A docente da Faculdade de Serviço Social sucede no cargo o professor Eurico Lôbo
A poucos dias de completar seus 55 anos, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) – a data do aniversário é 25 de janeiro – vive a expectativa de ter empossada sua nova reitora, Valéria Correia. A cerimônia ocorre nesta quinta-feira, 21, em Brasília, com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e a transmissão de cargo será na sexta-feira, 22, a partir das 16h, no auditório da Reitoria, Campus A.C. Simões, em Maceió. O atual reitor Eurico Lôbo irá conduzir a solenidade e entregará a gestão da instituição a Valéria Correia, docente da Faculdade de Serviço Social.
Eleita no último 6 de novembro, a candidata que ostentava o lilás nos materiais de divulgação de sua campanha, relata em entrevista a Assessoria de Comunicação (Ascom) que quer levar todo o simbolismo da cor, “a diversidade, a perspectiva de transformação, a cura, a serenidade e a espiritualidade” para os próximos quatro anos de sua gestão. Na ocasião, a nova gestora adiantou algumas de suas decisões que devem ser tomadas logo nos primeiros quatro meses.
Entre as medidas estão uma aproximação com os órgãos de controle do governo federal, como a Controladoria Regional da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU); com a imprensa e com a comunidade, por meio da inserção em veículos, como a Rádio e a TV Educativa; a produção de programas para Web TV; a criação de um Fórum Social Alagoano; de um Seminário de Energias Renováveis; e a realização de um diagnóstico da Universidade, a ser apresentado à comunidade. A equipe também iniciará um planejamento participativo, criará cotas para os servidores nos programas de pós-graduação da Ufal e já na próxima quarta-feira, 27, está marcada uma reunião com o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e os Centros Acadêmicos, com a mediação da pró-reitora estudantil, Analice Dantas, que tomará posse na próxima sexta-feira, 22.
“As nossas primeiras decisões já foram organizadas, pensadas e discutidas em uma reunião de quatro dias da nova gestão, em avaliação e proposição daquilo que estamos chamando de ações emergenciais para os próximos 120 dias. Tudo foi pensado dentro do limite financeiro. Já sabíamos que íamos herdar uma situação financeira difícil das universidades, mediante os cortes, que vêm especialmente depois de 2015. A gente não subdimensionou os cortes, o que a gente está propondo são ações que não vão demandar grandes recursos orçamentários”, declarou a reitora, para início de conversa.
Ela enfatizou que a grande obra a ser conseguida nos próximos quatro anos será o Complexo Cultural, que deverá atender aos cursos de Artes e concentrar atividades culturais realizadas pela comunidade acadêmica. “Esse espaço será aquele que terá um grande vulto financeiro, mas assim, a gente não pode colocar para já. Certamente será uma emenda de bancada, porque a gente pretende também conversar com as bancadas. Uma coisa que a gente pensa é que é preciso ir para além dos recursos existentes. Hoje tem um sistema de convênio do governo federal, que são janelas de oportunidades, por meio de editais. Para isso, a gente vai ter pessoas nas assessorias de Gabinete de olho nesse sistema de convênios e, ao mesmo tempo, uma equipe inter pró-reitorias para buscar esses recursos novos”, pontuou.
Capacidade técnica e poder de diálogo
De acordo com a reitora, a equipe que dará conta desse trabalho foi formada a partir de critérios técnicos, da capacidade de diálogo e da concordância com os princípios e propostas pregadas ao longo da campanha.
“Tinham que ser pessoas com capacidade de dialogar com os técnicos, que compõem as pró-reitorias, de dialogar com os estudantes, com os professores e com a comunidade de uma forma geral. Tanto é que na nossa gestão tem pessoas que não nos apoiaram. Porque a gente concebe o seguinte: o que a gente defendeu e suas propostas, a gente não vai abrir mão delas, porque a gente elegeu uma concepção de universidade. Eu fui eleita, juntamente com o professor Vieira, porque isso representa uma concepção de universidade e isso está ligado a minha trajetória de inserção política e acadêmica. Vamos aproveitar quadros técnicos importantes, que independente de quem apoiou nas eleições, a gente dialogou e convidou para ocupar nossa gestão. O tempo das eleições acabou e o que a gente quer construir é outra Ufal, sim, dentro dos princípios que a gente defende, mas com todos que fazem parte dela”, assegurou Valéria.
Transição de gestão e interiorização da Ufal
Desde dezembro, a atual e a nova gestão vêm mantendo reuniões entre suas equipes de pró-reitorias. De acordo com Valéria, esses encontros vêm ocorrendo com tranquilidade, mas algumas das últimas ações do reitor pro tempore têm gerado ruídos nesse processo, como o lançamento das pedras fundamentais de futuros campi no interior do Estado. Valéria afirmou seu apoio à expansão das universidades, no entanto, de acordo com a nova gestora da Ufal, o processo de interiorização deve ser repensado.
“A interiorização da Universidade, especialmente para o Estado de Alagoas, tem um papel fundamental, em todos os aspectos. Nós concordamos e queremos continuar essa expansão, principalmente porque o MEC já anuncia que o processo de expansão das universidades, que num primeiro momento tinha sido cerceado por causa da crise econômica, vai continuar. Para a gente, é muito bom que aconteça. Agora, se você me perguntar ‘onde é que vai ser?’ Se já existe um terreno doado, certamente que será neste lugar e, ‘agora, que cursos?’ Vamos criar uma comissão para pensar a expansão e a interiorização da universidade. Esse comitê terá dois objetivos: um é revisar tanto a parte da infraestrutura, quanto da grade curricular. Além disso, vai pensar e reavaliar o processo de expansão já anunciado em Penedo e especialmente em Porto Calvo”, comentou.
Se a futura gestora ainda não é capaz de precisar o que será modificado, ela já acena para as licenciaturas, que ganharão força durante sua gestão. “Já digo, as licenciaturas, que é a formação de professores, é a nossa prioridade para o interior de Alagoas”, acrescentou.
Trajetória de luta nas áreas da educação e saúde
Maceioense, crescida no bairro do Tabuleiro e mãe de três filhos, Valéria não tem hobbies, tampouco tempo livre. É que ela vem dedicando a maior parte de sua vida à Ufal. Essa relação começou ainda em 1979, quando entrou na graduação, em Serviço Social. Após formada, em 1982, começou a trabalhar como servidora concursada para o Governo do Estado, onde atuou nas secretarias de Educação e de Saúde, a partir de 1987.
Mesmo sem atuar como docente, Valéria não conseguiu largar seus vínculos com a Academia e sua atuação junto ao Núcleo de Saúde Pública (Nusp) da Ufal lhe deu a possibilidade de coordenar a 9ª Conferência Nacional de Saúde, em Alagoas. A partir de então passou a viver uma dupla jornada entre a Secretaria e as atividades de pesquisa e extensão na Universidade. “Eu desenvolvi uma pesquisa de controle e participação social na política de saúde. Na época, o nosso trabalho, pela metodologia de participação que a gente criou, foi referência para o Ministério de Saúde e fui convidada pelo Ministério para formular a política nacional, a partir da minha experiência, que foi bem-sucedida”, lembrou a reitora.
Quando assume o cargo de professora efetiva na Ufal, em 1994, já estava em andamento o seu mestrado em Serviço Social, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), concluído em 1997. Em seguida, Valéria atrelaria suas atividades como docente a sua qualificação acadêmica, com o doutorado (2000-2005), também na UFPE, e o pós-doutorado (2011), na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
A nova reitora também adquiriu experiências de gestão, quando foi pró-reitora Estudantil da Ufal (2004-2005); coordenadora do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Serviço Social (2012-2013) e diretora da mesma unidade (2014-2015).
“A minha inserção na Universidade foi na pesquisa e na extensão, antes de virar professora. Nos anos 90 a 94 eu já tinha, no Núcleo de Saúde Pública, uma estreita relação. Na área de extensão, eu sou fundadora do Fórum em Defesa do SUS, como da Frente Nacional contra à Privatização da Saúde. Essa mobilização em defesa da saúde e da educação, a defesa dos serviços públicos, faz parte da minha história de luta e a minha relação com os movimentos sociais também faz parte da minha história. Então, só facilita a gestão participativa, quando você já tem uma vivência nesse processo. Para mim, são atributos positivos numa gestão de uma universidade que pretende ser mais e, especialmente – foi o grande mote da nossa campanha –, ser crítica e socialmente referenciada. Então, ser socialmente referenciada, quando você tem já uma relação forte com os movimentos sociais e com a sociedade, de uma forma geral, são atributos positivos numa gestão democrática, autônoma e crítica, que são os slogans da nossa campanha, da Outra Ufal é Possível”, pontuou a docente.
Transmissão de cargo terá celebração cultural
Na transmissão do cargo, Valéria utilizará uma samarra produzida e presenteada por Solange Arruda. A peça possui aplicações entre filé e crochê e deverá ser usada pela reitora, como forma simbólica de celebrar a integração entre a Academia e os movimentos culturais. Além das principais autoridades do Estado, deverão comparecer à solenidade representantes de movimentos populares e de sindicatos, mas o convite está aberto a toda comunidade.
“O caráter que a gente quer dar é que a Universidade é do povo e a gente vai tanto ter a Orquestra e o Coral, que são equipamentos culturais clássicos da Universidade, e vai além disso, a gente vai contar com a colaboração espontânea de grupos culturais, desde banda de Pífano ao Maracatu”, enfatizou a reitora.
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