Palestra que defende cura gay gera polêmica na comunidade científica potiguar
Um evento a ser realizado nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), num dos auditórios do Centro de Biociências (CB) e cujos palestrantes não têm seus currículos na Plataforma Lattes do CNPq, a maior referência acerca da credibilidade e atuação de todas as pessoas que fazem pesquisa científica e tecnológica no Brasil.
Assim pode ser definido o I Ciclo de Estudos sobre Corpo Humano, Filosofia e Sociedade, que teve início em agosto e cuja última “palestra” gerou intenso repúdio da comunidade científica local, dado o seu total descolamento dos estudos realizados na academia.
Embora o Centro de Biociências da UFRN informe em nota que “não tem qualquer responsabilidade sobre o evento”, uma mensagem tem sido compartilhada pelo whatsapp informando que “O Centro de Biociências (CB), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), dá continuidade ao I Ciclo de Estudos Sobre Corpo Humano – Filosofia e Sociedade. A psicóloga Marisa Lobo vem a Natal para ministrar a Conferência O Corpo Humano e a Identidade de Gênero”.
Além de não ter qualquer relação com a academia, ou seja, ter os seus trabalhos referenciados por seus pares, a psicóloga citada tem tido suas opiniões contestadas até pelo Conselho profissional a que pertence. O Conselho Federal de Psicologia refuta quaisquer tratamentos que busquem a reversão de orientação sexual, principal bandeira dela.
Financiamento da UFRN
Cadastrado como atividade de extensão pelo Departamento de Morfologia, o evento obteve o financiamento de R$ 3 mil da Pró-Reitoria de Extensão/PROEX da UFRN e tem como co-organizador o Instituto Felipe Camarão, agremiação de militância conservadora no RN, que se define como restauradora da cultura brasileira e da tradição cristã.
Após a divulgação de uma Nota de Repúdio à realização do evento nas dependências da UFRN emitida pelo Conselho de Centro, órgão máximo do centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Nossa Ciência procurou a reitoria para saber seu posicionamento frente ao embate que estaria ocorrendo entre duas correntes de pensamento antagônicas dentro da Instituição. Enquanto uma defende um espécie de biologização do social, a outra, orientada pelos princípios que norteiam as Ciências Humanas e Sociais, defende que é da cultura de onde saem as características que tornam o ser humano como tal. A nota de repúdio cita Einstein, quando afirma que “a ciência existe para aliviar a canseira da humanidade” e foi assinada também por departamentos e programas de pós-graduação do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA).
Respeito à diversidade
Por meio de nota, a UFRN respondeu que “A Universidade Federal do Rio Grande do Norte cumpre seu papel constitucional e histórico de ser um espaço de debate aberto à pluralidade de ideias, constituindo-se como um espaço de convivência pacífica de múltiplas ideias e correntes de pensamento.” A nota diz ainda que “a UFRN adota o respeito à diversidade como valor geral para garantir o direito de identidade atendendo às diferenças, sem discriminação, de modo a contemplar as características próprias de cada um com vistas a permitir o desenvolvimento pleno de suas potencialidades, tendo como referência políticas de inclusão social, com ações afirmativas e atendimento às demandas dos estudantes com condições socioeconômicas desfavoráveis, das minorias e diversidades étnicas e de gênero, por exemplo, para cumprimento da missão e da responsabilidade social da instituição.” Veja a resposta na íntegra.
Nossa Ciência tentou contato com o professor Bento João da Graça Azevedo Abreu, do Departamento de Morfologia, que é o responsável na UFRN pelo evento, mas no seu currículo no Lattes não há email registrado, a assessoria de comunicação do CB informou que não tinha autorização para dar o seu contato e a secretaria do CB informou o telefone do Departamento de Morfologia, que parece estar com defeito.
Mônica Costa
Nos tempos horrorosos em que vivemos, quando o estado de exceção se iniciou, só nos resta resistir a todas essas manifestações de fascismo.