Reflexões sobre a ciência do interior do Brasil Ciência Nordestina

terça-feira, 12 novembro 2024
(Foto: Bruna Marques)

Um dos desafios da interiorização é evitar que universidades federais sejam (apenas) grandes colégios

(Helinando Oliveira)

A expansão das Universidades Federais no Brasil a partir de 2004 fez com que novos campi e novas instituições chegassem ao interior do país, como parte de uma solução tardia para as filhas e filhos de brasileiros que viam a única opção de fazer sua graduação em alguma capital. Para além deste aspecto, ao contrário do que se possa imaginar, a implantação de uma universidade no interior requer muito mais que salas de aula, professores e servidores.

 A Universidade no interior também pede toda a infraestrutura de laboratórios de pesquisa. Na sua concepção fundamental, uma Universidade pública desenvolve ensino, pesquisa e extensão. Isso significa que conceder diplomas termina por ser apenas uma das três hélices que sustentam a instituição. E focar em graduação leva intrinsicamente a um risco grave, que é o de transformar as irmãs caçulas do sistema federal de ensino superior em grandes colégios em que nem mesmo os professores tem interesse em se fixar (criar raízes).

Desafio

Migrar para o interior é um desafio enorme, pois inerentemente a este ato reside a necessidade e disposição de construir do zero. E para construir do zero há uma necessidade enorme de investimentos. Investimentos que dependem do governo, pois ciência (em pleno século XXI) ainda não é uma questão de Estado. Entre 2003 e 2010 tivemos abundância de recursos para a ciência. A partir de 2024, os bons ventos indicam que eles estão voltando. Mais fácil que somar um mais um é a resposta para esta correlação. Lula combina com ciência, isto é um fato.

A universidade brasileira

Isto significa que estamos em uma conjuntura favorável para tentar alavancar novamente a ciência no interior do Brasil. A pergunta que surge é: como?

O primeiro passo é escrever projetos e ter coragem para entender que a resposta negativa é tudo o que está garantido. Qualquer coisa que passe disso é um lucro enorme. Disposição para cair e levantar é fundamental.

O segundo passo é consolidar parcerias com bons grupos de pesquisa, dentro e fora do Brasil. A experiência e infraestrutura de bons parceiros na ciência aceleram questões que podem ser cruciais no crescimento de grupos emergentes.

O terceiro passo é escolher bons alunos. De preferência começando esta seleção desde a iniciação científica (IC). Está claro que as melhores teses de doutorado vêm dos melhores egressos de programas de IC.

O quarto passo é saber gerencias egos, que é outro fator comum na Universidade. Por vezes, bloqueios intransponíveis são criados por questões extremamente desprezíveis.

E no final, se tudo der errado, tem-se a opção de resetar tudo e começar do zero mais uma vez. O importante é fazer com prazer, pois trabalhar para adoecer definitivamente não pode ser a solução.

Vamos em frente! Empurrando a ciência cada vez mais para o interior desse Brasil sem porteiras. O povo merece.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência

Helinando Oliveira

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