José Roberto Costa revela que não é possível adquirir comercialmente o direito de batizar um corpo celeste
Os astrônomos não são donos das estrelas. Ninguém é. Porém, ao descobrir um corpo celeste (como um cometa ou um asteróide) o descobridor pode sugerir um nome. Isso já ocorreu várias vezes, embora nem sempre com bom senso: o descobridor do planeta Urano, por exemplo, queria chamá-lo de Jorge!
Todos os anos as pessoas que estudam o firmamento, profissionais ou não, descobrem novos corpos celestes. É comum que alguns desses astros recebam o nome de seus descobridores – especialmente no caso dos cometas.
Assim aconteceu com o cometa Juels-Holvorcem, descoberto na noite de 28 de dezembro de 2002 pelo brasileiro Paulo Holvorcem, juntamente com o colega norte-americano Charles Juels. Esse astro entrou para a história como sendo o primeiro que leva o nome de um brasileiro nato.
Batismo invisível
Mas – surpresa – tem muita gente vendendo estrelas por aí. E não são descobridores descontentes ou mal remunerados. Na verdade, para “sugerir seu próprio nome” a uma estrela, o interessado precisa apenas dispor de alguns dólares e entrar numa das várias lojas virtuais que “vendem estrelas”.
Naturalmente você não receberá uma delas em casa, mas essas empresas on line de fato dispõem de milhares de sóis “sem nome”, apenas designados numericamente nos catálogos estelares. Obviamente a estrela em si não está à venda. Mas – em tese – você estaria comprando o direito de colocar o seu nome no astro.
Desde que essas lojas começaram a atuar, centenas de estrelas já foram “batizadas” com nomes que variam desde pessoas comuns, animais de estimação e, é claro, gente famosa, como o piloto Ayrton Senna, a modelo Naomi Campbell, o jogador de basquete Magic Johnson, a cantora Madonna e ainda Elton John, Phil Collins, Cher, Tom Cruise, Michelle Pfeiffer, John Lennon, Marilyn Monroe, Jacques Cousteau, a princesa Diana, Frank Sinatra, Elvis Presley e até mesmo o Grinch!
Ao “registrar” uma estrela o “dono” recebe um certificado e um mapa celeste com sua localização. Mas não se iluda! Você não poderá escolher a constelação e nem mesmo mostrar sua estrela aos amigos à noite.
Todos os astros “vendidos” estão além do alcance da vista desarmada e mesmo de alguns telescópios amadores. Normalmente são estrelas com magnitude visual superior a 8,5. A magnitude é uma escala logarítmica de brilho, quanto maior o valor, mais fraco o brilho.
E isso inclui a tal “estrela Ayrton Senna”, na constelação do Cocheiro. Com magnitude 10,8 ela é noventa vezes mais fraca que a estrela de menor brilho que conseguimos ver a olho nu.
Brincadeira
Na verdade essas denominações não são oficiais e não serão anexadas aos catálogos estelares de verdade. Um nome legítimo de um corpo celeste não pode ser comprado. Na prática, o que essas empresas fazem é uma “espécie de brincadeira”, como quando se presenteava um amigo com um jornal falso contendo uma matéria bem-humorada sobre ele.
O único órgão responsável pela nomenclatura dos corpos celestes é a União Astronômica Internacional. Suas decisões são tomadas em reuniões que seguem critérios já bem estabelecidos, conduzidos por um conselho de especialistas.
Exceto, é claro, nos casos em que o descobridor do astro foi você mesmo. Assim, se você quer mesmo que um corpo celeste tenha o seu nome, apanhe seu telescópio e mãos à obra!
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José Roberto de Vasconcelos Costa, do site Astronomia no Zênite - www.zenite.nu