O relato está em dois artigos de grupos de pesquisa distintos publicados na revista Nature. Em Natal (RN), casos notificados de dengue, zika e chikungunya caem quase 90%
O vírus zika chegou ao Nordeste brasileiro no início de 2014, um ano e meio antes de ser detectado no restante do Brasil no final de 2015. Esse é o relato de dois artigos de grupos distintos publicados na revista Nature. Oculto, o vírus rapidamente se espalhou pelo país, tirando proveito dos abundantes mosquitos Aedes aegypti e de uma população humana cujo sistema imunológico ainda não tinha travado conhecimento com ele, além de camuflar-se em meio aos sintomas parecidos causados por dengue e chikungunya. Na contramão da expansão, dados divulgados em Natal (RN) atestam que houve uma redução nos casos notificados de dengue, zika e chikungunya caem quase 90%.
Em Porto Rico, Honduras, na Colômbia e na área que inclui o Caribe e os Estados Unidos, também se passaram meses entre a entrada do vírus e a detecção dos primeiros casos. De acordo com um dos artigos da Nature, coordenado pelas geneticistas Bronwyn Maclnnis e Pardis Sabeti, ambas do Instituto Broad, nos Estados Unidos. O trabalho envolveu o sequenciamento de 110 genomas do vírus zika coletados em 10 países diferentes. As análises genéticas foram feitas no instituto, com equipamento e ferramentas robustas. Já o grupo liderado pelo evolucionista Oliver Pybus, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, responsável pelo segundo artigo, fes um monitoramento em tempo real usando um aparelho portátil para sequenciar 54 genomas.
As conclusões semelhantes obtidas por caminhos distintos nos dois artigos reforçam as interpretações, validam novas técnicas de sequenciamento e deixam claro que, para entender e combater a doença, pesquisadores do mundo inteiro precisam unir esforços. Embora o trabalho tenha sido feito em paralelo pelos dois grupos internacionais – ambos com integrantes brasileiros –, Bronwyn não pensa em termos de competição. “Eram enfoques diferentes e complementares, e ao longo do trabalho nos mantivemos em contato, comparando os resultados”, conta.
Redução
Em Natal RN, as ações de combate ao Aedes aegypti tem trazido grandes resultados para a capital potiguar, como mostram os números do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). De janeiro a maio de 2017 (da 1ª semana até a 21ª), a redução no número de casos notificados de dengue, zica e chikungunya foi de 1.900, uma redução de 89% se comparado com o mesmo período do ano passado. Desse total, a dengue representa 1659 casos, seguido por chikungunya, com 142 e zika, com 99. Os dois bairros de maior incidência são: Pajuçara, na zona Norte, com 223 e Felipe Camarão, zona Oeste, com 200. Nos dois casos, também houve redução em relação a 2016 de 48,6% e 80,7%, respectivamente.
Em Natal, existem atualmente 426 ovitrampas espalhas pelos bairros. Essas ‘armadilhas’ são distribuídas pelas ruas e usadas para atrair o Aedes. Elas ficam expostas por um período mínimo de uma semana. Ao final desse prazo, as paletas de oviposição são recolhidas e levadas para laboratório para contagem do número de ovos. Esses dados formam os índices de Positividade de Ovitrampas (IPO) e de Densidade de Ovos (IDO), que fazem parte de um conjunto de estatísticas utilizadas para determinar as ações de combate ao mosquito.
Conjunto de dados
“Utiliza apenas o IPO para determinar a situação de uma determinada região, não é correto. No IPO, se tiver apenas um ovo na armadilha, ela fica positiva. Já no IDO, analisamos a densidade, que traz um número mais preciso. Mas também temos índices de ovos eclodidos, de mosquitos que testam positivo (que têm o vírus e podem transmitir), entre outros. É todo um conjunto de dados que analisamos semanalmente”, destacou Alessandre Medeiros, chefe do CCZ.
A quantidade de ovos coletados nas armadilhas também diminuiu. Em 2017, foram 264.234, enquanto no mesmo período de 2016 foram 341.608, uma redução de 22,6%.
Natal, inclusive, tem um projeto de combate ao Aedes que é referência no Brasil e já foi apresentado em outros países. O Vigiadengue funciona como um sistema de monitoramento com base na vigilância epidemiológica e entomológica das arboviroses (doenças transmitidas por meio de vetores). O principal diferencial é o monitoramento contínuo que consegue identificar as áreas de maior risco para ocorrência de surtos e epidemias, além de estabelecer categorias de intervenção ou estágio de resposta para cada nível.
“Hoje os nossos índices apontam que a situação do Aedes em Natal está controlada. Em épocas de chuva, é normal que ocorra uma variação para cima, por isso a importância de fazermos uma análise semanal, pois a variação de clima influencia diretamente”, explicou Alessandre.
Veja os artigos de Bronwyn Maclnnis e Pardis Sabeti e do evolucionista Oliver Pybus.
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