Genoma de caramujo transmissor do Schistosoma mansoni é sequenciado Pesquisa

quinta-feira, 22 junho 2017

Pelo menos em cinco estados do nordeste a transmissão ocorre de forma endêmica. No país cerca de 1,5 milhão de pessoas podem estar infectadas

Alagoas, Bahia, Maranhão, Pernambuco e Sergipe estão na lista do Programa de Esquistossomose do Ministério da Saúde que mostra os estados onde a transmissão da esquistossomose ocorre de forma endêmica. Relatório nacional aponta que aproximadamente 1,5 milhão de pessoas possam estar infectadas com o Schistosoma mansoni no Brasil.

Um artigo publicado na Nature Communications, uma das mais influentes revistas científicas, apresenta o sequenciamento do genoma do Biomphalaria glabrata, espécie de caramujo que é o principal e mais importante hospedeiro do Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose, doença que afeta 240 milhões de pessoas em todo o mundo. O estudo que deu origem ao artigo envolveu instituições de onze países, entre elas a Fiocruz Minas.

O mapeamento fornece uma descrição completa acerca das características do caramujo, incluindo informações relacionadas à estrutura física do molusco e ainda à forma como ele se comporta. Isso torna possível, por exemplo, entender como funciona os sistemas digestivo, respiratório, reprodutivo, entre outros, além de jogar luz sobre questões comportamentais, que podem explicar a forma de interação entre o Biomphalaria glabrata e o ambiente. Ao todo, foram identificados 14.423 genes.

Metodologia

“A partir de agora, será possível melhor entender e compreender a funcionalidade desse molusco e encontrar formas mais eficazes para controlá-lo ou torná-lo, se possível, um molusco resistente à infecção pelo S. mansoni. Talvez possamos entender como o mecanismo de defesa da B. glabrata permitiu que o parasita se adaptasse tão bem a ele”, afirma o pesquisador Omar dos Santos Carvalho, do Grupo de Helmintologia e Malacologia Médica (HMM) da Fiocruz Minas.

O estudo, que durou 15 anos, teve início na Fiocruz Minas, com a captura e caracterização dos caramujos, realizadas pelos pesquisadores Omar Carvalho, Roberta Caldeira e José Amorim da Silva. Nos laboratórios da unidade, os caramujos foram submetidos a diferentes experimentos, visando assegurar que a espécie coletada era de fato a B. glabrata.

“Fizemos a identificação morfológica, ou seja, uma análise dos órgãos internos de vários exemplares do caramujo e, para ampliar a confiabilidade, realizamos estudos moleculares para confirmação da identificação da espécie”, explica a pesquisadora Roberta Caldeira, do Grupo de HMM. Segundo ela, os moluscos coletados foram ainda submetidos à infecção com duas cepas de Schistosoma mansoni, já que uma característica relevante da B. glabrata é a alta taxa de infectividade.

Equipe internacional

Os pesquisadores da Fiocruz também fizeram análise de dados genômicos, proteômicos e transcritômicos, bem como a Identificação de proteínas envolvidas na via de pequenos RNAs . Os resultados dessas metodologias de nomes complicados fornecem informações importantes acerca da biologia do caramujo, bem como da relação entre ele e o hospedeiro. Possibilitam também compreender melhor os mecanismos de suscetibilidade e resistência de B. glabrata ou ainda as condições que a torna mais propensa à infecção.

“O grande diferencial desse estudo é a enorme quantidade de possibilidades que ele gera. Para se ter uma ideia, foram publicados, em forma de suplementos neste artigo da Nature, cerca de outros 50 artigos explorando os dados genômicos gerados por esse projeto”, destaca Caldeira.

O estudo envolveu o trabalho de 118 pesquisadores. Só na Fiocruz Minas e na Universidade Federal de Uberlândia, 16 pessoas estiveram envolvidas: Roberta Caldeira, Omar Carvalho, Liana Passos, Guilherme Oliveira, Juliana Assis, Yesid Cuesta-Astroz, Sandra Gava, Fernanda Ludolf, Francislon Oliveira, Fabiano Pais, Izinara Rosse, Larissa Scholte, Matheus de Souza Gomes, Elio Baba, Laurence Amaral e Wander Jeremias. Dentre esses, Guilherme Oliveira, agora no Instituto Tecnológico Vale em Belém, foi um dos membros do comitê que editou a versão final do artigo.

“O sucesso desse trabalho é resultado do esforço de uma equipe internacional. Foi um grande prazer e muito gratificante participar deste grande grupo”, ressalta Omar Carvalho. Conheça o artigo da Nature.

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