Doar, um ato de cidadania Saúde

quarta-feira, 25 novembro 2015

Nesse Dia do Doador de Sangue, conheça a doação por aférese que permite utilizar separadamente e de forma concentrada cada componente do sangue

Se tornar um doador completo. Esse era o sonho de Eduardo Augusto de Lima, administrador potiguar, que desde 1995 é um assíduo doador de sangue. Em 2010, ele se tornou um doador de aférese do Hemonorte de Natal e realizou seu desejo de salvar mais vidas. “Agora sou um doador completo e quando precisarem de mim estarei pronto”, declara ele orgulhoso.  Nesse 25 de novembro, Dia do Doador de Sangue exemplos como o de Eduardo devem ser cada vez mais seguidos.

Mas afinal, o que é ser um doador de aférese? Quem explica é o médico hematologista Rodrigo Vilar, que chefia o setor no Hemonorte. “Aférese significa separação. A doação de aférese surge para complementar a doação convencional. Nós utilizamos uma máquina que durante o processo de doação separa os vários componentes do sangue. Internamente, por um mecanismo de centrifugação ela consegue colocar em bolsas separadas os glóbulos vermelhos, os glóbulos brancos, as plaquetas e o plasma. E então, ela divide completamente o sangue em seus componentes e seleciona exatamente o que foi programado”, esclarece.

O equipamento é um computador que é programado para colher exatamente o componente necessário ao paciente. “O ponto de coleta é determinado pelo sistema e com isso eu consigo colher uma bolsa somente de plaqueta e todo o resto é devolvido ao paciente”, detalha o Dr. Vilar.

Apesar de o procedimento demorar em média de 40 a 50 minutos, mais que os 15 minutos na doação normal, a coleta por aférese tem muitas vantagens. A principal é a concentração do componente coletado, diminuindo drasticamente o número de bolsas para atender um paciente. No caso da plaqueta, por exemplo, numa coleta normal a bolsa de 450 ml de sangue produz um concentrado de hemácias, um concentrado de plaqueta e o plasma. Quando um paciente precisa receber transfusão de plaqueta a média é utilizar de sete a dez bolsas. Com a aférese é possível coletar numa única bolsa toda essa quantidade necessária.

“Somente essa quantidade (sete a dez bolsas) é capaz de realmente dar impacto clínico na transfusão para esse paciente. Quando se recebe uma transfusão de hemácias, que é o mais comum, as pessoas geralmente recebem uma ou duas bolsas, mas os pacientes mais graves, principalmente aqueles com leucemia e em transplante, eles recebem muita plaqueta, algo em torno de 10 bolsas hoje, mais 10 amanhã, 10 daqui a três dias. Então, quando a gente vê estamos precisando de 20, 30, 40 doadores”, completa Villar.

Ainda de acordo com o médico, há outras vantagens com o processo. “Na separação por aférese eu consigo retirar os leucócitos dessa bolsa de plaqueta, e sai um produto que a gente chama de deleucotizado. Com a bolsa de plaqueta deleucotizada eu diminuo as chances de desenvolvimento de anticorpos contra antígenos, principalmente HLA (antígeno leucocitário humano, na sigla em inglês) – que chamamos de halo imunização. Então, eu garanto que o paciente vai ter um incremento plaquetário muito bom que vai impedir que ele tenha reações transfusionais no futuro, sem atrapalhar um possível transplante de medula”, explica.

Ele lembra que atualmente a modalidade mais comum de doação de medula óssea é com o equipamento de aférese. A única diferença é o uso de um remédio que estimula as células a migrarem da medula óssea e circulem no sangue para serem coletatas via aférese. “Hoje 90% da doação de medula é por coleta periférica, 10% é aquela feita no centro cirúrgico, com uma agulha na bacia que vai aspirando a medula óssea, mas é a minoria dos casos. Por via periférica você fica acordado, vendo TV, jornal, conversando e doando. É fantástico”, elogia Vilar.

Segurança sorológica

O hematologista Rodrigo Vilar também chama a atenção para um aspecto muito importante do processo, a redução dos riscos por se tratar de um número menor de doadores. “Quando eu me submeto a uma transfusão convencional, recebo 10 bolsas. Se eu penso sob o ponto de vista sorológico, eu fui exposto a 10 doadores diferentes. Os exames sorológicos melhoraram muito, mas não existe hoje nenhum exame que garanta 100% de negatividade, então a janela imunológica não desapareceu, isso para HVI, Hepatite B e C. Então se eu fui exposto a um maior número de doadores, de uma forma geral potencializo o risco de receber um sangue contaminado. Mas quando eu recebo uma bolsa por aférese eu recebo de apenas um doador, então a chance é cada vez menor”, conclui.

Atualmente, o Hemonorte conta com cerca de 200 doadores por aférese. Esse doador é selecionado dentro do grupo que faz doação normal.  É aquele que doa mais de três vezes, não passa mal ao doar e tem uma sorologia repetidamente negativa para HVI, Hepatite B e C. “A gente percebe que ele é uma pessoa comprometida, socialmente responsável. Esse é o perfil que buscamos nos doadores de aférese”, avalia o médico.

Em termos de produção, os números também são animadores. Em 2010 foram coletadas 427 bolsas e de janeiro a outubro de 2015 foram 854. Com isso, o Hemonorte abastece toda a rede pública do estado e consegue atender a rede privada quando solicitado. “Hoje o único produtor por aférese em atividade no RN é o Hemonorte”, reforça o Dr. Vilar.

Para chegar nesse patamar, o Dr. Vilar e sua equipe trabalharam bastante. “Houve um incentivo muito grande por parte da direção do Hemonorte para que o serviço aqui crescesse. Agora conseguimos levar um equipamento para Mossoró, que desponta como um novo polo médico do RN, no tratamento de pacientes oncológicos, na cirurgia cardíaca e na neurocirurgia. Antes estava tudo concentrado em Natal e aqui não estávamos dando conta. Mossoró é grande e está conseguindo atender toda a região oeste que antes vinha para cá. Com isso melhora o atendimento, todos ganham”, ressalta.

Doar – ato de cidadania

Para o Dr. Vilar é preciso mudar o perfil da doação no Brasil, onde ainda há uma mentalidade de doar por reposição, aquela que só ocorre quando alguém precisa. Segundo ele, estudos demonstram que se 2 ou 2,5% da população fossem doadores regulares, não seriam necessárias campanhas para se garantir estoques de sangue. “A gente tem que tirar esse “alguém” e doar de forma absolutamente voluntária. Incorporar esse hábito como um ato de cidadania, a doação fazendo parte da cidadania. Eu faço isso sem saber a quem estou ajudando, isso levaria ao fim das campanhas de doação de sangue. E o que a gente quer é que parte desses doadores voluntários se transformem em doadores de aférese”, almeja.

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