2018: perspectivas para a ciência (5) Especial

sexta-feira, 12 janeiro 2018

Quais são os desejos da comunidade científica para o Ano Novo? Confira mais respostas da nossa enquete.

O ano de 2017 chegou ao fim e certamente para a ciência e tecnologia no Brasil esse período ficará marcado pelos cortes, contingenciamento e tantas outras complicações políticas e econômicas. Virando a página, começa a surgir no horizonte 2018. O que esperar do ano novo? Nossa Ciência ouviu pesquisadores e outros profissionais da área sobre as perspectivas para o país e também para o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro em diferentes áreas.

Confira os depoimentos:

John Fontenele Araújo. Professor da UFRN, Secretário Regional da SBPC-RN

“Refletindo sobre a realidade da ciência brasileira neste ano de 2018, e reconhecendo os ataques através dos cortes nos orçamentos e na restrição de liberdade nas universidades federais, o meu principal desejo para a ciência brasileira em 2018 é que sejam eleitos governantes que acreditem na importância da ciência. Do atual governo federal eu não tenho nenhuma esperança.”

 

Elaine Pimentel. Professora do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DMAT/UFRN).

“2018 tinha tudo para ser *o ano* da Matemática no Brasil. De fato, desde que Artur Ávila ganhou o maior prêmio da área em 2014 (medalha Fields, o correspondente ao Nobel na área de Matemática) e o nosso país foi escolhido para sediar o ICM (International Congress of Mathematics — o maior encontro de matemática mundial), os olhos de pesquisadores do mundo todo se voltaram para o Brasil.

Não à toa: temos o maior centro de pesquisa em Matemática da América Latina (IMPA — Instituto de Matemática Pura e Aplicada), um programa pioneiro para o incentivo ao estudo e descoberta de prodígios em Matemática (OBMEP – Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas — hoje também para escolas privadas) e ações de desenvolvimento da área em diversos níveis. Tanto que 2017-2018 foi declarado o Biênio da Matemática no Brasil.

Não conseguiria imaginar um cenário melhor para o desenvolvimento do ensino e pesquisa em Matemática no Brasil… a não ser pelo total e completo descaso da atual administração federal com a área de Ciência e Tecnologia em geral. As últimas ações promovidas pelo governo federal provocam profundos e irreparáveis danos a tudo que tem sido construído com tanto zelo nos últimos 20 anos ou mais por entidades e pessoas tão sérias como o IMPA ou Artur Ávila.

A inicial fusão do Ministério de Ciência e Tecnologia com o de Comunicação e o posterior corte de gastos em 44% sobre a verba de 2017 nos remete a uma situação nunca antes vivenciada neste país. Não só pela perda inexorável de pessoal qualificado, quanto pelo desmantelamento de toda a estrutura que foi construída a duras penas. O maior exemplo é a provável extinção da OBMEP. Como pode um programa tão barato para um resultado tão latente ser eliminado com um piscar de olhos?

Creio que esse vai ser o maior legado da falta de interesse político em Ciência e Tecnologia no nosso país: eliminar os “Artur Ávila” e outros tantos que poderiam surgir de programas de incentivo à área de Matemática no Brasil.

Com relação a pesquisadores, a perspectiva não é muito diferente: o fechamento total e completo de incentivos à pesquisa por parte das principais agências de fomento à ciência no Brasil (CAPES e CNPq) deve impossibilitar interações com pesquisadores e centro de pesquisa nacionais e internacionais, e remeter o Brasil novamente à idade da pedra da pesquisa básica.

Em especial, a área de lógica (na qual sou pesquisadora do CNPq) deve sofrer profundo impacto, por não ser considerada uma “área de pesquisa estratégica”. A expectativa é ter que buscar incentivo fora do país, através de projetos internacionais.

Que dizer? Esperem menos razão, mais emoção ao fazer ciência em 2018…”

Leia 2018: perspectivas para a ciência (4)

Edna Ferreira e Mônica Costa

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