Ser cientista – Parte 1 Ciência Nordestina

terça-feira, 16 janeiro 2018

Na coluna Ciência Nordestina de hoje, Helinando Oliveira critica a imagem ainda estereotipada dos cientistas e ressalta a necessidade de estimular jovens e crianças para garantir a próxima geração de pesquisadores

Certa vez, meu filho me questionou sobre o que era necessário para ser cientista. Resolvi transformar em texto uma parte de nossa conversa, pois diferentemente de “ser jogador” ou “ser cantor”, o “ser cientista” ainda é algo extremamente estereotipado e assustador para nossa sociedade.  Ofereço estes textos às próximas gerações de cientistas, salvação do Brasil.

A aptidão de cada um pode aflorar bem cedo e nesta mesma medida pode ser inibida e apagada, se mal trabalhada. Para cada inquietação há um mundo de possibilidades ou traumas. Delas surgem grandes poetas, psicólogos, engenheiros, arquitetos, médicos, cientistas…  E da mesma forma, profissionais que não encontram felicidade e realização naquilo que fazem.

O papel dos educadores (pais e mestres) é o de estimular os jovens na busca por respostas a tudo aquilo que os incomoda, angustia. Quando não for possível ajudar nesta questão, o infalível “Você pode!” tem a missão magica de manter acesa a chama da esperança na mente das crianças.

Em meu caso, diferentemente da maioria, as questões não estavam nas estrelas, na lua ou nas pessoas. Eu também não mostrava nenhum interesse pelas minhocas que vivam sob o solo. Apenas achava fantástico poder acender e apagar uma lâmpada com um interruptor. Também tinha uma verdadeira fascinação para saber o porquê da lâmpada da geladeira apagaria quando fechássemos sua porta. E desta inquietação surgiram inúmeros experimentos imaginários para tentar descobrir se haveria, de fato, luz dentro da geladeira fechada. Como observar algo dentro de uma caixa fechada? Questão dura para um garoto de sete anos.

E quando o segredo foi enfim revelado, confesso que uma ponta de decepção surgiu e poderia ter me afastado para sempre do mundo da eletricidade. Depois de tantas conjecturas e possibilidades, descobrir que um interruptor é apenas um interruptor pode ser massacrante para uma criança.

Vendo minha decepção, meu pai tratou de emendar: “Sim filho. As coisas mais simples são as mais espetaculares. Se uma coisinha destas pode controlar a luz, imagino o que você irá fazer! Os estudos te levarão a fazer coisas e a lugares que eu nem imagino que existam”.

Daquele dia estaria selado o meu destino como o de alguém que nasceu para fazer ciência. O meu pai descarregou um caminhão de expectativas naqueles ombros frágeis e a sua certeza nunca permitiu com que seu peso fosse sentido.

E hoje, meu filho não vê encanto algum em interruptores. Ele ama robôs e está motivadíssimo a começar um curso de robótica aos 10 anos de idade. E tudo o que preciso dizer a ele é apenas:

“Filho, não consigo imaginar o robô que você inventará. Certamente ele ajudará a melhorar a vida de muita gente. Você conseguirá!”

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Helinando Oliveira

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