Impacto dos microplásticos causa danos genéticos em peixes Meio Ambiente

sexta-feira, 29 novembro 2024
Pesquisas têm revelado possíveis riscos à saúde de animais e humanos associados à ingestão de microplásticos (Foto: Bianca Aun)

Estudo da UFRN investiga presença desse elemento em carpas, uma das espécies mais cultivadas no mundo

Somente no Brasil, 1,3 milhão de toneladas de plásticos são jogados por ano no oceano. O consumo desse material por animais aquáticos tem sido frequentemente observado por pesquisadores. A ingestão de plásticos já foi observada na costa brasileira e também em peixes nos rios da Amazônia. Na costa brasileira, a ingestão de plástico já foi registrada em todas as espécies de tartarugas marinhas. Na pesquisa com peixes amazônicos, 98% das 14 espécies analisadas em riachos do bioma continham plástico ou microplástico no sistema digestivo e nas brânquias.

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Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGeco/UFRN) avaliou experimentalmente alterações na saúde de peixes após serem alimentados com microplástico. O estudo investigou níveis genotóxicos, morfológicos e ecológicos dos peixes de água doce e foi publicado no periódico Aquatic Toxicology.

“Avanços nas pesquisas de ecotoxicologia, ramo da ciência que estuda os efeitos de substâncias químicas na saúde dos organismos, têm revelado possíveis riscos à saúde de animais e humanos associados à ingestão de microplásticos”, comenta Juliana Deo Dias, professora do Departamento de Oceanografia e Limnologia (DOL/UFRN) e orientadora da pesquisa.

Danos genéticos

Diferente da maioria dos estudos atuais, cujos testes avaliam efeitos mais específicos — alterações na atividade de enzimas do fígado, por exemplo —, a pesquisa considerou um cenário no qual o microplástico pode afetar simultaneamente diversos processos fisiológicos, como o metabolismo e o crescimento dos organismos. Os resultados indicam danos genéticos à espécie analisada.

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No experimento, os pesquisadores escolheram estudar a carpa comum (Cyprinus carpio), espécie com grande relevância para a aquicultura por ser uma das mais cultivadas no mundo. Os peixes foram expostos a microplásticos (fragmentos de plástico menores do que 5 milímetros) em concentrações e quantidades compatíveis com as encontradas nos ecossistemas aquáticos.

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Ao todo, foram utilizadas 90 carpas juvenis, separadas em três grupos. O primeiro foi alimentado somente com ração comercial, sem adições, sendo o grupo controle. Já o segundo e o terceiro receberam ração misturada, respectivamente, a uma baixa e a uma alta concentração de microplástico, a fim de serem avaliados nos quesitos molecular, morfológico, fisiológico e de organismo.

Informações surpreendentes

Os pesquisadores escolheram estudar a carpa comum, uma das espécies mais cultivadas no mundo. (Imagem: Resumo gráfico do artigo)

Após 21 dias, os pesquisadores examinaram o metabolismo respiratório, verificaram o peso e o tamanho dos peixes, removeram os órgãos do trato intestinal para medi-los e pesá-los, bem como coletaram amostras de sangue e analisaram os micronúcleos. Essas etapas foram desenvolvidas no Uruguai, onde Maiara Menezes, primeira autora do artigo, realizou parte do doutorado.

De certa forma, os resultados trouxeram informações surpreendentes. Não houve efeitos adversos nos órgãos intestinais; o metabolismo respiratório não foi afetado; tampouco prejudicou o crescimento dos peixes durante o período experimental. Uma consequência oculta, porém, foi revelada: o aumento da frequência de células sanguíneas com micronúcleos em indivíduos expostos ao microplástico se comparados ao controle, indicando danos genéticos às células da carpa.

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“Os micronúcleos são formados pelo desprendimento do material genético (fragmentos ou cromossomos inteiros) do núcleo principal da célula, durante o processo de divisão celular, originando corpos citoplasmáticos que não serão incorporados à célula filha. Portanto, a presença de micronúcleos é um indicador de danos ao material genético da espécie ocasionados por substâncias tóxicas”, detalha a coordenadora da pesquisa.

Efeitos fisiológicos

Na avaliação dos autores, os componentes tóxicos presentes no plástico podem, portanto, afetar a saúde dos peixes levando em conta uma exposição a longo prazo, uma vez que este dano genético nas células deve ser ampliado com o tempo, provocando uma série de outros efeitos fisiológicos. Mas a ameaça não se restringe apenas a essas espécies, alerta a pesquisadora. 

Para Dias, é necessário o aprofundamento da pesquisa. “Considerando os altos níveis de poluição dos ecossistemas naturais e das áreas urbanizadas e, consequentemente, a grande exposição de animais e humanos ao microplástico, sobretudo por um tempo indeterminado, faz-se necessário que novas e urgentes medidas de combate à poluição sejam tomadas. Isso é importante a fim de evitar prejuízos à saúde, não apenas dos peixes, mas de todos os organismos vivos, inclusive nós, humanos”, conclui.

UFRN, edição Nossa Ciência

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