O cientista precisa ser o mais curioso dos trabalhadores de uma democracia pensante, que faz do seu ofício uma busca contínua por mais igualdade social e dignidade para um povo
Segundo o dicionário, elite é uma minoria que detém o prestígio e o domínio sobre um grupo social.
Para o momento atual, parece claro que a elite brasileira é tomada primariamente pelo grupo que conduz o neoliberalismo e secundariamente por aqueles que controlam a mídia.
Esta última, o agente executor, é peça fundamental para o controle da opinião pública e para a execução de planos que garantam hegemonia para a elite controladora.
Mesmo em um cenário deste tipo, ainda ouvimos pelos corredores de laboratórios que os cientistas são a elite pensante do país. E as pessoas persistem neste discurso mesmo que os últimos acontecimentos globais provem o contrário. O aquecimento global, os cortes de recursos, o fracionamento de vacinas… Somos uma minoria sem controle algum sobre qualquer que seja o grupo social. Não somos, definitivamente, uma elite.
E esta observação tem uma interpretação positiva: se fossemos uma delas, estaríamos lutando por elitizar a produção do conhecimento. A recente interiorização da ciência brasileira veio permitir com que essa (ainda) minoria que gera conhecimento cresça e preencha os vazios deste imenso território. Buscar soluções para os problemas é missão da ciência brasileira e de todo e qualquer brasileiro consciente de seu papel. A ciência não pode ser fruto de uma elite, assim como os pensantes não podem ser uma minoria.
Cada um de nós (cientistas) precisa exercitar a ciência como uma ferramenta de libertação para o pensar coletivo, por parte de uma população que democraticamente busca soluções e discute seus rumos. O cientista precisa ser o mais curioso dos trabalhadores de uma democracia pensante, que faz do seu ofício uma busca contínua por mais igualdade social e dignidade para um povo.
E quanto mais cientistas, mais soluções. Não precisamos de dominadores, mas sim de mais trabalhadores que pelejam por soluções.
E a única forma de evitar com que este pensamento seja uma utopia é garantir que a educação seja uma bandeira forte e vigorosa para este país.
A força do voto ainda é a maior garantia de que há esperança para desconstruir as elites. Um povo sem educação e sem ciência é facilmente dominado. Um povo sem conhecimento vai aos zoológicos matar macacos, quando na verdade deveria lutar junto aos seus governantes por mais vacinas contra a febre amarela. Uma nação de conhecimento não esqueceria do desastre do mar de lama em Mariana.
Os grandes castelos das elites precisam ser destruídos. E isso começa pelo começo: sem políticos profissionais, sem oligarquias. Sobrenome não é marca de perfume, portanto não precisamos de grifes nos congressos. Precisamos de novas cabeças, gente que faça a diferença e que saiba que está sendo monitorada.
E a ciência, longe de ser feita por elites. Ciência com cheiro do povo, demandada pelo povo, que entra e sai da Universidade. Universidade que sai dos seus muros e vem para rua. Que vem para ver o que é a vida real, fora dos livros e dos modelos. Doutores que sentam no banco da praça para se alimentar de realidade, conversando com quem nunca teve a oportunidade de fazer uma graduação. Sem dominador nem dominado, seremos um só povo quando entendermos que somos um só Brasil.
A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag CiênciaNordestina.
Leia aqui o texto anterior: Partido dos cientistas?
Helinando Oliveira
Deixe um comentário