Estudo avalia ação de ácido clorogênico sobre sintoma de Alzheimer Pesquisa

segunda-feira, 21 outubro 2024
Os testes avaliaram combate aos déficits cognitivos associados à doença de Alzheimer (Foto: Viktor Braga / UFC)

Polifenol presente em diversos itens da dieta humana pode prevenir déficit de memória

Mais de um milhão de pessoas convivem com a doença de Alzheimer no Brasil, um transtorno que registra 100 mil novos casos por ano no País, conforme o Ministério da Saúde (MS). Cientistas descreveram o distúrbio pela primeira vez há mais de um século, mas ele ainda é pouco compreendido e não conta com tratamentos capazes de curá-lo. O que se tem apenas retarda a progressão e controla alguns de seus sintomas.

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Na tentativa de desbravar caminhos para novas possibilidades de terapia, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) descobriu que um ácido presente em diversos alimentos da dieta humana é capaz de prevenir um dos principais sintomas da patologia: os déficits de memória. O procedimento promissor foi descrito em artigo publicado há poucos meses na revista Molecular Neurobiology.

Café, chá e feijão verde

Presente no café, no chá, no feijão verde, em frutas cítricas, na maçã e em diversos outros itens alimentícios, o ácido clorogênico é um polifenol – ou seja, um composto orgânico presente em diversas plantas – que possui comprovada ação neuroprotetora, antioxidante e anti-inflamatória.

Em testes com camundongos, os resultados mostraram que a substância protegeu os animais da morte de neurônios, diminuiu a neuroinflamação decorrente da doença e ainda aumentou o fator de crescimento da chamada BDFN (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro), uma proteína que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento, no crescimento e na manutenção dos neurônios.

“Como substância ativa natural, o ácido clorogênico exerce diversos efeitos em resposta a uma variedade de desafios patológicos, particularmente condições associadas a doenças metabólicas crônicas e distúrbios relacionados com a idade”, analisa a professora Geanne Matos de Andrade, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina. O estudo informa que já existem evidências científicas que indicam que o consumo da substância reduz a incidência de diferentes doenças cerebrais, como demência, depressão e isquemia cerebral.

Adjuvante

A pesquisa indica que o ácido clorogênico poderá vir a ser usado como uma terapia adjuvante, ou seja, um tratamento realizado em adição à terapia-padrão principal ou inicial, muitas vezes com o intuito de diminuir a dose ou os efeitos colaterais.

“A terapia adjuvante também tem a proposta de agir em outras vias relacionadas com a doença. No caso da doença de Alzheimer, o tratamento com o ácido poderia diminuir a neuroinflamação. A ação se daria para reduzir o estresse oxidativo e para melhorar a sinalização da insulina, diminuindo o processo de morte neuronal que acompanha a doença”, acrescenta a professora.

Jéssica Rabelo Bezerra, autora da tese de doutorado em Farmacologia que fundamentou o estudo e primeira autora do artigo, destaca a importância do ácido clorogênico como uma substância promissora no combate aos déficits cognitivos associados à doença de Alzheimer.

Progressão da doença

“Ao demonstrar sua capacidade de reduzir neuroinflamação e preservar neurônios em um modelo experimental da doença de Alzheimer, acreditamos que ele pode vir a ser uma ferramenta valiosa no tratamento adjuvante, ajudando a retardar a progressão da doença e a melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, avalia.

A pesquisadora sugere que os resultados reforçam a importância de se continuar investigando as aplicações terapêuticas do referido composto orgânico.

Já existem na literatura científica alguns ensaios clínicos demonstrando o efeito benéfico do ácido clorogênico em doses farmacológicas entre 300 e 1.000 mg/kg, conforme informa Matos. “Mas os estudos são com poucos pacientes e muitas vezes não são bem controlados”, pondera. É indispensável, portanto, que novas pesquisas sejam realizadas para que tais achados sejam confirmados.

Para que um tratamento para a doença de Alzheimer à base de ácido clorogênico, seja ele uma droga ou um fitoterápico, chegue ao mercado, ainda são necessários vários anos de testes em diferentes fases com voluntários. É o que esclarece a coordenadora da pesquisa. “Esses testes, reforça, são caros e despertam pouco interesse da indústria farmacêutica”, reconhece.

O trabalho ganhou menção honrosa no 48º Congresso da Sociedade Brasileira de Imunologia: NeuroImmunology 2024.

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Nossa Ciência, com informações da Agência UFC

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