Em 15 anos, dobrou o número de famílias chefiadas por mulheres Geral

terça-feira, 27 março 2018
Foto: Google imagens

Pesquisa da ENS com dados do PNAD aponta que apesar de chefiarem muitas famílias, as mulheres ainda são responsáveis pela administração doméstica

Entre 2001 e 2015, o número de famílias brasileiras chefiadas por mulheres mais que dobrou em termos absolutos, passando de 14,1 milhões para 28,9 milhões (27,4% para 40,5%), um aumento de 105%. Os dados fazem parte do estudo “Mulheres chefes de família no Brasil: avanços e desafios”, coordenado pela Escola Nacional de Seguros.

Conduzido pelos demógrafos Suzana Cavenaghi e José Eustáquio Diniz Alves, o trabalho foi desenvolvido a partir do cruzamento de informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2001-2015), do IBGE. O levantamento revela uma mudança no perfil de comando dos casais com e sem filhos. Há 17 anos, apenas 4% das mulheres estavam à frente desses núcleos familiares, enquanto hoje elas representam 22,5% do total.

A pesquisa aponta que a expansão do comando das mulheres é mais acentuada nas famílias de núcleo duplo (casais com e sem filhos). Ao longo de 15 anos, o número de mulheres chefes passou de 1 milhão para 6,8 milhões, nos casais com filhos, um aumento de 551%.

Entre os casais sem filhos, o percentual de crescimento foi ainda maior: de 339 mil famílias para 3,1 milhões, uma expansão de 822%. “Se essas tendências continuarem, provavelmente em 15 anos as mulheres serão maioria como chefes de família. As estatísticas demonstram que o futuro será feminino”

A pesquisa aponta que os percentuais de chefia feminina tendem a crescer conforme se elevam os níveis de escolaridade e a participação da mulher no mercado de trabalho. E mais: mesmo nos lares em que elas têm renda mais baixa e dedicam muitas horas aos afazeres domésticos, o percentual de chefes mulheres também aumenta.

“O crescimento da chefia feminina não se deve apenas aos fatores clássicos de empoderamento, como educação e emprego, mas também ao maior envolvimento com as responsabilidades domésticas. Embora ainda persistam resquícios da antiga família patriarcal brasileira, a dominação masculina absoluta não é mais a regra. O Brasil passa por um consistente processo de despatriarcalização”, explica José Eustáquio.

Sobrecarga

Ele ressalta, no entanto, que a participação das mulheres no comando das famílias pode muitas vezes prejudicar o desenvolvimento profissional das mesmas, que ficam sobrecarregadas com as tarefas domésticas e demandas dos filhos. “Houve uma revolução incompleta. As mulheres entraram para o mercado de trabalho e para a vida pública, porém os homens não entraram para a vida doméstica na mesma proporção”.

Para a diretora de Ensino Técnico da Escola Nacional de Seguros, Maria Helena Monteiro, o aumento da chefia feminina é uma tendência irreversível. “As mulheres estão ganhando espaço em todos os cenários, independente de região, faixa etária ou classe social”. Ela ressalta que o trabalho doméstico não é quantificado e não é contabilizado pelo PIB, mas o tempo dispensado nessas tarefas seria equivalente a milhões na economia do País. “É uma economia oculta. Se as mulheres estivessem menos ocupadas com o trabalho doméstico e mais dedicadas a questões produtivas, o impacto na economia seria muito positivo”.

Jornada dupla

Para Maria Helena há uma revolução em curso que afeta vários aspectos da vida familiar, mas ainda falta muito para essa revolução se completar. “As mulheres vivem em média sete anos a mais do que os homens, ultrapassaram os homens em todos os níveis educacionais, aumentaram a sua participação no mercado de trabalho, reduziram as diferenças salariais e são maioria entre os eleitores, os beneficiários da Previdência e dos programas de assistência social”, afirma a executiva.

Ela destaca, no entanto, que há uma enorme disparidade na divisão do tempo dedicado aos afazeres domésticos e aos cuidados com filhos e idosos. “A mulher ainda carrega a maior parte da responsabilidade nesses aspectos, o que gera uma inegável sobrecarga e limita, em muitos casos, a ascensão profissional. É preciso ampliar esse debate na sociedade”, afirma Maria Helena.

O estudo completo está disponível no site da ENS.

Fonte: Ascom Escola Nacional de Seguros

 

 

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