Nessa edição da coluna Ciência Nordestina, saiba como a versão tecnológica da terceirização pode ser a pá de cal no processo de deterioração da educação brasileira
“Seu professor na ponta do dedo”, diz o anúncio que direciona ao aplicativo “Professor Delivery” disponível para todos os tipos de telefone celular. Nele é possível solicitar os serviços de professores de todas as áreas apenas com um toque. Após poucos meses do lançamento, esta nova tecnologia educacional já faz sucesso entre faculdade privadas, públicas, escolas de ensino fundamental e entre estudantes, uma vez que disponibiliza profissionais bem treinados, versáteis e sorridentes, que agregam conteúdo a entretenimento. Todas as aulas dos profissionais do Professor Delivery dispõem de momentos de relaxamento que seguem desde sessões de Pilates a karaokês.
Os professores participantes do aplicativo Professor Delivery (carinhosamente chamados de PD) prezam por momentos de descontração, pois entendem ser este um momento fundamental para o feedback dos estudantes. Profissionais avaliados com cinco estrelas gozam da comodidade da taxa diamante, que permite o prazer adicional de degustação de trufas e água com gás em dias de avaliação.
Em média, estes profissionais tendem a trabalhar entre 10 e 12 horas por dia (de segunda a sábado) para compensar o custo baixo da hora-aula e a inexistência de direitos trabalhistas nesta nova categoria de “novos empresários” da educação.
Essa versão tecnológica da terceirização (prestes a ser aprovada em algumas cidades brasileiras) deve ser a pá de cal no longo processo de deterioração da educação brasileira, voltada à obtenção de índices de aprovação em detrimento ao real processo de ensino-aprendizagem.
E a nação que já viveu dias de Paulo Freire passa a conviver com a completa banalização do processo de ensino.
Para as Universidades, o crescimento da terceirização (consequência direta do plano de demissão voluntária e aposentadorias) ataca mortalmente as ações de pesquisa/ extensão, dada a rotatividade dos profissionais e a fragilidade em sua relação com a instituição. As instituições públicas com histórico de sucesso em Ciência & Tecnologia, por exemplo, podem se resguardar e tentar sobreviver como centros de pesquisa, enquanto que as demais tenderão a se assemelhar a grande “Escolas”, facilmente agregáveis ao sistema privado de ensino superior.
E o mercado, enfim, transformará a Universidade Brasileira em uma grande fábrica de diplomas, que não necessariamente precisará produzir conhecimento, pois estará vinculada aos velhos e confortáveis livros textos importados. A nação que fez brotar a Embraer está perdendo a capacidade de gerar riquezas a partir de seus cérebros.
A coluna Ciência Nordestina de Helinando Oliveira é atualizada às terças-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag CiênciaNordestina.
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Helinando Oliveira