Através de depoimentos de professoras, universidade mostra como é o trabalho das docentes da federal do Ceará
“Ser mulher na UFC é lutar para ocupar um espaço que só é nosso há bem pouco tempo”, afirma Lola Aronovich. Doutora em Literatura em Língua Inglesa, a professora – identificada com a causa feminista, referência no País – é uma das 892 mulheres que compõem o quadro geral de docentes da Universidade Federal do Ceará e que, após percorrerem um caminho por vezes mais difícil para chegar aonde desejam, mantêm abertas as portas para a representatividade feminina na carreira acadêmica.
Os obstáculos não são poucos. Historicamente, a conquista de espaço na ciência e no ensino universitário esteve mais acessível ao gênero masculino. O preconceito, a diferença no tratamento e a disparidade salarial são apenas alguns dos fatores que tornam mais árdua a trajetória feminina. A vontade de mudar esse cenário, porém, persiste. “Conseguir mais espaço no tripé da Universidade significa trabalhar para efetivamente mudar a condição das mulheres na sociedade”, acredita Lola.
Entre os professores da UFC, elas ainda são minoria: diante dos 1.323 docentes homens, a representatividade feminina é de 40,3%, conforme dados da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep). O cenário é um pouco mais equilibrado quando se considera o total de servidores: são 2.875 mulheres trabalhando na Universidade e 2.811 homens.
De acordo com a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), nos últimos 10 anos, as estudantes mulheres têm sido minoria entre os ingressantes nos cursos da UFC. No entanto, mais da metade dos concludentes é do sexo feminino. Entre 2007 e 2017, a presença feminina oscilou de 40% a 47% entre os ingressantes, enquanto entre os concludentes elas são 52%. O índice de rendimento acadêmico (IRA) médio das formandas é de 8,03, enquanto a média masculina é de 7,60.
Com diferentes perfis e funções, as mulheres têm exercido papeis centrais na difusão da ciência. A professora Regine Vieira, por exemplo, há 42 anos, contribui com a UFC, cumprindo papel primordial no Instituto de Ciências do Mar (Labomar), onde comanda o Laboratório de Microbiologia de Pescado.
Também poetisa e dona de uma história dedicada à pesquisa, Regine conta que, há cinco anos, foi personagem de uma tese de doutorado. “A doutoranda descobriu que as mulheres têm menos chance de receber financiamento em projetos”, revela. Hoje, depois de 17 livros e mais de 160 trabalhos publicados, diz: “Sou uma professora feliz. Agora, prestes a me aposentar”.
Interior
No Campus de Quixadá, a professora Ticiana Linhares fez graduação, mestrado e doutorado na UFC, em uma área que, ainda hoje, costuma ser vista como predominantemente masculina: a Ciência da Computação. Reconhecedora das dificuldades impostas pelo campo de estudo escolhido, ela entende seu papel como educadora.
“Ser mulher na Universidade é ter a oportunidade de empoderar outras garotas a lidar com os desafios de uma área quase toda formada por homens. Local ou mundialmente, a mulher é tão capaz quanto o homem de trabalhar com tecnologia e inovação”, afirma.
Felizmente, já são promovidas iniciativas voltadas à diminuição do estigma existente com relação a cursos quase sempre compostos por maioria masculina. É o caso do InfoGirl, evento anual do Campus de Quixadá, com o objetivo de divulgar os cursos de tecnologia da informação entre garotas do ensino médio.
A professora Ingrid Monteiro, também da Computação, participa desde a primeira edição do evento como palestrante e conta que esse já foi um campo do saber com muitas protagonistas femininas. Doutora em Informática, ela acredita que uma das justificativas para o afastamento das mulheres da área tecnológica é a ideia recorrente de que brinquedos estimulantes da ciência e da matemática são voltados para meninos.
“Jogos, brinquedos eletrônicos e até computadores pessoais passaram a ser vistos como objetos pertencentes ao universo masculino”, comenta. Também coordenadora do Curso de Design Digital, ela se mantém otimista: “Já ouvi relatos de alunas que decidiram pelo curso depois de assistir à minha primeira palestra no InfoGirl”, revela.
Alunas, professoras, pesquisadoras ou servidoras, não são poucas as mulheres que fazem o dia a dia não apenas da UFC, mas de diversas outras universidades. Neste Dia Internacional da Mulher, mesmo comemorando, elas ainda têm muito pelo que lutar, sem nunca abrir mão do espaço já conquistado na ciência e no ensino e sempre com a certeza de que podem conseguir mais.
A universidade também publicou uma nota da Reitoria sobre o Dia Internacional da Mulher.
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