Helinando Oliveira traça um paralelo entre real e imaginário para expor o momento cheio de antagonismos no qual vive a humanidade
Mesmo na mais distante galáxia, desde muito tempo atrás e para muito além de nosso tempo, o autodesignado bem e o mal duelam pelo poder e controle dos povos. Seja na eterna batalha entre a república e o império ou na disputa entre os mais vivos e os quase mortos: a espécie humana busca a convivência pelo conflito. O discurso da superioridade racial, potencial bélico, religiosidade, entre outras…Todos são argumentos que potencializam a necessidade de dominadores e dominados. E neste interim foram aniquilados os índios da América, foram escravizados os africanos… E para simplificar o entendimento de uma história conflituosa, são colocados de um lado os bons e do outro os maus.
Nas telas, a expectativa é pela decisão da personagem Rey: seguiria ela para a luz ou para escuridão? A força que a acompanha (a exemplo da ciência) pode pender para qualquer lado. E neste lançar de moedas, a cara ou coroa tendem a ser viciadas. A humanidade (na vida real e na ficção) tem uma predileção por re(viver) aquilo que ainda não sentiu na pele. Kylo Ren buscou inspiração no avó (Lord Veider) para negar os preceitos dos pais. E no mundo real, de forma completamente análoga, muitos do que não sentiram o peso do cassetete em 1964 pensam em ressuscitar outra vez a ditadura em pleno 2017…
E aquilo que já foi chamado república agora é resistência, aquilo que foi luz agora sente uma enorme atração pela escuridão. Mas como bem definiu Leonard Cohen: “Há uma falha, uma falha em tudo. É assim que a luz entra”. E é fundamental extrair destes momentos de incompreensão e ódio o ponto de onde emana qualquer resquício de solução para um mundo mais racional.
Contrariamente à ficção, a força não está em pessoas escolhidas, mas sim nos meios de manipulação das massas – importantes máquinas de gerar exércitos de clones. A resistência vem daqueles que tiram as devidas implicações dos fatos históricos… Daqueles que não viveram os eventos mas entendem os riscos do totalitarismo, conseguem compreender o desespero dos judeus que marcharam rumo aos campos de concentração, imaginam a dor dos japoneses de Hiroshima (sobreviventes e queimados da bomba atômica) que saciaram sua sede bebendo a água da chuva letal que desceu dos céus.
Muito além da luz ou da escuridão (bem ou mal) vivemos a dicotomia entre o amor e o ódio, pertencimento e intolerância.
E neste momento de dominação do império, que concebeu pela mídia nações de clones ou nações de terroristas, tudo aponta para uma nova geração de intolerância. E a resistência, que no mundo real não conta com Jedi ou Padawans, segue sob ataque.
O que resta aos que resistem é esperar que o encanto ao ódio seja curto e que os exércitos de clones espalhados pelo planeta usem da racionalidade para entender que a escravidão é uma prisão que só acaba com a morte.
Resta também esperar que os governantes que desejam vaporizar as outras nações sejam minimamente inteligentes para entender que as fronteiras que separam as nações são tão tênues quanto as perspectivas de vida humana na terra.
Chegamos enfim ao limite de perceber que a conquista do espaço e toda a ficção que emana desta magia depende da capacidade de nossa espécie em preservar o planeta. E esta tarefa, ao que indica, já pode ser dada como perdida.
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Helinando Oliveira