Cactáceas no combate aos radicais livres Meio Ambiente

quinta-feira, 27 abril 2017

Pesquisadores da Embrapa avaliaram o potencial antioxidante e anti-inflamatório em algumas espécies do Semiárido nordestino

Estudo conduzido pela Embrapa Agroindústria Tropical (CE) concluiu que cactáceas que ocorrem no Semiárido nordestino apresentam potencial como alimento funcional. A pesquisa avaliou a presença de compostos bioativos com função antioxidante e anti-inflamatória em algumas espécies da família Cactaceae. Os pesquisadores observaram a presença de substâncias com reconhecida atividade antioxidante como betalaínas e compostos fenólicos em partes da planta e dos frutos.

Para avaliar o potencial funcional das plantas, os pesquisadores induziram inflamação em macrófagos − células importantes na regulação da resposta imune − e observaram que na presença dos extratos de diferentes partes das cactáceas, a inflamação ou não se implanta ou, se implantada, não avança. A pesquisa foi realizada pela Embrapa em parceria com o Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (CCA/UFPB) e a Texas A&M University, no âmbito do Programa Embrapa Labex.

Os compostos fenólicos e as betalaínas encontradas nas cactáceas apresentam reconhecida ação antioxidante. Os compostos fenólicos são estruturas químicas presentes nos tecidos vegetais relacionadas a diferentes aspectos das plantas como aroma, cor, adstringência e estabilidade oxidativa. Já as batalaínas são pigmentos naturais que variam de amarelados a avermelhados. “As betalaínas são quimicamente mais ativas que os compostos fenólicos. São mais eficientes como antioxidantes”, explica Ricardo Elesbão. Ele lembra que algumas cactáceas apresentam frutos com coloração arroxeada como a beterraba, que é uma das mais ricas fontes de betalaínas na natureza.

O pesquisador explica que os compostos bioativos são, geralmente, metabólitos secundários relacionados aos sistemas de defesa das plantas contra a radiação ultravioleta ou as agressões de insetos ou patógenos. Segundo ele, um bioativo pode apresentar certa atividade biológica in vitro, mas, in vivo, esse composto pode não ser biodisponível, ou ser rapidamente metabolizado e excretado, tornando-se ineficaz.

Riqueza do Semiárido

Conforme o coordenador do estudo, pesquisador Ricardo Elesbão, da Embrapa Agroindústria Tropical (CE), nos últimos anos observou-se um maior interesse por diversas espécies de cactáceas não só pelo valor nutricional, mas por serem fontes de compostos como betalaínas e fenólicos, que estão relacionados à promoção da saúde.

Apesar do crescimento do interesse pelas cactáceas, as espécies de ocorrência no bioma caatinga ainda são pouco estudadas. “São plantas nativas ou exóticas adaptadas que podem apresentar novos usos e isso é muitas vezes desperdiçado”, diz Ricardo Elesbão. A ideia do pesquisador é caracterizar as plantas para estimular a produção e consumo de cactáceas como alimentos.

Outra possibilidade é a produção de suplementos alimentares. Mas o cientista alerta que o consumo como alimento é mais vantajoso. Os compostos encontrados nos alimentos podem ser isolados ou até obtidos sinteticamente, mas eles sozinhos podem não apresentar a mesma função observada em um alimento integral (fruto ou parte de uma planta), onde pode haver vários outros compostos associados que atuam de forma sinérgica. “Quando um composto é isolado, uma função específica, como a anti-inflamatória, pode ser reduzida ou ainda se perder”, explica.

Elesbão salienta que as cactáceas poderiam ser exploradas de forma sustentável em seus locais de ocorrência. Existem áreas extensas de ocorrência natural que podem ser conservadas com o aproveitamento extrativista de partes das plantas. “O açaí, por exemplo, até há pouquíssimo tempo, vinha todo de áreas nativas exploradas dessa forma”, diz.

O pesquisador reforça que muitas cactáceas que não foram incluídas no estudo podem também apresentar propriedades funcionais. Para investigar o assunto, um novo projeto está sendo planejado pela Embrapa em parceria com algumas instituições de pesquisa e ensino. Ele salienta que estudos que avaliem o potencial funcional dessa família certamente poderão contribuir para a agregação de conhecimento e de valor às espécies, bem como aos biomas de ocorrência.


Outros estudos

A pesquisa com cactáceas foi um dos trabalhos desenvolvidos pelo pesquisador Ricardo Elesbão em sua temporada no Labex Estados Unidos, entre 2011 e 2014. Ele também se dedicou à avaliação do potencial de outras espécies frutíferas tropicais como alimentos funcionais, tais como acerola, abacaxi e mirtáceas (a família da goiaba). Segundo o pesquisador, entre os resultados dos estudos, que devem ser publicados em breve, foram encontradas na acerola, além da já conhecida vitamina C, outras substâncias com atividade biológica importante. No abacaxi, a novidade é a concentração de compostos de interesse em partes que são desperdiçadas.

O objetivo geral de pesquisa foi agregar valor a extratos oriundos de espécies nativas de fruteiras tropicais, promovendo-os como produtos saudáveis contra inflamação e doenças crônicas associadas. O pesquisador lembra que a biodiversidade brasileira abriga hoje entre 15% e 20% das espécies vegetais, animais e microrganismos do mundo. Estima-se que o valor associado à biodiversidade possa atingir alguns trilhões de dólares em produtos ou descobertas que ela pode gerar ao País.

“É necessário aproveitar essa biodiversidade para que o País, além de importante exportador de matéria-prima, se converta no protagonista de uma nova economia mundial, baseado no uso sustentável da biodiversidade e dos seus recursos derivados, agregando valor aos diferentes setores produtivos”, diz o cientista.

Além dos alimentos, vários produtos utilizados pela sociedade têm sua origem na biodiversidade nacional, tais como fibras, biomateriais, cosméticos, nutracêuticos, medicamentos, químicos, óleos e essências, entre outros. “É necessário caracterizar nossas espécies quanto ao seu real potencial para obtenção de compostos bioativos e elaboração de novos produtos oriundos dessa rica biodiversidade”, finaliza Elesbão.

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