2018: perspectivas para a ciência (6) Especial

terça-feira, 16 janeiro 2018

Quais são os desejos da comunidade científica para o Ano Novo? Confira mais respostas da nossa enquete.

O ano de 2017 chegou ao fim e certamente para a ciência e tecnologia no Brasil esse período ficará marcado pelos cortes, contingenciamento e tantas outras complicações políticas e econômicas. Virando a página, começa a surgir no horizonte 2018. O que esperar do ano novo? Nossa Ciência ouviu pesquisadores e outros profissionais da área sobre as perspectivas para o país e também para o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro em diferentes áreas.

Confira os depoimentos:

Arlete Araújo. Professora do Departamento de Ciências Administrativas – Depad – e Diretora do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA/UFRN.

“Dados os cortes recentes no orçamento de ciência e tecnologia, o ano de 2018 será um ano difícil para a execução de muitos projetos de pesquisa, comprometendo todo um esforço que vinha sendo feito nos últimos anos. Os cortes feitos no orçamento inviabilizam a pesquisa e comprometem o futuro do Brasil. Alterar este projeto e recolocar a importância das universidades púbicas e da ciência para o desenvolvimento do país deve assim mobilizar toda a comunidade acadêmica.

Esperamos que em 2018, apesar de todas as dificuldades econômicas, políticas, sociais e éticas, seja retomado o caminho democrático e um processo de desenvolvimento que implique na redução da enorme desigualdade social que caracteriza o Brasil. E, sem dúvida, nesse cenário, as universidades públicas têm centralidade assim como o desenvolvimento de ciência e tecnologia.”

Cláudio Lenz diante da máquina antipróton no CERN

Cláudio Lenz Cesar. Professor titular no IF-UFRJ, onde foi chefe do Departamento de Física Nuclear. Foi professor titular no CEFET-CE (antiga ETFCE), professor colaborador no Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (DF/UFC) e visitante do DF da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O meu futuro é continuar tentando fazer ciência de fronteira.

“Meu primeiro desejo pra 2018, como brasileiro e começando por nós mesmos: é por menos violência (em casa, nas ruas, na Sociedade); pelo aprofundamento, responsável, das ações contra a corrupção, pois esta não só causa danos imediatos, mas corrói também o tecido social; por uma eleição sem fraudes e manipulações e com discussão de ideias e propostas e que boa Educação e Vida possam virar prioridade, uma obsessão nacional, nos planos e ações. Como professor, desejo melhoria da educação: menos decoreba, mais discussão e participação dos alunos e principalmente mais atividades práticas e experimentos no ensino pré-escolar  (hortas, cozinha, etc), fundamental (jardinagem, marcenaria, cozinha, costura, foguetes d’água, visitas e limpezas de parques e praças, etc) e secundário (microscópios com celular, telescópios, robôs, drones, foguetes, computação, bicicletas e carros, ações de cidadania); num melhor equilíbrio entre teoria (abstração) e prática. Como pesquisador, desejo à humanidade belas descobertas científicas, desde aquelas que levam imediatamente a dispositivos práticos e úteis pra vida, quanto aquelas fundamentais.

Atualmente a Física está “curtindo” uma época interessantíssima de grandes mistérios (matéria e energia escuras, e antimatéria) e uma enorme incerteza sobre os fundamentos da matéria e do Universo: as especulações são gigantes e nosso grau de ignorância é impressionante, ao mesmo tempo e paradoxalmente que algumas teorias vigentes permitem cálculos de altíssima previsão que concordam com experimentos em 12 algarismos significativos! A última dessas especulações da Física teórica que ouvi, bem mais interessante que Universos paralelos, foi que o Boson de Higgs estaria num estado (energia=massa) metaestável e quando decaísse para o estado fundamental o Universo desapareceria na velocidade da luz; mas o tempo, estocástico, de decaimento seria algo enormemente maior que a idade do Universo. Outros grandes mistérios envolvem a unificação das forças; o porquê das constantes fundamentais da Física serem tão precisas para permitirem a existência do Universo; e tantos outros. Isso exemplifica o processo na Física: uma simbiose e equilíbrio entre teoria (abstração) e experimentos (e observação). Não importa quão interessante, bela ou polêmica seja a teoria, a última palavra é da Natureza revelada pela experimentação e observação.

As perspectivas científicas para 2018 na minha esfera são produzir as medidas mais precisas já realizadas na comparação entre matéria e antimatéria no experimento com antihidrogênio no CERN e produzir a medida a laser com feixe frio de hidrogênio e em hidrogênio aprisionado magneticamente na UFRJ pela técnica que desenvolvemos no Rio. Isso vai nos permitir exportar essa técnica pro CERN e assim poder avançar para 15 casas decimais a comparação entre hidrogênio e antihidrogênio: quem sabe a Natureza não nos revela assim uma sutil diferença entre matéria e antimatéria, com uma revolução na Física, e que nos ajude a entender melhor o Universo!? Mas para fazer isso bem e rápido preciso da colaboração de bons estudantes de pós-graduação, algo que está em falta no momento no meu laboratório. Um ótimo 2018!”

Lutiane Almeida. Professor Adjunto do Departamento de Geografia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Professor do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da UFRN, coordenador do grupo de pesquisa GEORISCO – Dinâmicas ambientais, Riscos e Ordenamento do Território e pesquisador do CNPq. Recebeu o Prêmio de Melhor Tese pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Geografia – ANPEGE, em 2011 e o Prêmio Capes de Teses na área de Geografia, em 2012.

“2018 é um ano de muitas definições políticas. Após o impedimento da presidente Dilma ocorreram muitos retrocessos no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores, dos serviços públicos e dos investimentos em saúde e educação. O que eu espero é que o próximo executivo e legislativo brasileiros não deem continuidade a esse projeto de priorização dos setores econômicos e financeiros em detrimento dos investimentos sociais.

Na minha área de atuação, que é a Geografia aplicada a Redução de Risco de Desastres – RRD, os últimos anos foram de alguns aprimoramentos, mas com retrocessos no último ano. Na UFRN, esperamos concluir a criação do Núcleo de Pesquisa sobre Desastres; a criação de um programa de pós-graduação em RRD; fortalecer o nosso grupo de pesquisa GEORISCO; ampliar as parcerias intra e interinstitucionais; entre outros.”

Leia 2018: perspectivas para a ciência (5)

Edna Ferreira e Mônica Costa

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