Brasil elabora lista com as 20 pragas agrícolas que ainda não chegaram ao país Meio Ambiente

segunda-feira, 9 outubro 2017
A planta daninha Cirsium arvense prejudica trigo, soja, aveia e milho. Foto: Justin Anthony Groves

Objetivo é uma melhor preparação na adoção de medidas de erradicação e controle de pragas como fungos, insetos, bactérias, vírus e plantas daninhas

Prevenir para não remediar. A máxima popular resume o objetivo da elaboração de uma lista com as 20 pragas quarentenárias ausentes prioritárias para ações de vigilância e pesquisa, que ameaçam, caso entrem no País, culturas como milho, soja, mandioca, batata, arroz e várias frutas. Três das pragas listadas já contam, inclusive, com planos de contingência. Existem atualmente cerca de 500 pragas quarentenárias – entre fungos, insetos, bactérias, vírus, nematoides e plantas daninhas – oficialmente reconhecidas como ausentes no Brasil.

O trabalho foi  realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa. Em 2007, o Ministério publicou a Instrução Normativa nº 52, que estabeleceu a lista de pragas quarentenárias ausentes e presentes. A publicação dessa lista é uma das obrigações do País como membro da Convenção Internacional para Proteção dos Vegetais (CIPV). De acordo com o coordenador-geral de Proteção de Plantas do Mapa, Paulo Parizzi, essa convenção prevê que os países devem publicar listas de pragas regulamentadas a fim de que os outros países e parceiros comerciais possam ter mais clareza quanto às ações que cada um toma para evitar a introdução de pragas, uma vez que as medidas fitossanitárias devem ser tomadas para pragas que sejam regulamentadas pelo País. “A priorização é importante porque permite desenvolver um trabalho mais focado nas necessidades específicas de cada praga destacada, visando a evitar sua introdução e melhor preparo caso entrem, e dessa forma adotar as medidas necessárias para sua erradicação e controle.”

De acordo com Paulo Parizzi, a parceria entre o Departamento de Sanidade Vegetal (DSV/Mapa) e a Embrapa traz benefícios tanto para o trabalho de vigilância quanto para a pesquisa. “O DSV se beneficia por poder contar com especialistas para dar suporte científico às suas ações, enquanto a Embrapa tem a possibilidade de ver o resultado de suas pesquisas ser traduzido em ações de regulamentação. Assim, os esforços das duas instituições são somados na luta contra a entrada de pragas quarentenárias.”

Doença do amarelecimento letal que tinge coqueiros. Foto: Michel Dollet

Das 20 pragas listadas como prioritárias, três já contam com planos de contingência: o fungo Moniliophthora roreri, que infecta os frutos do cacaueiro; o inseto Cydia pomonella, que ataca principalmente a maçã; e o Candidatus Phytoplasma palmae, fitoplasma que causa o amarelecimento-letal-do-coqueiro. Em março deste ano, o Mapa constituiu grupo de trabalho, do qual participam os pesquisadores Fernando Haddad e Miguel Dita, da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), para elaborar o alerta fitossanitário e o plano de contingência para a raça 4 Tropical (R4T) Fusarium oxysporum f. sp. Cubense (Foc), fungo que ocasiona a doença conhecida como mal-do-panamá, uma das mais destrutivas da cultura da bananeira. Antes restrita ao sul da Ásia, onde sua rápida e agressiva disseminação tem provocado severas perdas em países como Filipinas, Taiwan, Indonésia e China, a raça 4 tropical, ou R4T, foi detectada no fim de 2013 em plantações da África. Segundo especialistas, sua chegada às Américas é uma questão de tempo. Existem hoje pelo menos 50 variedades suscetíveis ao R4T, o que converte esse patógeno em uma séria ameaça para a bananicultura mundial.

“Esse já é um desdobramento do trabalho de priorização. E o R4T foi considerado em 2015 oficialmente como praga quarentenária ausente pelo Mapa após trabalho desenvolvido pela Embrapa. O mesmo tentamos fazer agora com o vírus da estria- marrom-da-mandioca (CBSV), uma praga muito nociva, um vírus transmitido por mosca-branca, que causa prejuízos incalculáveis na África, que não pôde entrar na lista de prioritárias por ainda não ser reconhecida oficialmente”, conta o pesquisador Francisco Laranjeira, líder do Portfólio de Sanidade Vegetal da Embrapa.

Laranjeira acrescenta que uma das consequências desse trabalho de priorização é a detecção de lacunas, seja no campo do conhecimento científico, seja no da defesa fitossanitária. “Esse vírus da estria-marrom-da-mandioca, por exemplo, não pôde ser considerado na lista de prioritárias porque ainda não é regulamentado como praga quarentenária. Existe fora do País, é exótica, mas como ainda não foi reconhecida oficialmente como quarentenária, não podemos nem começar a trabalhar com ela”, conta. A Embrapa, assim como no caso do R4T, elaborou um documento com informações de pesquisa relacionadas ao estriado-marrom-da-mandioca para que o vírus seja reconhecido pelo Mapa como uma praga quarentenária ausente.

Bananeira atacada por fusarium. Foto: Miguel Dita

“Então, a tarefa não é simplesmente dizer que tais pragas são prioritárias e a pesquisa vai trabalhar com isso. A atuação conjunta entre o Mapa, a defesa agropecuária e a pesquisa é uma das grandes oportunidades de integração em políticas públicas e desenvolvimento tecnológico que surgiram com esse trabalho de priorização”, diz Laranjeira. Em maio deste ano, foi realizado, na Embrapa Mandioca e Fruticultura, como vitrine do trabalho que vem sendo executado, o Simpósio sobre Pragas Quarentenárias Ausentes de Mandioca e Fruteiras Tropicais, que reuniu especialistas da própria Embrapa, da Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Estado da Bahia (Adab) e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Exemplo da importância dos mecanismos de defesa

Alerta fitossanitário e plano de contingência são mecanismos utilizados pela defesa fitossanitária para prevenir ou reduzir a possibilidade de entrada de material infectado no País, mas, caso isso aconteça, devem maximizar as chances de erradicação dessas pragas. Um exemplo da importância desses mecanismos é o que aconteceu com a Cydia pomonella, que já foi uma praga presente no País de 1991 a 2014. O Mapa constituiu um grupo de trabalho, definindo a implementação de um programa de supressão, substituído posteriormente por um programa de erradicação das plantas hospedeiras. Em 2014, após declarada oficialmente a erradicação da C. pomonella no Brasil, o programa foi substituído por um plano de contingência. Desde então, a C. pomonella continua com status de quarentenária ausente, sendo essa a única erradicação de um inseto-praga no Brasil.

Esse trabalho em torno da Cydia pomonella, coordenado pelo entomologista Adalécio Kovaleski, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho (RS), vem sendo utilizado como referência por vários países. “Frequentemente participo, a convite do Mapa, de discussões comerciais de importação de frutas hospedeiras e tenho auxiliado o Ministério nas questões relativas ao Sistema de Mitigação de Risco para Cydia pomonella com a Argentina, tendo acompanhado seis missões visando a auditar o programa, entre outras atividades”, informa o pesquisador, que foi o responsável pelas primeiras capturas do inseto no País.

Ataque do fungo fusarium, conhecido como mal-do-panamá. Foto: Miguel Dita

Metodologia para priorização

Utilizando a metodologia de priorização AHP, as pragas foram ranqueadas de acordo com 20 critérios divididos em três grandes grupos: entrada; estabelecimento e dispersão; e impacto estimado.

Na observação sobre a entrada, consideraram-se distância entre localização mais próxima e a fronteira brasileira, número de países fronteiriços em que ocorre, número geral de países em que ocorre, volume de importação de material hospedeiro/artigo regulamentado, número de importações de material hospedeiro/artigo regulamentado e número de continentes onde a praga ocorre. Estabelecimento e dispersão abrangem adaptação climática no Brasil, número de hospedeiros, área total das culturas hospedeiras, percentual de microrregiões com cultivos de hospedeiros, eficiência de métodos de controle (erradicação), estimativa de distância de dispersão natural anual e probabilidade de dispersão antrópica. E impactos estimados incluem critérios sobre expectativa de percentual de dano, valor da produção anual da cultura hospedeira, número de países que regulamentam a praga, número de estabelecimentos com a cultura hospedeira, número de empregos na cadeia produtiva dos cultivos hospedeiros e potencial de contaminação por agrotóxicos.

A definição dos critérios aconteceu durante workshop realizado em outubro de 2016 na sede da Embrapa, em Brasília, que reuniu oito Unidades (Embrapa Amapá, Embrapa Hortaliças, Embrapa Mandioca e Fruticultura, Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Quarentena Vegetal, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Roraima e Embrapa Tabuleiros Costeiros), além do DSV. A ideia do workshop surgiu como resultado de um encontro promovido em agosto pelo DSV, em Brasília, quando a equipe da Embrapa foi convidada para apresentar o Portfólio de Sanidade Vegetal e o Arranjo Quarentena, conjunto de projetos coordenado pela pesquisadora da Embrapa Roraima Elisângela de Morais. “É a primeira vez que oficialmente o DSV e a Embrapa fazem uma lista dessas em conjunto. Isso promove mais integração entre as partes e pode dar, por exemplo, um direcionamento maior em termos de decisão de alocação de recursos para trabalhos com pragas quarentenárias”, analisa Laranjeira.

Veja um resumo sobre as 20 pragas quarentenárias ausentes prioritárias

 

Redação com informações da Embrapa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Site desenvolvido pela Interativa Digital