Pesquisa investiga tráfico de escravos para o Maranhão Geral

sexta-feira, 23 março 2018
Imagem da tela de Johann Moritz Rugendas, de 1830

Conduzida por professor da Universidade Estadual do Maranhão, pesquisa procura vestígios sobre a vida dos escravazados e dos seus proprietários

Durante o período de quatro séculos, estima-se que 11 milhões de homens e mulheres tenham sido levados da África para serem escravizados em plantações no continente americano, entre os séculos XVI e XIX, e mais de 600 navios negreiros naufragaram nas travessias entre a África e a América. O Brasil recebeu cerca de 4,8 milhões de africanos, um contingente superior à população de estados como Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Piauí.

Como parte do projeto transnacional, intitulado Slave Wrecks Project, a pesquisa do professor do Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Reinaldo dos Santos  Júnior, lotado no Centro de Estudos Superiores de Caxias, vai consultar o Arquivo Público e o Tribunal de Justiça do Maranhão, sobre a importação de escravos africanos nos idos de 1794.

Reinaldo e os alunos bolsistas pretendem visitar também comarcas maranhenses, para reunir os inventários que constam escravos da região de Caxias e Aldeias Altas, visando localizar esse grupo de pessoas, se eram moçambicanos ou não, e onde poderiam estar situados, considerando a possibilidade de localizar, nos dias de hoje, alguma comunidade descendente desses moçambicanos.

Naufrágio

Foto: Slave Wrecks Project

Conforme explica o professor ao site da UEMA, em novembro de 2009, foi descoberto na costa sul africana, restos do navio São José Paquete de África, naufragado em 1794, com uma grande carga de africanos escravizados que, em sua documentação náutica, identificava como ponto de destino a capitania do Maranhão, norte da América Portuguesa. “Aqui temos a contrapartida brasileira de tentar compreender o percurso do São José, os proprietários da embarcação nas duas regiões (Moçambique e circunvizinhanças e a capitania maranhense), bem como entender parte do processo diaspórico como um todo e a formulação de identidades africanas ou, minimamente, perceber e destacar os locais de vivência e seu impacto econômico e social para a região”, declara.

Nesse trabalho, o pesquisador pretende compreender melhor a realidade sobre a migração forçada de escravos da África para as Américas, especificamente de Moçambique para o Maranhão, por meio do navio São José, que naquela viagem, trazia uma carga com uma população entre 400 e 500 homens e mulheres escravizados.

“Na verdade, em minha pesquisa devo coletar, primeiramente, documentos que estão no Arquivo Público e no Tribunal de Justiça do Maranhão. Esses documentos me darão respaldo sobre a vida escrava dessas pessoas, quem eram seus proprietários, o sexo deles, se casados ou não, suas idades, e quais seus ramos de trabalho. Isto nos ajudará a localizar os escravos moçambicanos em nosso estado”, aponta o professor Reinaldo.

Instituições

As alunas Thalita Costa Souza, Esmeralda Lima, Mayra Silva e Brenda Araújo Ramalho participam do projeto. Foto: Ascom UEMA

O professor revela, ainda, que sua pesquisa tem uma importância muito grande porque demonstra um dos principais movimentos migratórios que aconteceram naquela época no mundo, no que se refere ao tráfico de escravos.

Estão envolvidos nos estudos, além da Universidade Estadual do Maranhão, o Museums of South Africa (IZIKO), The George Washington University, The South African Heritage Resources Agency (SAHRA), e o serviço de Parques dos Estados Unidos. Posteriormente, adicionou-se como um importante parceiro o The Smithsonian Institution’s National Museum of African American History and Culture.

Sobre o projeto

Segundo o projeto Slave Wrecks Project, cada vez mais os destroços de escravos, como outros restos de navios naufragados, estão sujeitos a vários tipos de ameaças urgentes. Estes incluem empresas de caça ao tesouro altamente sofisticadas, atividades de salvamento menos sistemáticas, mas não menos destrutivas, por mergulhadores esportivos e desenvolvimento costeiro.

A argumentação propõe que em vez de permitir que os restos culturais únicos do comércio global de escravos sejam saqueados para o ganho privado de alguns indivíduos, este projeto auxilia no desenvolvimento de programas e capacidade institucional que protegerá os locais culturais submersos do projeto e seus ambientes naturais da destruição humana e para benefício público.

Nas últimas décadas em áreas com recursos histórico-culturais igualmente importantes (como nas costas do Mediterrâneo e da Flórida), milhares de naufrágios foram destruídos, resultando na perda trágica de informações arqueológicas, da história humana e do potencial econômico baseado no turismo ligado a esses recursos culturais. A pilhagem de recursos culturais submersos para o lucro privado traz pouco ou nenhum benefício econômico para as populações locais – um quadro muito diferente daquele que se desenvolve como resultado do turismo baseado no uso e preservação de recursos sustentáveis. O que é necessário, acima de tudo, é uma alternativa sustentável aos impactos do turismo comercial não regulamentado ou salvamento comercial.

Redação, com informações da Ascom UEMA

Uma resposta para “Pesquisa investiga tráfico de escravos para o Maranhão”

  1. Antonio Agenor Briquet de Lemos disse:

    Por favor, se encontrar informação sobre feitorias de escravos, na região de Codó e Caxias, cujos proprietários tivessem o sobrenome LEMOS, fico desde já agradecido se me avisar. Consta que Joaquim de Lemos e Rosa Angélica de Lemos, portugueses, teriam sido perseguidos pelos balaios e perdido as fazendas Boa Esperança e Tabuleiro. Interessam-me documentos que confirmem essa história. Qualquer pista será bem-vinda.

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