A importância dos materiais e métodos na reprodutibilidade científica e como garantir clareza e detalhamento na sua descrição
(Helinando Oliveira)
Chegamos àquela seção que é o patinho feio para a grande maioria dos autores de artigos (estou incluído nesta lista): os Materiais e Métodos. Explico o porquê: esta é a seção mais técnica do artigo e seu conteúdo geralmente passa ileso aos olhares críticos dos árbitros. Talvez por representar uma quebra na leitura do corpo do artigo, algumas revistas já realocaram esta seção para o fim do texto, após as conclusões.
O leitor mais desavisado deve se perguntar: então para que serve esta seção? Os materiais e métodos são fundamentais para quem deseja reproduzir os experimentos. Ao considerar que publicar um artigo é tornar público o seu conteúdo e viabilizar a reprodução de resultados, é de fundamental importância que todos os detalhes sejam fornecidos.
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Como físico experimental, já penei por não encontrar os “pulos dos gatos” nesta seção. Sem os mínimos detalhes (quase indescritíveis) é impossível reproduzir certos procedimentos. Chegamos assim à conclusão óbvia de que pelo bem da ciência, esta seja uma seção a ser mais explorada pelos revisores sob o custo do artigo aceito não garantir condições mínimas de reprodutibilidade.
Desse modo, recomenda-se nesta seção:
Se algum procedimento foi usado da literatura é de bom tom citar a fonte, e o mais importante: se fez modificações informar em detalhes qual a modificação feita. Como revisor, busco aqueles autores que citam as referências e informam que fizeram modificações, mas não citam quais foram estas – são artigos potencialmente rejeitáveis. Nestes casos, o artigo deveria vir acompanhado de uma bola de cristal. Só assim para adivinhar que mudanças foram estas.
Por fim, mas não menos importante, a seção precisa ser revisada por alguém antes da submissão. Sugere-se que seja um não autor que deve ao menos mentalmente montar o experimento com os dados fornecidos. O seu retorno é fundamental para que se complete as lacunas que certamente existirão. Um segundo olhar é ainda mais importante, pois há passos óbvios que são tomados tão intuitivamente pelos autores que são levados a omiti-los na escrita. E essas omissões na seção de Materiais e Métodos podem inviabilizar a reprodução de seus resultados.
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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência.
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