Aspectos do público e os pontos principais que todo empreendedor ou startupeiro deve considerar caso pretenda escalar em seu empreendimento.
O Livro “Cruzando o Abismo” de Geoffrey Moore, clássico da literatura de marketing voltado para produtos tecnológicos (1991), aborda o desafio de levar um produto de adoção inicial para o mercado de massa ou, no jargão das startups, “escalar”.
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Moore se inspirou na teoria de Everett Rogers, a qual foi depositada em sua obra “Diffusion of Innovations” (Difusão das Inovações, 1962), onde está desenvolvida a curva de adoção de inovações. Sua teoria descreve como novas tecnologias são adotadas por diferentes grupos de pessoas ao longo do tempo. Moore então aplicou essas ideias ao marketing de produtos de alta tecnologia, destacando o desafio de atravessar o “cisma” entre os primeiros adotantes e o mercado de massa.
É fascinante notar que Moore aplicou uma teoria criada 30 anos antes e que continuou relevante por mais 30. Ou seja, Rogers antecipou-se em 60 anos! Moore digitalizou a teoria de Rogers em 10 aspectos e a distribuiu em dois pontos de apoio, ou beachheads, cada um de um lado do abismo.
A Aula Condensada (AC) de hoje vai falar sobre os aspectos do público e os pontos principais que todo empreendedor ou startupeiro deve considerar caso pretenda escalar, ou saltar o abismo, para que não mergulhe de cabeça no fosso. Se bem que, mergulhar em pé também não é uma boa.
Como sempre, uma figurinha para o cérebro amar.
A figura, inspirada no livro de Moore, descreve como o povo todo adota a tecnologia. Os grupos apresentam as seguintes características:
Entre cada grupo existem cisões, com destaque para aquela que está entre os visionários (V) e os pragmáticos (P), a qual Moore chamou de abismo. E por que essa é a pior cisão?
Os visionários querem ser os primeiros a experimentar novas tecnologias e são mais tolerantes com os riscos e incertezas. Estão dispostos a aceitar produtos que ainda não são completamente refinados, acreditando no potencial transformador dessas inovações. Já os pragmáticos procuram soluções comprovadas e confiáveis. Esse grupo espera que a tecnologia tenha sido testada, validada e aperfeiçoada antes de adotá-la. Eles precisam de garantias concretas de que o produto funciona e oferece valor real. Assim, o abismo representa o desafio de transitar de um mercado impulsionado pelo entusiasmo (representado pela letra A) e visão para um mercado que demanda provas e confiabilidade (B).
Aspectos “digitalizados” por Moore: Moore definiu que era necessário estabelecer dois pontos de apoio para que, sobre eles, fosse construída uma ponte. E a coisa ficou mais ou menos como mostra a tabela.
Agora que definimos as características do público e os pontos necessários para a construção dos pontos de apoio, eis um algoritmo porreta para você fazer sua startup virar um unicórnio, admitindo que você criou uma novidade.
Aborde o público nessa sequência, à medida que seu negócio for crescendo.
Montando o ponto de apoio A
Considerando uma escala Likert (aquela que vai de “muito ruim” até “massa”, entre 1 e 5), trabalhe arduamente para obter índice máximo nos cinco itens do lado A.
Se você conseguir obter nota máxima nesses cinco itens, prepare-se para saltar.
Montando o ponto de apoio B
O mesmo para o lado B: escala Likert full!
Pronto: sequência de público para abordar e estrutura montada para saltar.
Se você encontrar o povo geek referente à sua solução, aquele do grupo E, você achou o que os inovadores chamam de Pin Bowling, o pino mestre capaz de derrubar todos os outros. Ou seja, a tacada capaz de promover a avalanche.
E o que isto quer dizer? Um estudo bem-feito, capaz de apontar essa galera, fará com que você não precise investir num marketing para atingir 100% do mercado; todos os grupos daquela curva de adoção. Você só precisará se dedicar aos 2,5% de tudo, e o restante dos grupos serão atingidos quase que organicamente. Um após o outro. Claro que esse pin bowling não isenta você de ter que desenvolver os pontos de apoio de “a” a “j”, mas seu custo de marketing cairá drasticamente.
Se fizer o dever de casa “corretinho”, você consolidará os pontos de apoio (beachheads) e poderá construir uma ponte. Sendo assim, agora posso responder à pergunta de abertura: do outro lado você encontrará a escala e se tornará uma startup!
No livro, Geoffrey Moore só recomenda o salto se os itens a – j estiverem gabaritados, o que não é fácil. Mas, como diria o poeta Eric Ries, “startup envolve risco”. Assim, em termos de inovação, você vai querer – ou poder esperar até – gabaritar? Lembre-se daquele ditado mais antigo: o bom é inimigo do ótimo! Esperar o momento perfeito também pode arrastar o empreendimento para o abismo.
Leia o texto anterior desta coluna: Do conceito à ação: o poder dos protótipos e objetos de fronteira
Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e gerente executivo da incubadora inPACTA (ECT-UFRN)
Gláucio Brandão
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