Em sua estreia na coluna, Helinando Oliveira presta uma homenagem ao plano de interiorização das Universidades Federais brasileiras
Nesta primeira matéria da Coluna Ciência Nordestina prestaremos uma homenagem ao bem-sucedido plano de interiorização das Universidades Federais no Brasil, que levou conhecimento aos jovens que tinham por única opção migrar para as Universidades tradicionais – normalmente nas capitais. As novas Universidades vieram como forma de suprir dívidas seculares para com o povo do interior.
E este processo teve impulso recente em 2004, com a criação da Universidade Federal do Vale do São Francisco, em um tempo em que o doutorado era a etapa que precedia um tour pelas Universidades brasileiras na busca por bolsas de pós-doutorado (consequência da estagnação de novas vagas nas Universidades da era FHC).
A interiorização das Universidades no país no governo Lula representou uma quebra muito clara nesta tendência, ao mesmo tempo em que permitiu a consolidação das atividades de pesquisa nos diversos centros.
Mesmo nas instituições jovens (apesar do foco voltado à consolidação da infraestrutura para o ensino de graduação), o período dentre 2004 e 2012 foi extremamente favorável ao fomento a jovens pesquisadores, novos grupos de pesquisa assim como para grupos consolidados por todo o país.
Ações como os Institutos do milênio, programas de apoio aos núcleos emergentes e de excelência (Pronem e Pronex), editais temáticos do CNPq, chamadas anuais da FINEP (projetos de infraestrutura – CT-Infra), editais universais regulares, institutos nacionais de ciência e tecnologias (INCTs) e o fortalecimento das fundações de amparo à pesquisa nos estados possibilitaram fluxo considerável de recursos e equiparam laboratórios de razoável nível de complexidade por todo o país, viabilizando a fixação de doutores e a capacitação de pessoal qualificado em locais com pouca ou nenhuma tradição científica. E assim desembarcaram no interior do país não apenas os desejados cursos de graduação, mas também bons laboratórios, que promoveram uma verdadeira revolução científica no interior do nordeste brasileiro.
Univasf: instalação causa impacto positivo na região
Ainda em 2004, a própria população do Vale do São Francisco não entendia claramente a importância de uma Universidade Federal em Petrolina/Juazeiro, associando a sua chegada com o aquecimento do mercado imobiliário. Como exemplo de quão impactante foi esta chegada, podemos citar o questionamento criado pelo primeiro Edital de bolsas de iniciação científica entre estudantes e professores. Nascia ali o embrião da cultura da pesquisa dentro da Univasf. 13 anos depois já é possível ver pesquisadores estrangeiros, bolsistas de pós-doutorado, doutorandos, mestrandos e graduandos fazendo ciência sob o sol do sertão nordestino.
O investimento em ciência e tecnologia demonstra ser dos mais seguros. Ele caracteriza o zelo que os governos dedicam para com o desenvolvimento de sua nação. E infelizmente a proporção deste cuidado varia de governo para governo. Saímos de um patamar extremamente favorável à ciência a um outro que mais se assemelha ao apocalipse (dentro de uma escala de poucos anos). Uma nação que deseja crescer pela produção da ciência não pode ser refém de governos e viver aos sopapos da política neoliberal. O vento virou e tudo parece cair em um poço sem fundo. Sem recursos para bolsas, sem investimentos, sem planos, sem projetos… O céu continua aberto e as mudas de talo fino (instituições novas, decorrentes do plano de expansão) não resistem a vendavais tão fortes. Nuvens carregadas e muita tempestade parecem surgir no céu. Será que esta chuva arrancará tudo e levará o esforço de toda uma geração? Quem poderá nos salvar de tamanha desgraça que surge no horizonte?
Saiba mais sobre o professor Helinando Oliveira.
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