O professor Helinando Oliveira propõe que os grandes físicos triturem as pedras da complexidade da Física e mostrem que o pó delas brilha
Nos idos de 2006, em uma das turmas de Física 1, pedi aos estudantes no final do semestre que escrevessem sobre gravitação. Fugindo da tradicional maçã que (nunca) caiu na cabeça de Newton, um estudante escreveu algo do tipo: E o universo é como uma bola de soprar, toda pintada com estrelas dentro. Enquanto alguém estiver soprando, ela continuará inflando e as estrelas se distanciando.
Chamei-o para conversar e dialogamos longamente sobre “O Universo numa casca de noz”. Aliás, o primeiro presente que recebi de minha esposa foi “Uma breve história no tempo” também de Hawking.
O sentimento que tenho hoje é meio parecido com o que um professor dissera num colóquio, no exato dia em que morrera George Harrison dos Beatles: “É como um irmão mais velho que você não conheceu, mas sabe tudo sobre ele”.
Sim, Stephen Hawking foi como um irmão mais velho, que em seus livros tornava a física mais simples, para não assustar seus irmãos mais novos.
E como grande divulgador científico fazia as pessoas acreditarem que também poderiam fazer ciência. É aquele empurrãozinho que faz toda diferença: “vai lá, você consegue!”.
A física é feita de integrais e conceitos complicados… Os grandes físicos trituram as pedras e mostram que o pó delas brilha.
E Hawking fez este brilho chegar aos olhos do grande público. Embora a vida não tenha lhe dado um segundo de folga. Aos 21 anos de idade foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, o que lhe deu uma expectativa de vida de três anos.
Em 1970 parou de andar e em 1985 parou de falar… E mesmo assim, em 1988 escreveu “Uma Breve História do Tempo”. Já estava a se comunicar com voz eletrônica, pois o único movimento que lhe restara era o da bochecha direita. E o seu livro vendeu 5,5 milhões de exemplares. A seu favor, o prefácio de Carl Sagan e toda a física da origem do universo, os buracos negros e teoria das cordas descritos com apenas uma equação: E=mc2.
A estratégia de Hawking foi espetacular: mostrar o cheiro da ciência antes do sabor. Imagino quantos jovens decidiram seguir a física a partir das obras deste grande ícone da divulgação científica. Eu, por exemplo, estou no meio destes.
E o jovem que viveria até os 24 anos chegou aos 76, mostrando que as dificuldades da vida foram feitas para serem superadas. Ou como ele mesmo dizia: “Inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança”.
Siga em paz, grande Hawking. Você agora se junta a Sagan, Einstein e Feynman. São estrelas que fazem uma falta tremenda neste pequeno ponto azul na vastidão do espaço.
A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag CiênciaNordestina.
Leia aqui o texto anterior: Síria
Que legal esse post. Ganharam mais um fã!