Os algoritmos e nós Linguaruda

segunda-feira, 21 abril 2025
(Imagem: Reprodução do perfil Seja Subversivo)

Debate sobre as tecnologias e seus usos no cenário da web 4.0, em que os recursos de Inteligência Artificial promovem experiências generativas e imersivas antes inimagináveis

(Cellina Muniz)

Os algoritmos e nós. Este é o título do ensaio de Paulo Nuno Vicente (Editora da UFBA, 2023) e que, com admirável poder de síntese, reflete exatamente a condição deste sujeito composto em que vamos nos singularizando nestes tempos digitais.

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Porque não há como negar: em todos os setores de ação e interação humana – comunicação, educação, comércio, trabalho, entretenimento, lazer e o que mais for possível – estamos cada vez mais apoiados nesses sistemas inteligentes de classificação, seleção, recomendação e previsão na tomada de decisões por meio das tecnologias digitais, desde os altos escalões das esferas governamentais às pequenas atitudes pessoais e cotidianas.

Em todos os setores de ação e interação humana – comunicação, educação, comércio, trabalho, entretenimento, lazer e o que mais for possível – estamos cada vez mais apoiados nesses sistemas inteligentes de classificação, seleção, recomendação e previsão na tomada de decisões por meio das tecnologias digitais, desde os altos escalões das esferas governamentais às pequenas atitudes pessoais e cotidianas.

Tamanha relevância é, por si só, um grande fator para que estejamos atentos e façamos o debate sobre essas tecnologias e seus usos no cenário da web 4.0, em que os recursos de Inteligência Artificial promovem experiências generativas e imersivas antes inimagináveis.

Todos assistimos (e muitos de nós aderimos), por exemplo, ao efeito manada de converter fotografias em desenhos no estilo dos Studio Ghibli, o que reacendeu o debate acerca da autoria e direitos de propriedade intelectual.

Além desse primeiro fator, Paulo Nuno Vicente ainda destaca mais dois motivos para uma compreensão mais aprofundada sobre o funcionamento do sistema algorítmico: tanto pela crença na suposta neutralidade dessas tecnologias e na datificação dos comportamentos humanos, como também pela gerência dessas tecnologias de compilação, hospedagem e análise de dados por companhias privadas e empresariais.

Isso porque, tal como destaca Marie-Anne Paveau no livro “Análise do Discurso Digital” (Editora da UFSCar, 2021), nossos dados são a base para que o algoritmo opere segundo alguns princípios, a saber:

  • Princípio da popularidade: medem audiências pelo número de cliques (visualizações);
  • Princípio da autoridade: hierarquizam os sites pelos links (links hipertextuais);
  • Princípio da reputação: calculam o número de “amigos”, retuítes, favoritos etc. (curtidas);
  • Princípio da predição: calculam rastros para influenciar comportamentos futuros (rastros digitais).

É importante, portanto, no mínimo, saber quem e por que opera com nossas informações pessoais com base no funcionamento desses princípios. Assim, embora os recursos que tenhamos à mão nos pareçam benéficos (afinal, podem ser bem úteis a sugestão de um filme para assistir, a recomendação do perfil de uma determinada marca, a indicação para o plano de uma artigo ou aula, a resposta para uma dúvida, enfim), é fundamental que saibamos que nada disso é gratuito, em várias acepções desse termo.

Primeiro passo para que possamos compreender criticamente as tecnologias digitais e diminuir o grande poço profundo da nossa “dupla ignorância”, como alerta Paulo Vicente Nuno em seu livro “Os algoritmos e nós”:  desprovidos de um conhecimento mínimo e do escrutínio público sobre supervisão, prestação de contas e responsabilização no uso de nossos dados (com interesses comerciais), ficamos à mercê de, cada vez mais, “não sabermos o que não sabemos”.

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Cellina Muniz é escritora e professora do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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