Para Francisco Teixeira, a integração do Rio São Francisco vai beneficiar 400 cidades nordestinas, mas ainda são necessárias ações complementares como a construção de barragens e adutoras.
A integração da bacia do Rio São Francisco com as bacias do nordeste setentrional vai promover a descentralização do desenvolvimento, beneficiando cerca de 400 cidades nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Pernambuco. Porém, tão ou mais importante do que trazer a água, é executar uma boa gestão dos recursos hídricos porque água não é um bem infinito, tem que ser usada com parcimônia, de maneira tecnicamente adequada. Esta é a opinião do secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Francisco José Coelho Teixeira, que participou em Natal, do Fórum de Secretários de Recursos Hídricos do Nordeste, no dia 29.
Para ele, o Projeto de Integração do São Francisco, iniciado pelo governo federal em 2005, é uma garantia hídrica à região que tem 28% da população brasileira e gera o equivalente a 14% do Produto Interno Bruto nacional, especialmente aos quatros estados recebedores da água, incluindo Pernambuco, que também é doador. “É impensável qual projeto na região com o colapso que se tem hoje”, declarou. Ainda que a pecuária tenha um bom rendimento mesmo na região do semiárido, o potencial de desenvolvimento dos estados nordestinos é prejudicado pela crise dos recursos hídricos. “No nordeste não conseguimos passar da economia de subsistência para a economia industrializada, como ocorreu em São Paulo e Rio de Janeiro, que passaram da economia cafeeira para a indústria”, exemplificou. O bom exemplo da pecuária vem do estado do Ceará, que teve um aumento de 30% na produtividade nos últimos quatro anos de seca, segundo o secretário.
Apresentando um conhecimento de diversos aspectos da questão hídrica no nordeste, como o fato do Rio Grande do Norte ter água subterrânea em cerca de 40% do seu território, o que representa uma boa segurança hídrica, porém não tanto quanto o Piauí, que é estado mais rico em água subterrânea, Teixeira foi enfático na necessidade de fortalecimento da gestão da água. “A população tem que saber usar. Não pode ter estrago de água porque esse bem é escasso não só no nordeste brasileiro, é no mundo todo”, pontuou. O ex ministro da Integração Nacional do Governo Dilma lembrou que mesmo com bons índices de chuva em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, está faltando água no sudeste devido ao uso excessivo.
Colapso
Sobre experiências exitosas desenvolvidas em seu Estado e que poderiam ser replicadas nos demais, o secretário apontou a decisão política de tratar os recursos hídricos como prioridade, com a criação há 30 anos da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH). Com apenas 16% da reserva de água, o Ceará com seus nove milhões de habitantes tem extraído água de uma profundidade inimaginável há 10 anos. Enquanto o governo, através da Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra), tem perfurado poços em áreas urbanas, a iniciativa privada tem se ocupado de fazer o mesmo nas áreas rurais. A água tem alto índice de salinidade, porém pode ser usada para limpeza doméstica e saneamento. A integração de bacias já uma prática no Estado. “Fortaleza, hoje, só não está em colapso hídrico porque recebe água de 200 quilômetros de distância, através de uma integração de bacia, trazendo água do (Rio) Jaguaribe para as bacias metropolitanas, desde maio de 2012”, exemplificou.
Sabendo-se da recorrência dos períodos de seca na região, o secretário credita à dificuldade de articulação entre instituições públicas de diferentes esferas a pouca interação entre órgãos gestores da água e as instituições de pesquisa científica no Brasil para troca de conhecimento e experiência. Por outro lado, considera as universidades brasileiras muito fechadas, o que dificulta ainda mais a articulação institucional e acaba gerando parcerias de pessoas. “Muitas vezes o relacionamento com a universidade não é com a universidade em si. É com o departamento de um determinado setor, com um professor de uma determinada área da universidade”, revela.
A ampliação da infraestrutura hídrica e o fortalecimento dos organismos estaduais que implantam e gerenciam a política de recursos hídricos são apontados como estratégias fundamentais para uma boa convivência com a seca. Para o fortalecimento de órgãos como a SRH e a Sohidra, Teixeira defende a realização de concursos públicos para a criação do que ele chama de uma capacidade técnica institucional. “Temos que ter no nordeste uma massa crítica. Só com institucionalidade forte e conhecimento científico, técnico e prático é que vamos ter uma boa política de recursos hídricos e uma convivência com a seca”, afirmou.
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