Neste Natal não queremos caixinhas coloridas com presentes, queremos democracia, educação e condições para produzir nossa ciência e tecnologia
Meu querido Papai Noel, invenção bem-sucedida do mercado. Por vezes tenho pena de ti, por representares o velho escravo a serviço do agente neoliberal que escraviza nações, designando-as como democracias ou ditaduras. Tu és a fonte de inspiração da fábrica de sonhos que preenche o planeta de lixo para escoar a produção das grandes fábricas, que recebem em troca de suas coisinhas os dias de vida dos trabalhadores. Como bem definiu Pepe Mujica, nosso suado dinheiro é a materialização dos dias de trabalho que dedicamos por esta recompensa. E quando entregamos isto em troca de algo, estamos repassando um tempo de nossa vida que não volta mais. Então, meu querido velhinho, atuas para um regime de golpistas, conquistadores de vidas alheias. Se ainda te chamo de querido é porque, assim como nós, trabalhas sem direito à aposentadoria. Mas diferente de nós, tu te aproprias de uma data que não é tua para vender ilusões (lixo mesmo!) em troca de tempo irrecuperável de nossas vidas.
E assim, somos colocados a trabalhar para garantir um monte de plásticos e metais pesados que brilham e apitam, alienam e separam. Objetos descartáveis que nos fazem acreditar que a vida nas redes sociais existe e é feliz.
Não precisamos destes lixos tecnológicos, meu bom velhinho. Tudo o que eu gostaria de te pedir é o que o teu neoliberalismo nos roubou: a democracia, a capacidade de sonhar, a educação, a ciência e a tecnologia… A dignidade de um povo oprimido que perdeu todos os direitos.
Não queremos caixinhas coloridas com telefones celulares… Queremos condições para produzir a nossa tecnologia, sem escravidão!
Então velhinho golpista: podes ficar pelo hemisfério norte. Não precisas provar do calor do Brasil. Não temos neve nem renas… Mas as casas continuam a se decorar à espera do inverno improvável no mês de dezembro. De fato, és imortal como o neoliberalismo.
Na verdade, escrevi esta carta para te contar que meu papo será com outra pessoa, um jovem que morreu aos 33 anos de idade por ter se levantado contra o sistema. E o sistema cruel e avassalador o pregou em uma cruz. Para este jovem rebelde que curava as pessoas em pleno dia de sábado eu pedirei respeitosamente:
“Meu querido papai do céu. Bem sabes que sou cientista. Também tens acompanhado os rumos de meu país, o Brasil. Por aqui precisamos fazer ciência para melhorar a vida dos pobres e negligenciados pelo sistema. Acabe de uma vez com o neoliberalismo e coloque no lugar dele algo que traga oportunidade e felicidade para um povo que precisa comer todo dia, e não apenas na noite de Natal. Se possível for, e se não for pedir tanto, reativa o MCTI. Permita com que a ciência do Brasil continue a desvendar os mistérios da natureza. Sei que sua data de nascimento não é 25 de dezembro, mas por Tua grandeza poderia ser todo e qualquer dia. Então… Parabéns. Feliz Natal”.
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Helinando Oliveira