Em Recursos Hídricos as soluções são complementares, nunca excludentes Meio Ambiente

segunda-feira, 23 outubro 2017
Mesa do Congresso Brasileiro de Redução de Riscos de Desastres sobre segurança hídrica em metrópoles teve participação também do presidente da Sabesp, Jerson Kelman e a mediação da professora Rosa Formiga, da UERJ/INEA.

Presidente da Companha de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará aponta soluções encontradas pelo estado para enfrentar baixas reservas de água

No Ceará, as definições acerca da utilização da água é uma ação política.  “Todo o processo de gestão de alocação de água é debatido e decidido pelos comitês e pelas comissões gestoras de água, então é um processo político. É muito importante para o estado do ponto de vista do planejamento e da economia de água”. A afirmação é do presidente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado (Cogerh), João Lúcio Farias de Oliveira, em entrevista ao Nossa Ciência, após sua apresentação sobre segurança hídrica do abastecimento de metrópoles em tempos de mudanças globais, no II Congresso Brasileiro de Redução de Riscos de Desastres, realizado no Rio de Janeiro de 11 a 14 de outubro.

João Lúcio apresentou a estrutura de recursos hídricos do estado do Ceará

O sistema de gestão da água no estado cearense é formado por 12 comitês de bacia e 68 comissões locais. Para o gestor, com um período de chuva muito curto, comum a todo Semiárido, a segurança hídrica do estado depende, obrigatoriamente, do máximo aproveitamento de seus aquíferos, que estão localizados na Chapada do Araripe (na fronteira com Pernambuco), Serra da Ibiapaba (na fronteira com o Piauí), Chapada do Apodi (na fronteira com o Rio Grande do Norte) e no Grupo Barreiras e Dunas (no litoral).

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Com 86% do estado localizado em área do Embasamento Cristalino, onde os solos na maioria das vezes são rasos, sobre rocha próxima à superfície e onde a água é salobra, a dessalinização é um processo já muito utilizado no interior. “O estado já utiliza a dessalinização em pequena escala, nós temos vários dessalinizadores com potência de 5 mil litros, distribuídos em muitas comunidades do Ceará, que dessaliniza a água para o consumo humano”, afirma João Lúcio. Porém a dessalinização não é a única solução nessas comunidades. “Em Recursos Hídricos, as soluções são complementares. Nunca excludentes. Dessa forma, o dessalinizador é uma das alternativas, juntamente com as cisternas, com barragens subterrâneas etc. Cada comunidade tem a sua melhor solução. Muitas vezes, mais de uma solução”, garante.

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Aproveitando a água do mar

Agora, a intenção é aplicar o sistema para dessalinização da água do mar para consumo humano na área metropolitana. O governo lançou um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), que trata-se de chamada pública para consultores externos ou empresas interessadas em disputar futuros contratos de concessão apresentarem estudos de viabilidade desse projeto.  “Nós precisamos no estado não depender só da chuva, então a dessalinização, o reuso passa a ter uma importância estratégica, e nós estamos debatendo muito nesse governo e implementando para que a gente possa ter outras redundâncias, água de chuva nos reservatórios, água subterrânea, água de reuso e água dessalinizada”, justifica.

A captação de água de chuva poderá ser utilizada em Fortaleza, assim como já é feito nas cidades do interior e no meio rural, através das cisternas. “Algumas indústrias estão iniciando esse aproveitamento de água de chuva, mas realmente tanto nas residências como nos condomínios o aproveitamento é muito pequeno na região metropolitana.” O gestor informou que a capital cearense lançou o projeto Fortaleza 2040, tendo entre as propostas a redução em 40% da dependência de sistemas externos e uma das ações a serem executadas é o aproveitamento de água de chuva em Fortaleza. A população da capital é de 2,6 milhões de pessoas, o que representa quase 30% dos mais de 9 milhões de habitantes do Ceará.

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Em vez de petróleo, água

Outra solução apontada pelo presidente para o problema hídrico poderá ser a adoção do poço horizontal para a captação de água. Normalmente empregado para obter petróleo, no Brasil pela primeira vez está sendo construído um poço horizontal nas dunas do Cumbuco, área oeste da Região Metropolitana de Fortaleza para extração de águas subterrâneas. O custo da obra é de R$7,2 milhões, e a expectativa é que os primeiros testes sejam realizados no próximo mês.

De acordo com a Cogerh, o poço tem quatro ramais (tramos) horizontais de 250 metros cada, totalizando mil metros. A vantagem do poço horizontal em relação ao poço vertical, largamente utilizado no Brasil, é o aumento da área de captação de água, proporcionado pelo tramos. Depois de reunida num grande poço vertical, a água é bombeada para aproveitamento. “Nós estamos certos de que dará resultado e essa experiência irá para outras áreas do estado, principalmente na área de dunas, na região metropolitana ou na área industrial, que está mais próximo do litoral”, finalizou.

 

Nossa Ciência participou do II Congresso Brasileiro de Redução de Riscos de Desastres a convite da organização do evento.

Mônica Costa

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