São Francisco.
O desafio seguinte é identificar a quantidade de material contaminante, permitindo com que este acessório possa chegar até nossas casas. Desta forma, poderemos monitorar a água que jogamos fora.
Como sabemos, a água que está no planeta é a mesma que viu os dinossauros serem exterminados. Esta mesma água que jogamos nos esgotos retorna de alguma forma até nossa geladeira. Que não seja ela a causa do extermínio de nossa espécie.
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Helinando Oliveira
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