Protestos e alertas à sociedade marcaram a Marcha pela Ciência Geral

domingo, 23 abril 2017

Os efeitos negativos dos cortes nos orçamentos do MCTIC e estaduais foram lembrados nas várias cidades nordestinas que realizaram a Marcha pela Ciência. Nossa Ciência cobriu o evento em Natal e ouviu cientistas de Fortaleza, Recife e Petrolina.

A Marcha pela Ciência realizada no sábado à tarde (22), em Natal (RN), no Parque da Cidade teve início com um incidente envolvendo os pesquisadores e o guarda do espaço público. Cientistas do Instituto do Cérebro e outros professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) foram proibidos pelo guarda municipal de carregar as faixas de protesto contra o Governo Federal. Depois de acaloradas discussões acerca do caráter político e das motivações da Marcha não só em Natal, mas em todo o mundo, as faixas foram liberadas e a Marcha seguiu seu curso de aproximadamente 500 metros e cerca de 50 participantes.

Capitaneado pela UFRN e pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern), o evento alcançou os objetivos, segundo os organizadores. Para o diretor de Inovação da Fapern, Júlio Rezende, houve boa participação do público nas várias atividades que fizeram parte da programação. Ele ressaltou ainda a repercussão que o evento alcançou nos veículos de comunicação da Cidade.

Retrocesso

A reitora da UFRN, Ângela Maria Paiva Cruz afirmou que a Marcha é um alerta para que a sociedade e para os governos. “Hoje é um dia de alerta para que a sociedade perceba o valor da Ciência e também para que os governos percebam que o financiamento não pode cessar, que colocar recursos nessa área significa investir no futuro com sustentabilidade, com qualidade de vida”, definiu.

Lembrando sua condição de representante da Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes),que congrega 63 universidades, Ângela Paiva declarou que o corte de 44% no orçamento do Ministério da Ciência, tecnologia, Inovações e Comunicações, anunciado recentemente pelo Governo federal, vai reduzir a produção científica brasileira e gerar prejuízos não só para o Brasil, mas também para a humanidade. “O impacto de quase 50% de corte é muito danoso para a população brasileira e para a humanidade porque a produção científica do Brasil necessariamente vai cair em quantidade e em qualidade. Essa é uma consequência muito drástica porque o impacto se dará em muitos anos à frente e para uma recuperação acontecer nós precisaremos de algumas décadas.”

Ceará

A publicação de três artigos sobre a Marcha no jornal O Povo e a realização de uma marcha simbólica na Bienal do Livro do Ceará marcaram a Marcha pela Ciência em Fortaleza. As informações são da vice-secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no estado, Cláudia Linhares Sales. O evento foi organizado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará (Secitec), pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e pela secretaria regional da SBPC.

Cláudia, que é professora titular da UFC, afirmou que as ações locais somadas às realizadas em outras regiões deram visibilidade à Ciência e às dificuldades que a área tem enfrentado. “Esses artigos somados à repercussão mundial, que foi reproduzida na mídia nacional, tiveram potencial de causar impacto trazendo à sociedade cearense, na capital e no interior, uma reflexão sobre o papel da ciência e os ataques que ela vem sofrendo, principalmente no Brasil. Por outro lado, ter realizado a Marcha pela Ciência durante a Bienal do Livro em Fortaleza certamente atingiu o público que lá estava naquele momento, e um público com muitos pais, crianças e adolescentes, o que certamente leva a mensagem e a reflexão para mais longe do que tivéssemos feito a cerimônia na academia.”

O vice-presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira defendeu na página da Marcha no facebook que este é só o início de um de um movimento permanente em defesa da Ciência, Tecnologia e Educação de qualidade no país. Ele convoca a todos para manter e ampliar a mobilização junto à própria comunidade científica e acadêmica, aos jovens e à sociedade em geral. Revelando ainda não terem sido discutidos os meios de por em prática essa mobilização na representação cearense da SBPC, a vice-secretária concorda com a proposta.  “Nas discussões preliminares que tivemos é consenso que precisamos mobilizar e sensibilizar a sociedade para as  suas perdas quando  a ciência deixa fazer parte de seu dia-a-dia, cultura e planos de desenvolvimento, e principalmente em seu financiamento.”

Pernambuco

Em Recife (PE), professores e pesquisadores das universidades federais de Pernambuco (UFPE) e rural de Pernambuco (UFRPE) e do Espaço Ciência fizeram uma concentração no Marco Zero e depois caminharam até o Palácio das Princesas, sede do governo estadual, distante 850 metros. O Secretário Regional da SBPC-PE, Marcos Lucena informou que cerca de 250 pessoas participaram da Marcha. 

Na concentração, discursos e protestos contra a extinção do MCTI, os cortes dos orçamentos para o setor e amplas referências à Greve Geral, que está sendo convocada pelos movimentos sociais para o dia 28 de abril, como informa Antônio Carlos Pavão , professor da UFPE e diretor do Espaço Ciência.

Mesmo reconhecendo que deveria ter mais gente, Pavão afirmou que a manifestação foi importante porque marcou a posição da comunidade científica em Pernambuco e também no Brasil. “Desde a posição de eventual neutralidade da SBPC frente ao golpe, a comunidade científica teve a sua primeira manifestação de rua e isso foi importante”, ponderou. Para ele, a Marcha pela Ciência foi uma espécie de esquentamento para o dia 28, “quando então, a comunidade científica vai poder marcar presença de uma forma mais clara e incisiva”, propôs.

Veja como foi a Marcha em Recife. 

Petrolina

Para o organizador da Marcha em Petrolina (PE), Helinando Oliveira, a participação de cerca de 100 pessoas de todas as instituições de ensino e pesquisa do Vale do São Francisco indicam que o evento foi muito positivo. “Durante toda a marcha foi ressaltada a importância da pesquisa no semiárido e a necessidade da manutenção e reforço do investimento para pesquisa básica em todo o país, assim como o retorno do Ministério da Ciência e Tecnologia, essencial para um país com o potencial do Brasil”, afirmou.

Veja fotos da Marcha pela Ciência no Nordeste. 

Saiba mais sobre a Marcha 

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