Nelyane Santana, do ISD, estuda primatas e roedores na Universidade de Witwatersrand, interligando perspectivas intercontinentais
A pesquisadora de pós-doutorado do Instituto Santos Dumont (ISD), Nelyane Martins de Santana, iniciou uma nova etapa em sua formação acadêmica. Ela desenvolverá parte de seu estágio pós-doutoral na Universidade de Witwatersrand, localizada em Joanesburgo, na África do Sul. Lá, investigará áreas do cérebro a partir de modelos animais nativos do continente, interligando perspectivas intercontinentais ao seu trabalho realizado no Brasil e contribuindo para inovações na pesquisa em neurociências.
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O período dos estudos teve início na primeira semana de dezembro, e tem duração de cinco meses. Em entrevista para Nossa Ciência, a pesquisadora detalhou o objetivo de seu estudo. Com essa pesquisa, ela pretende “descrever neuroquimicamente uma via visual no gibão, um primata que apresenta grande similaridade com o ser humano” e prossegue, “através dessa abordagem, quero entender como essa evoluiu nos primatas, ou seja, como diferentes regiões se comunicam no processamento visual”, explica.
Seu trabalho pessoal na África do Sul será direcionado à caracterização das vias córtico-talâmicas do processamento visual do gibão de mãos brancas (Hylobates lar), uma espécie de primatas não humanos, também nativos da região. A investigação dessas vias contribui para ampliar o conhecimento sobre a evolução e a funcionalidade dos circuitos neurais associados à visão, com potenciais aplicações no estudo de doenças visuais.
“Esse estágio representa uma oportunidade única de integrar abordagens comparativas intercontinentais em Neurociências, promovendo avanços tanto na caracterização anatômica e funcional de estruturas subcorticais quanto na potencial validação de novos modelos animais”, considera Santana.
Ainda durante esse período em Joanesburgo, Nelyane trabalhará na descrição morfológica do núcleo estriado, região do cérebro associada ao controle motor, utilizando exemplares de 15 espécies de roedores fossoriais, diurnos, noturnos e crepusculares.
“Além dessa pesquisa com primatas, paralelamente vou avaliar o volume de regiões do cérebro relacionadas com diferentes funções, como visão, audição e tato, em várias espécies de roedores. Essa perspectiva, nos permitirá entender se diferentes espécies de roedores têm áreas cerebrais mais desenvolvidas que outros e como isso está relacionado com o ambiente que o animal está inserido E consequentemente, como esse cérebro evoluiu”, justificou a pesquisadora.
Para Santana, o entendimento sobre a organização de áreas do cérebro de grupos de roedores nativos de outro continente pode ser um forte aliado à pesquisa científica a partir de modelos animais. “Um exemplo relevante é o estudo do envelhecimento”, explica, “considerando que o rato-toupeira sul-africano, quando comparado a outros roedores, é um animal de vida longa, podendo atingir até 11 anos de idade”.
“A maioria da produção científica em Neurociências baseia-se em pesquisas com animais mantidos em ambientes altamente controlados, longe das pressões evolutivas naturais. Diversos pesquisadores sugerem que essa prática pode causar lacunas no entendimento da evolução do cérebro e de suas respostas a diferentes pressões ambientais”, complementa Nelyane Santana.
A pesquisa integra o projeto “Caracterização Citoarquitetônica e Neuroquímica de Centros Subcorticais de Cérebros de Roedores: Uma Análise Comparativa Intercontinental”, coordenado pelo professor José Rodolfo Cavalcanti, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), com a participação do professor Paul Manger, parceiro internacional do projeto.
Doutora e Mestre em Psicobiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Nelyane Santana possui experiência em ciências morfofuncionais e neurofisiologia, com principal atuação nos temas de desenvolvimento e envelhecimento do sistema nervoso, neuroanatomia comparada de sistemas formadores e não-formadores de imagem e estereologia.
A pesquisadora informou que a partir de sua estadia na Universidade de Witwatersrand vai produzir dois artigos científicos. O primeiro com os resultados observados sobre o gibão e outro sobre roedores.
Redação Nossa Ciência
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