Paisagem, sertão e Patativa do Assaré SCIARÁ

Patativa em sua casa, em Assaré. O poeta faleceu em 2002

Estudo da Universidade do Cariri analisou a paisagem do município e os versos do poeta cearense como prática interdisciplinar

Cante lá, que eu canto cá

Poeta, cantô de rua,

Que na cidade nasceu,

Cante a cidade que é sua,

Que eu canto o sertão que é meu.

Os versos de Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, poeta popular brasileiro nascido em Assaré, no interior do Ceará, foram utilizados por alunos da disciplina de Estágio Supervisionado do curso de Geografia da Universidade Regional do Cariri para estudar o meio como prática interdisciplinar na análise da paisagem do município. O trabalho foi publicado pelo professor Emerson Ribeiro na Revista da Casa da Geografia de Sobral.

Três poemas de Patativa serviram como base no estudo – Prefeitura sem prefeito, Vida sertaneja e Triste partida – esse último imortalizado na voz de Luiz Gonzaga. A iniciativa teve como objetivo apresentar aos alunos a saída a campo como uma metodologia com importância significativa para o estudo da geografia escolar, levando-os a perceber que “a apreensão do espaço social, físico e biológico se dá em múltiplas ações combinadas e complexas”.

O grupo optou pelo conceito de paisagem de Milton Santos, que a define como “Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.”

Foram visitados o município de Assaré, o memorial de Patativa e a casa onde o poeta nasceu. O estudo contou, ainda, com a participação de um professor de linguística, a fim de discutir os significados dos versos de Patativa e sua relação com o meio. “Cantamos os seus versos como testamento estético de um testemunho de uma vida política, poética, com importância para compor o conteúdo e o estudo da paisagem, relacionando no tempo e espaço a história de uma região”, explicou o professor Emerson no artigo.

Memorial Patativa do Assaré. Fonte: Blog Rodando pelo Ceará

De acordo com o pesquisador, a saída a campo, em um estudo do meio, teve como propósito fazer com que os alunos em formação compreendessem o lugar de onde o poeta sertanejo falou e escreveu alguns poemas que foram trabalhados em sala de aula, induzindo os alunos ao processo de descoberta diante do meio urbano e rural. “O conhecimento sobre a vida e a produção do poeta, como cantos, poemas e poesias, pode levar o aluno a uma reflexão e a uma produção de conhecimentos que não estão nos livros didáticos”.

No poema Prefeitura sem Prefeito, por exemplo, o grupo percebeu, por meio da análise dos versos, uma crítica à precariedade de recursos básicos, como o direito à água, saúde, educação e transporte. Para o professor Emerson,”Indagar aos alunos a essa análise é tarefa do professor pesquisador para que professores em formação constatem, por meio da pesquisa, a realidade que muitas cidades enfrentam.

Ainda segundo o pesquisador, Patativa, “com seus versos e prosas, conduz a geografia pela paisagem do sertão, do homem do campo e da cidade, dos imigrantes e dos políticos, numa assertiva metodológica e em muitas vezes didática, a sua poesia fere em contos da vida, não só do sofrimento, mas traz consigo também a alegria do herói do sertão, da sua terra natal, de seu torrão, das festas de São João. São essas narrativas que podem colaborar com o processo de ensino aprendizagem e trazer, em certa medida, a transformação da sala de aula”.

Leia o artigo “Estudo do Meio – Paisagem, sertão e Patativa do Assaré – instalação geográfica”.

Assista ao curta “Patativa” (2001), de Ítalo Maia.

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Giselle Soares