A viagem espacial da cadelinha russa está completando 60 anos. José Roberto Costa relembra o pioneirismo dessa cosmonauta
Hoje, 3 de novembro, faz 60 anos que o primeiro habitante da Terra foi ao espaço. Sua nave ficou 163 dias em órbita, mas a aventura desse pioneiro espacial não passou de uns três dias. Nosso primeiro astronauta era do sexo feminino, não foi voluntária, nem era um humano.
Seu nome era Laika. E ela era uma linda cadelinha vira-lata.
A escolha foi feita a partir de um grupo de dez cães treinados no instituto de medicina da força aérea da antiga União Soviética para estudar os efeitos dos voos na alta atmosfera sobre seres vivos. Dos animais originais, três foram selecionados: Laika, Albina e Mukha.
Laika foi preparada para seu voo pelo médico Oleg Gazenko. Sua suplente era a cadela Albina, que já havia participado de dois voos de pesquisa na atmosfera. Laika e as outras duas cadelinhas sem raça foram submetidas a um intenso programa de treinamento para ir ao espaço.
Sputnik 2
O lançamento do Sputnik 2 e sua passageira foi em 1957. A cápsula transportava também alguns instrumentos científicos para estudo da radiação solar e dispunha de um pequeno contêiner cilíndrico com capacidade para um único cão, além dos sistemas de suporte à vida e instrumentos para verificar os sinais vitais e o nível de ar.
Só que havia um grave problema: o veículo não possuía a capacidade de regressar à Terra, pois naquele momento a tecnologia necessária para fazê-lo ainda não tinha sido desenvolvida. Laika jamais poderia ser trazida de volta com vida.
Conta a história que os técnicos da missão previam “adormecer” o cão com uma injeção letal automática antes que o oxigênio a bordo se esgotasse. Mas nos dias seguintes ao lançamento foi notado um aumento significativo na temperatura do compartimento biológico.
O controle térmico não estava funcionando bem e as altas temperaturas no interior da cápsula eram uma constante durante o voo. Laika não resistiu ao desconforto e acabou morrendo, provavelmente no dia 7 de novembro de 1957.
Hoje se sabe que a ogiva protetora do Sputnik 2 não se separou como deveria, resultando no mau funcionamento do sistema de controle de temperatura. A injeção letal, se realmente existiu, nunca foi aplicada.
A pequena nave permaneceu em órbita até 14 de abril do ano seguinte. Então, após 2.570 voltas em torno da Terra, a gravidade finalmente venceu o jogo. Mas como o Sputink 2 não podia pousar, foi destruído durante a reentrada na atmosfera – como um meteoro, junto com o corpinho de Laika.
Melhor amigo
Uma leva de protestos por parte de associações de proteção aos animais alegou que o voo da cadelinha era desnecessário, cruel e desumano. A missão do Sputnik 2 e sua inocente passageira foi um exemplo de como a ciência espacial esteve movida pela política da Guerra Fria.
Em julho de 1998 Gazenko confessou estar profundamente arrependido de ter enviado Laika numa missão sem volta. “Houve uma hipótese de lançar Laika – e lançamos! Faltou-nos uma análise consciente do que estávamos fazendo.”, declarou.
Hoje em dia, um acordo internacional proíbe o voo de cães, gatos ou macacos ao espaço. Durante os anos competitivos da corrida espacial, norte-americanos enviaram vários primatas em voos orbitais e sub-orbitais. Alguns também não regressaram.
Os norte-americanos sempre alegaram que jamais mandaram um cão ao espaço porque ele é o melhor amigo do Homem. Os russos afirmaram que o fizeram pelo mesmo motivo.
Do site Astronomia no Zênite – www.zenite.nu
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José Roberto de Vasconcelos Costa