Paisagens impróprias: uma geografia literária Letras e Artes

quarta-feira, 18 dezembro 2024
Ilane Ferreira Cavalcante recebeu Nossa Ciência em seu local de trabalho. (Foto: Mônica Costa)

Professora Ilane Ferreira Cavalcante, do IFRN, lança seu segundo livro de poesia, em Natal

Amanhã (19), a professora Ilane Ferreira Cavalcante, do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional, do Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio Grande do Norte (IFRN) lança seu segundo livro de poesia, Paisagens Impróprias.

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Em entrevista para o Nossa Ciência, revelou que o medo da comparação de sua poesia com a de poetas e poetisas consagrados talvez seja a causa dos longos silêncios entre uma publicação e outra. Paisagens impróprias chega 15 anos após seu primeiro livro, Vestígios, publicado em 2009.

Mas neste livro, Ilane não está sozinha. No prefácio, Conceição Flores destaca que a obra traz a “benção de poetas eleitos pela leitora atenta da poesia da língua portuguesa.” Nomes como Ana Cristina Cesar, Orides Fontela, Lygia Fagundes Telles, Nonato Gurgel, Carlos Drummond de Andrade, Maria Teresa Horta, Adélia Prado e as natalenses Diva Cunha e Marize Castro emprestam versos que abrem cada uma as cinco estações que compõem o livro.

Ao final da leitura, depois das cinco estações (Versos íntimos, Traços impressionistas, Cenas urbanas, Cores do tempo e Ao sul do corpo), o leitor encontra o posfácio assinado pela também poeta Ana de Santana.

A publicação sai pela Editora Patuá e o lançamento será em Natal, no Mahalila Café e Livros, às 18 horas.

Acompanhe a entrevista concedida à jornalista Mônica Costa, no campus central do IFRN:

O tempo da poesia

Nossa Ciência: Por que o título, Paisagens Impróprias?

Ilane Ferreira Cavalcante: Na verdade, eu queria um título só com uma palavra única. Meu primeiro livro teve uma palavra única, Vestígios. E eu queria só paisagens.

Mas eu submeti à leitura de algumas amigas e elas disseram que deveria colocar algum adjetivo. Como o livro se divide em algumas partes, na divisão eu vou passeando por paisagens mais objetivas, mais subjetivas, mais íntimas. E eu disse, então, são paisagens que não são muito propriamente paisagens, são impróprias.

NC: Qual foi a motivação para esse livro, que é o seu segundo livro de poesia?

IFC: O que motiva alguém a lançar um livro? Para mim, sempre foi uma questão delicada. Tenho uma dificuldade enorme em me assumir como poeta ou poetisa, como preferirem chamar. Desde a pré-adolescência, eu escrevo, mas nunca achei que os meus textos tivessem qualidade suficiente para serem publicados.

Com o tempo, as pessoas começaram a me dizer: “Você não tem que achar nada. Se você escreve, é porque existe alguém que precisa ler isso.” E foi assim que comecei a aceitar essa ideia. Aos poucos, fui entendendo que, se eu produzo, devo compartilhar o que faço. Foi essa percepção que me motivou a lançar o livro.

Poema integrante da estação Versos Íntimos, no livro Paisagens Impróprias. Escolhido pela autora.

Ourivesaria

NC: Como é o seu processo criativo? Como é que o poema nasce?

IFC: Cada poema tem uma forma única de nascer. Mas, em geral, tudo começa com uma ideia, geralmente ligada a uma metáfora ou a alguma situação do cotidiano, algo vivido, uma história ou uma experiência específica. A partir dessa ideia, eu começo a construir o poema. Primeiro, faço um rascunho — geralmente escrito à mão mesmo — e deixo o texto “descansar”. Como diria João Cabral de Melo Neto, eu “guardo na gaveta” por um tempo e o esqueço.

Quando retomo, procuro extrair do poema o máximo possível do que é puramente subjetivo, muito particular da minha experiência, tentando transformá-lo em algo mais universal, algo que possa tocar outras pessoas que viveram situações parecidas. A partir daí, eu começo o processo de “limpeza”, trabalhando no texto como se fosse uma ourivesaria, lapidando as palavras com cuidado.

Às vezes, o poema termina completamente diferente do rascunho inicial. Esse é um processo que demanda tempo, e talvez seja por isso que demoro tanto para publicar um livro.

NC: Por que “cinco estações”? Quais são as cinco estações?

IFC: São estações de subjetividade, porque representam diferentes olhares — às vezes voltados mais para o exterior, outras vezes mais para o interior, para a memória ou para o desejo. São estações muito ligadas a situações subjetivas mesmo.

A ideia de “paisagem” se conecta com o conceito de estações, claro, porque há as estações do ano, as estações de trem, que simbolizam paradas em lugares distintos. Eu sou uma pessoa que gosta muito de viajar, mas, nesse caso, as estações funcionam como metáforas das vivências.

Estilo próprio

NC: A professora conversa com a poetisa?

IFC: Mas, quando você trabalha muito tempo com literatura, você vai se intimidando enquanto escritora. A gente vê tanta gente que escreveu tão bem que fica pensando: “Nunca vou ter a qualidade de uma Adélia Prado, nunca vou ter a qualidade de uma Lygia Fagundes Teles, de uma Hilda Hilst”. Mas você descobre que tem o seu próprio estilo, o seu próprio caminho. Então, essa convivência da professora com a poetisa é difícil, porque a professora critica demais a poetisa. Às vezes, é preciso que a poetisa se rebele.

NC: Agora você trabalha com educação profissional. Há espaço para poesia nesse tipo de educação?

IFC: Ah, eu acho que há espaço para poesia em qualquer lugar. Nas minhas aulas, sempre procuro trazer algum pouco de arte, literatura, poesia e prosa, estabelecendo relações e utilizando metáforas na construção das pesquisas dos meus orientandos. Muitas vezes, estimulando essas pesquisas a partir de metáforas. Então eu acho que o lugar da poesia existe, tanto que a gente ofertou agora uma disciplina chamada Língua e Literatura na Educação Profissional.

NC: E como foi a adesão dos alunos para essa disciplina?

IFC: Foi surpreendente. Tivemos muitos alunos de áreas diversas, o que achei muito interessante. Eu imaginei que a maior parte dos inscritos viria das áreas de Letras ou Artes, mas, na verdade, tivemos alunos de Ciência da Computação, da área da Saúde, entre outras. Isso significa que as pessoas estão interessadas em conhecer esse lado mais criativo do ser humano.

Reviver a emoção da leitura de Zila Mamede

Serviço

Lançamento de Paisagens Impróprias, de Ilane Ferreira Cavalcante

19 de dezembro de 2024, às 18h, no Mahalila Café e Livros – Rua Doutora Nívea Madruga, Lagoa Nova

Mônica Costa

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