Ricardo Ojima: Brasil vive janela de oportunidade em demografia Geral

segunda-feira, 11 janeiro 2016


O coordenador do Programa de Pós-Graduação em Demografia da UFRN, Ricardo Ojima, fala dos projetos e linhas de pesquisa desenvolvidos.

O Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) foi criado em 2011, o que o caracteriza como novo ainda. É um dos quatro existentes no Brasil e o primeiro localizado fora da região sudeste, como afirma o professor Ricardo Ojima, que é coordenador do Programa e editor adjunto da Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente. Os outros três são na Universidade Federal de Minas Gerais, na Universidade de Campinas (Unicamp) e na Escola Nacional de Ciências Estatísticas.

Ojima fez toda a carreira acadêmica na Unicamp, desde a graduação em Ciências Sociais ao doutorado em Demografia. Ele acredita que a sociedade deve ter conhecimento dos resultados das pesquisas e usa as várias potencialidades da internet para fazer divulgação científica. Atualiza três blogs, dois perfis no Facebook e a página do Programa no portal da UFRN. No seu currículo na plataforma Lattes do CNPq, informa que tem como áreas de interesse a Demografia, a Mobilidade espacial da população e a Urbanização.

Já classificou dois livros entre os 10 melhores em duas edições do Prêmio Jabuti. Na última edição, foi o livro Mudanças Climáticas e as Cidades: Novos e Antigos Debates na Busca da Sustentabilidade Urbana e Social, organizado por Ojima e Eduardo Marandola Jr, na categoria Ciências da Natureza, Meio Ambiente e Matemática. Na 53ª edição, em 2011, ficou em quarto lugar na categoria Ciências Naturais, com o livro População e ambiente: desafios para a sustentabilidade. O Jabuti é a principal premiação do mercado editorial brasileiro. Em sua produção bibliográfica consta a publicação de 10 livros e participação em outros 24.

Acompanhe a entrevista do Professor Ricardo Ojima ao Nossa Ciência.

Nossa Ciência: Do que trata a demografia?

Ricardo Ojima: O objeto central da demografia é a análise dos componentes principais que são os nascimentos, as mortes e as migrações e as relações que essas três componentes tem com outros aspectos da dinâmica social, política e econômica. Por exemplo: quando há uma diminuição do número de nascimentos, se tem a redução da proporção de crianças e o peso dos adultos e dos idosos aumenta. Esse é um dos aspectos que a gente tem passado no Brasil. A maior parte da população hoje está concentrada nas idades adultas.

Na demografia, a gente só tem formação no nível de pós-graduação e essa é uma das características da interdisciplinaridade da área. No nosso programa, temos alunos egressos das ciências sociais, medicina, fisioterapia.

NC: Uma das fontes de dados são as pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)?

RO: Justamente. Normalmente a nossa principal fonte de informações para análise são os dados do censo demográfico, PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e também as bases de dados do Ministério da Saúde, os sistemas de informação de nascimentos, de óbitos, sistemas de internações hospitalares. A gente garimpa qualquer fonte de dados que envolva questões demográficas e populacionais para tentar extrair o máximo possível de informação, para analisar o comportamento dessa dinâmica. O demógrafo é o mais indicado para comentar esses dados.

NC: Como é o retorno dos dados analisados, a quem serve?

RO: Em grande parte o nosso foco principal acaba sendo as políticas públicas municipais, estaduais e em nível nacional. Ajuda também na formulação das políticas de saúde e até políticas econômicas também dá pra ter uma boa dimensão demográfica envolvida. Hoje a gente passa pelo que demograficamente se chama de bônus demográfico, que é esse momento que a gente está vivendo agora no Brasil, onde tem maior proporção de pessoas em idade economicamente ativa, que é entre 15 e 64 anos. Nunca antes na história do Brasil teve tanta gente com idade apta ao trabalho. Isso pode ser chamado de bônus demográfico ou janela de oportunidades. Eu prefiro o termo janela de oportunidade, porque nem sempre é um bônus, só se tiver um aproveitamento desse excedente de mão de obra disponível para o trabalho. Quando se tem uma proporção muito grande de crianças ou de idosos, tem muitas pessoas que estão fora do mercado e as que estão na idade de trabalhar tem que bancar economicamente essas outras parcelas da população. No Brasil, estamos no processo de transição demográfica.

NC: O senhor poderia explicar melhor essa janela?

RO: Essa janela tem pouco mais de vinte anos e deve fechar em 15 anos, mais ou menos. Vamos ter uma diminuição da proporção de adultos e o aumento da proporção de idosos, que é a que mais cresce no Brasil. Estamos numa fase de estabilização do crescimento da população como um todo. A previsão do IBGE é que até 2040 a população brasileira estabilize e depois passe a decrescer. A partir desse momento, combinado com a diminuição do número de crianças, o peso dos adultos também vai começar a diminuir e o de idosos vai aumentar. Até 2050, 25% da população brasileira vai ser idosa e cada vez maior. Somando ao fato de estarmos diminuindo o número de crianças, as pessoas também estão vivendo mais, então você também tem um aumento do peso dos idosos na população porque a faixa de idade no topo também está aumentando. Isso vai ter um impacto grande em vários aspectos, previdência social e saúde são os principais porque é muito mais custoso para a sociedade manter um idoso do que manter uma criança. O custo de saúde de uma criança é muito baixo. Depois que passa o primeiro ano de vida, a criança tem poucas enfermidades; o idoso, ao contrário, necessita de um conjunto de especialidades médicas para dar conta de todos os acúmulos de doenças ao longo de sua vida toda, principalmente com o aumento da expectativa de vida e aumento da longevidade, de quanto tempo as pessoas vivem mais. Para que as pessoas vivam mais tempo, isso não necessariamente significa que elas estão com melhor saúde, elas vivem mais tempo, mas com mais controle das suas doenças e isso faz com que tenham gastos em remédio e atendimentos médicos.

NC: E há contato com os órgãos públicos?

RO: Esse é um dos nossos desafios. Por ser um programa novo, a gente tem que fazer tudo ao mesmo tempo e às vezes não tem tempo para enfrentar todas as frentes. Temos uma A gente acabou de começar um contato com as Secretarias da Juventude e de Politicas para Mulheres, ambas do estado. Fizemos um curso de atualização de 8 horas em dezembro de 2015 e a perspectiva é ampliar esse curso de maneira mais aprofundada e para outras instancias governamentais interessadas. Temos um projeto coordenado pela professora Luciana Conceição de Lima, que é especificamente para gerar informações para a gestão pública. É para subsidiar apoio para a tomada de decisão na gestão pública. É muito mais um esforço para fazer com que os gestores públicos saibam que existem dados públicos disponíveis em vários sites, que a maior parte deles não sabe, e um pouco de técnicas, de ferramentas de análise demográfica para poder manipular minimamente esses dados e poder tirar relatórios, por si só. Nosso esforço é de capacitação, de tentar transferir conhecimento para a gestão pública para que eles mesmos possam gerar seus dados, seus relatórios, fazer suas análises de acordo com a demanda. Isso está começando. A gente teve uma experiência anterior mas não deu muito certo, os nossos contatos ainda não eram tão bons.

NC: Isso é uma espécie de retorno à sociedade?

RO: Eu acho que a divulgação científica é fundamental para que o gestor público saiba que a gente existe e saiba o que é que a gente faz para que ele venha demandar. A gente tem se esforçado bastante em dar retorno à sociedade. A minha perspectiva, e acredito que da maioria dos nossos docentes, é que a gente trabalha para a sociedade, a gente recebe dinheiro público para fazer pesquisa e recebe salário público. Então não só a parte da formação de recursos humanos aqui dentro, mas também digerir as informações que a gente publica em artigos (científicos), que são mais herméticos, para a sociedade em geral e transformar em textos que as pessoas entendam. Isso é uma tendência, também é orientação do CNPq, orientação da Capes para que isso seja feito, mas a gente não recebe treinamento para isso na nossa formação científica, então é um esforço muito grande. Há cinco anos que eu dialogo bastante com a imprensa, mas é sempre difícil falar sem citações, sem conceitos, transformar tudo numa coisa mais simples, para que as pessoas em geral possam entender.

NC: Quais são as linhas de pesquisa do PPGDem?

RO: Temos projetos na área de migrações, que são as que eu coordeno; em estimativas de taxas demográficas, que é uma parte mais metodológica do nosso programa. Esse projeto busca melhorar as informações, corrigir as informações que não estão tão boas, que é essa coisa que a gente estava falando de minerar os dados. Nem sempre os dados podem ser usados da forma como são apresentados, principalmente dados de pequenas áreas. Os dados quando vão ficando menos volumosos ou quando são em áreas menores, os erros tendem a ser mais gritantes, porque são poucos dados. Se tiver um pequeno erro, ele aparece muito mais. Quando a gente está trabalhando com grandes números, eles se escondem no meio da grande tendência e não há tanto problema e as técnicas nos permitem ter mais segurança. Também temos projetos na área de mercado de trabalho, a relação da dinâmica do mercado de trabalho, focando mais a região nordeste; demografia na educação, que enfoca a qualidade, a relação entre as redes sociais e o melhor desempenho das crianças.

NC: E o cenário, é sempre Brasil ou tem nordeste?

RO: A gente tende a dar um enfoque maior para o nordeste por causa dessa concentração dos (outros) programas, a maior parte está no sudeste, então as pesquisas se concentravam sempre por lá ou mesmo quando estudavam o nordeste, era com o olhar sul-centrado, sempre em referência ao sudeste. A gente tem tentado focar os nossos projetos para entender as especificidades da região nordeste, não só o nordeste como um todo, mas as intrarregiões, nas unidades da federação ou até em outros recortes espaciais.

NC: Sendo um programa tão recente, como está a produção do conhecimento, por exemplo, com a publicação de artigos?

RO: Isso está em processo. É um programa novo com projetos novos, mas em 2015 teve a reunião da Capes, das coordenações de todas as áreas e comparativamente aos programas da nossa área, considerando o tempo desses outros programas, a gente está num nível até surpreendente. Nossa média de publicações tem sido muito boa e com uma grande concentração de publicações nos estratos mais altos da avaliação do Qualis da Capes, acima de B1. Setenta por cento da nossa produção científica está concentrada entre os periódicos de A1 até B1, que são os mais bem avaliados. Por isso a gente está confiante de que (o Programa) vai ter uma boa avaliação em 2016. Tendo uma boa avaliação, poderemos submeter a proposta de doutorado na sequência.

O professor Ricardo Ojima já escreveu artigos para o Nossa Ciência. Para ler, acesse aqui  e aqui . Os blogs e perfis atualizados por ele são os seguintes:

www.demografiaufrn.net

www.facebook.com/ppgdem

www.facebook.com/observamigranordeste

http://demografianordeste.blogspot.com.br/

http://observamigranordeste.blogspot.com.br/

http://demografiadaseca.blogspot.com.br/

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