A observação e a contemplação da natureza sempre trarão questionamentos inquietantes, alguns ainda não respondidos pelo método científico
Quem já teve a oportunidade de estar em pleno sertão nordestino – seja ele o cearense, o potiguar ou ainda o paraibano, a título de exemplo – numa imensa escuridão e sob um céu limpo e incrivelmente estrelado, ao olhar para cima, mesmo que por alguns instantes, certamente deve ter feito questionamentos acerca dos seres de outros planetas, habitantes das galáxias distantes ou até mesmo de outros universos. A partir daí surgem questionamentos. Estaríamos sozinhos? Onde estariam eles? Onde eles poderiam se esconder?
Para alguns, talvez essas questões sejam recentes e remetam apenas aos últimos 150 anos. Mas para outros é preciso voltar mais, quem sabe 10 mil anos ou muito além disso. Recentes ou não, muitas dessas questões eram vistas exclusivamente sob a perspectiva dos mitos, das tradições e dos dogmas, isso até o surgimento do método científico. O certo mesmo é que a observação e a contemplação da natureza sempre trarão questionamentos inquietantes independente do sucesso logrado pelo método científico em respondê-las ou não. Daí muitas dessas questões permanecerem em voga e sem perspectivas de respostas.
A exobiologia lançou-se há algumas décadas nessa empreitada de investigação científica sobre a vida extraterrestre. Porém, a estratégia tida como a mais promissora até hoje – a detecção de ondas de rádio feita por seres inteligentes – não teve sucesso ainda. De acordo com um editorial, de 1996, da revista britânica Nature, o grande biólogo evolucionista Ernst Mayr advertiu físicos e astrônomos por sua ingenuidade biológica, argumentando que a probabilidade de existir inteligência e uma cultura portadora de rádio em um planeta parecido com a Terra é pequeníssima. Além disso, não teríamos nem como estimar de maneira robusta essa probabilidade, a priori. Talvez alguns físicos e astrônomos tenham retrucado o poderoso argumento de Ernst Mayr, alegando que os radiotelescópios tenham varrido apenas uma parte insignificante do espaço e que, frente à imensidão cósmica, essa probabilidade não seria tão pequena assim. Isso sem falar que essas buscas ainda são muito incipientes ao se considerar a escala do tempo. Apesar da controvérsia, uma coisa é certa: essa é uma empreitada que beneficia a pesquisa científica.
Mais recentemente os jornais El País e DW Brasil noticiaram como destaque que o esqueleto de aparência esquisita encontrado no deserto do Atacama em 2003, não era de um possível extraterrestre, mas de fato humano. Só que, para chegar a essa conclusão, os autores do estudo utilizaram-se de estratégias que nada tinham a ver com radiotelescópios e muito menos com a captação de qualquer tipo de sinal. O estudo publicado semana passada na revista Genome Research revelou que os autores lançaram mão de uma série de estratégias como a radiografia do esqueleto, tomografia computadorizada (TC) e sequenciamento completo do genoma para chegar a essa conclusão. O estudo revelou ainda que o esqueleto pertencia, na verdade, a uma menina que teve várias mutações genéticas, as quais foram possivelmente responsáveis pelas deformações nos ossos, o que incluía o crânio. Tais mutações genéticas poderiam explicar ainda os fenômenos relacionados ao nanismo e ao envelhecimento precoce, dado que o desenvolvimento ósseo da menina era equivalente ao de uma criança entre seis e oito anos, mas com comprimento de apenas 15 cm. Ou seja, muito inferior ao esperado para uma criança com aquela faixa etária.
Pelo visto não foi dessa vez que um espécime com aparência extravagante veio de outro planeta. Interessante que no livro O Mundo Assombrado pelos Demônios, Carl Sagan faz o seguinte questionamento: “Por que seres com um conhecimento tão avançado de física e engenharia – que cruzam imensas distâncias interestelares e passam como fantasmas pelas paredes – seriam tão atrasados em questões de biologia?”. Fica a dica para a próxima vez que acharmos criaturas que suscitem essa dúvida. Talvez a conclusão desse estudo tenha frustrado a muitos. E talvez seja até essa a razão – a de lidar com a frustação – pela qual a ficção científica acerca desse assunto fora tão explorada no século passado. Hollywood produziu clássicos que até hoje são considerados enormes sucessos de bilheteria. Quem não se lembra do filme E.T – O Extraterrestre (1982), ou A Guerra dos Mundos (2005), ambos dirigidos por Steven Spielberg; ou ainda do sucesso estrondoso do filme Independence Day (1996).
Mas nem só de filmes alimenta-se a imaginação sobre a vida inteligente em outros lugares. Carl Sagan produziu, dentre tantas outras coisas, uma obra de ficção científica memorável: o livro Contato. Nesse best-seller mundial, a Dra. Arroway lidera um projeto no maior centro de radiotelescópios do mundo, o Argus. Depois de captar um sinal formado por números primos e originado de uma estrela chamada Vega, inicia-se um projeto de cooperação global para a construção de uma máquina para viajar no tempo. Só lendo para conhecer o resto da história! Recentemente, o Portal Nossa Ciência noticiou que no município de Aguiar, localizado a cerca de 300 km de Campina Grande (PB), será construído e instalado o Radiotelescópio Bingo. O equipamento – fruto de uma cooperação internacional com universidades brasileiras – faz lembrar que a história de ficção contada por Sagan mais parece com uma história real, na qual a arte imita a realidade. Falta apenas o radiotelescópio do sertão paraibano captar um sinal de uma estrela distante.
Ainda na década de 60, o astrônomo Frank Drake propôs uma equação que ficou conhecida como a “equação Drake”. Nela, Drake determina quais os fatores necessários para que uma civilização extraterrestre com tecnologia desenvolvida possa existir. Ou seja, aquela equação quantifica a dificuldade de encontrar vida inteligente como a nossa. Realmente não deve ser fácil encontrar civilizações tecnológicas em outras galáxias como a nossa cujos seres ditos inteligentes espumam ódio pela boca ao defender o indefensável, ao agredir quem pensa diferente, ou ainda defendem intervenções estapafúrdias como a de 2018 ou a de 1964. Todas essas pessoas me fazem lembrar, cantar e parafrasear a música S.O.S, do memorável Raul Seixas: “Oh! Oh! Seu moço! Do Disco Voador / Me leve com você / Pra onde você for / Oh! Oh! Seu moço! / Mas não me deixe aqui / Enquanto eu sei que tem….tanto maluco por aí”. Quanto à estrela do Raul? Essa deve estar brilhando em algum lugar longínquo nos limites do Sistema Solar.
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Leia o texto anterior: Os ventos da Serra de Santana, do mesmo autor
Thiago Jucá
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