A seca prolongada tem impacto na economia regional e o setor do turismo é um dos mais afetados. Esse foi o resultado do estudo sobre os efeitos da estiagem no turismo do Seridó norte-rio-grandense. “Mais da metade dos turistas deixam de visitar a região nos períodos de seca”, afirma Marcelo da Silva Taveira, coordenador do projeto e professor do curso de Turismo do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres) campus Currais Novos, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O pesquisador explica que há um impacto nas atrações locais: a vegetação e a paisagem mudam, diminuindo o interesse pelos atrativos regionais. “As pessoas têm menos motivação para visitar o Seridó no período de estiagem, embora as belezas sejam outras. É um outro Seridó que aparece, mas a seca não permite impulsionar a atividade turística”, avalia.
O projeto
A pesquisa A seca e seus efeitos no desenvolvimento do turismo do Seridó Potiguar está sendo desenvolvida em dez cidades seridoenses: Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Currais Novos, Florânia, Lagoa Nova, Jucurutu, Parelhas e Serra Negra do Norte. Esses municípios utilizam o turismo como uma estratégia para desenvolver a economia local.
Para desenvolver o estudo, os pesquisadores do Ceres estão visitando essas cidades e aplicando questionários entre as principais empresas dos setores de gastronomia e de hospedagem e com os gestores públicos municipais.
O objetivo dos pesquisadores é apresentar um diagnóstico da situação e mostrar possibilidades de convivência com a seca. “Estamos pensando em campanhas educacionais sobre consumo da água para amenizar os efeitos da estiagem prolongada”, afirma o coordenador.
Economia de água
Outra meta é promover o consumo compartilhado de água para diminuir os gastos do setor. “Donos de hospedagens e de restaurantes podem se unir para comprar água de um mesmo fornecedor, ao invés de ficar cada um comprando de forma isolada. Isso ajudaria principalmente as empresas menores, pois os altos custos interferem diretamente na qualidade do serviço e alguns estabelecimentos chegam a fechar por falta de água”, explica Taveira.
A conscientização dos turistas é um aspecto que merece destaque. Ivanildo Araújo, morador de Currais Novos e gerente de uma pousada, conta que alguns clientes não se conscientizam da situação e não querem economizar. “Colocamos cartazes em todos os quartos, mas ainda temos problemas”, diz.
Formação
Seis estudantes do curso de Turismo do Ceres fazem parte do projeto. Taveira acredita que a análise é importante para os futuros turismólogos, pois aborda planejamento e gestão. “Lidar com contradições econômicas, sociais e ambientais faz parte da formação dos alunos. Eles precisam saber o que está à espera para tentar transformar essa realidade a partir de intervenções”, avalia.
Uma das pesquisadoras, a aluna do 3º período de Turismo Renata Ingrid da Silva Araújo, está tendo a oportunidade de estudar a situação de sua cidade natal. Ela conta que Florânia vive o problema da seca há anos e as cachoeiras, atrativos naturais do local, secaram. “A economia da cidade foi afetada porque não há mais turistas”, afirma. “A pesquisa ajuda bastante na formação acadêmica porque a gente vê na prática os efeitos da falta de água”, explica.
Outros efeitos
A pesquisa identificou que, além de interferir na atividade turística, a estiagem prolongada tem afetado o comércio no Seridó. “Muitas empresas estão fechando e demitindo profissionais”, observa o coordenador.
O setor imobiliário também está sendo penalizado pelo longo período sem chuvas. “Há alguns anos, não tínhamos uma oferta muito grande de imóveis. A demanda era alta e era difícil encontrar uma casa ou apartamento para alugar em cidades como Caicó e Currais Novos, que são universitárias”, relembra o professor. “Com o advento da seca, as pessoas têm migrado para outras regiões. Hoje nós temos uma oferta imensa de imóveis”, destaca.
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